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Ameaçado de despejo, Teatro de Contêiner, na Luz, ainda não sabe para onde vai; Nunes dá prazo até quinta


Teatro de Contêiner Mungunzá

Reprodução

Considerado referência cultural na cidade de São Paulo, o Teatro de Contêiner Mungunzá, na região da Luz, foi alvo de nova ordem de despejo emitida pela gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB). O prazo para desocupação termina nesta quinta-feira (21), mas a companhia ainda não sabe para onde vai.

O terreno pertence à prefeitura e está localizado entre as ruas General Couto Magalhães, dos Gusmões e dos Protestantes, em Campos Elíseos — área antes conhecida pelo muro que cercava a Cracolândia.

Na notificação, enviada em 6 de agosto, o subprefeito da Sé, Marcelo Vieira Salles, afirma que o prazo é "improrrogável sob pena da implementação da gradação coercitiva". O impasse entre a gestão municipal e o grupo se arrasta desde agosto de 2024.

👉 Montado em um complexo de contêineres com paredes de vidro, o espaço recebe espetáculos de teatro, música e dança, sendo considerado referência nacional e internacional pela inovação arquitetônica. O equipamento foi fundado em 2016.

Procurada, a prefeitura afirmou que já ofereceu duas alternativas de terreno para os representantes do teatro e que mantém o diálogo aberto. Além disso, o terreno será usado para moradia popular. (Leia mais abaixo.)

Segundo os representantes da companhia, as ofertas de imóveis da gestão municipal não atendem as especificações técnicas para receber a infraestrutura do Teatro de Contêiner em razão da dimensão do terreno, localização e insalubridade.

Uma das alternativas apresentadas pelo município, por exemplo, foi o imóvel localizado na Rua Helvétia, encurralado entre a alça de acesso ao Minhocão e a Transmissora de Energia Central Paulistana S.A.

Nesse terreno, há ruído alto e intermitente por conta da subestação de energia e do enorme tráfego de veículos. Isto é, não seria possível desenvolver as atividades do teatro.

Os gestores do Teatro de Contêiner também pontuam que já possuem um cronograma de apresentações e eventos até o final de dezembro, como a 41ª edição do Programa Municipal de Fomento ao Teatro, financiado pela própria prefeitura.

Lucas Beda, um dos gestores do Teatro de Contêiner, explica que não é possível a realocação imediata do teatro, por isso eles solicitaram à gestão Nunes a prorrogação do prazo de desocupação por mais 120 dias.

“Estamos com três convênios junto ao poder público em andamento. São mais de 60 apresentações agendadas para esse ano, dois festivais em andamento, centenas de trabalhadores envolvidos. Receberemos, até o final do ano, mais de 1.500 alunos de escolas públicas de diversos lugares da cidade para assistirem às apresentações artísticas que acontecerão aqui. O que faremos com tudo isso?", desabafa Beda.

O Ministério da Cultura também enviou um ofício à prefeitura solicitando a prorrogação do prazo por mais 180 dias para o Teatro de Contêiner — definido como "um dos espaços cultuais mais pujantes da cidade de São Paulo e do Brasil" — encontrar um novo lar.

"A adequada preservação de todos esses bens exige planejamento técnico e logístico para sua desmontagem, transporte e reestruturação. Nesse sentido, o prazo de 15 dias mostra-se absolutamente inexequível, uma vez que não garante a integridade do equipamento e de seus bens, impondo prejuízos irreparáveis tanto ao grupo responsável quanto à sociedade", explicam os gestores do teatro em resposta enviada à prefeitura.

A campanha contra o despejo recebeu apoio de nomes importantes, como a atriz Fernanda Montenegro. Em junho, ela publicou uma carta aberta nas redes sociais, na qual destacou a relevância da companhia.

Peço, com muita esperança, Sr. Prefeito, que o senhor repense o fechamento, o despejo do 'Teatro de Contêiner Mungunzá', na Rua dos Gusmões, 43, Bairro Santa Ifigênia, onde, como base, esse Grupo já ocupa esse endereço faz 08 anos. Trata-se de uma companhia de teatro altamente criativa. São 17 anos de atividades. Mais de 4.000 projetos realizados, tendo como base esta sede nesse bairro. É uma companhia teatral fundamental em São Paulo e no Brasil. O 'Teatro de Contêiner Mungunzá', permanecendo nesse endereço na cidade de São Paulo, é um sinal de renascimento desse bairro. Um espaço de comunhão humana.

O que diz a prefeitura

Em junho, a prefeitura havia anunciado que vai construir um conjunto habitacional no terreno onde ficava o chamado "fluxo" de usuários da Cracolândia, no Centro de São Paulo.

O projeto prevê a demolição de um prédio deteriorado e a transferência da sede do Teatro de Contêiner para a construção de duas torres de apartamentos, num projeto entre Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo (COHAB) e Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU).

Procurada nesta terça-feira (19), a gestão municipal informou que "já ofereceu duas alternativas de terrenos para os representantes do teatro de Contêiner Mungunzá, sendo que o mais recente, na Rua Helvétia, tem cerca de mil metros quadrados, o triplo da área ocupada atualmente pelo teatro".

"O canal de diálogo continua aberto para a transferência do teatro a fim de dar início ao processo de revitalização da região. O prazo para desocupação do imóvel mencionado encerra-se em 21 de agosto de 2025, às 23h59. A partir disso, a Prefeitura tomará as medidas cabíveis para retomar a área", disse em nota.

A administração também reforçou que já repassou ao teatro mais de R$ 2,5 milhões em apoio.

Projeto da Prefeitura de SP.

Reprodução

Nunes alvo de inquérito

Em junho, o Ministério Público de São Paulo instaurou um inquérito civil para investigar Ricardo Nunes por possível improbidade administrativa na ordem de despejo contra o Teatro de Contêiner Mungunzá e a ONG Tem Sentimento.

Ambos coletivos ficam no triângulo entre as ruas General Couto Magalhães, dos Gusmões e dos Protestantes, no Centro.

Além do prefeito, o secretário de Cultura Totó Parente, a secretária de Direitos Humanos Regina Célia da Silveira Santana e o subprefeito da Sé Marcelo Vieira Salles também são alvos da investigação.

Segundo o promotor de Justiça Paulo Destro, o MP apura possível "desvio de finalidade ou abuso de poder" de Nunes e dos secretários e "a violação de princípios constitucionais da Administração Pública e dano ao erário e ao patrimônio público e social".

A Promotoria também questiona a ausência de diálogo com os coletivos e a possível omissão no reconhecimento do valor cultural do teatro, além de reiterar que é dever da administração pública proteger o patrimônio público e social.

Segundo a prefeitura, serão construídas no terreno ocupado pelos coletivos moradias para pessoas de baixa renda. Contudo, segundo o MP, "não há informações detalhadas sobre o referido projeto pela municipalidade".

Qual a localização dos coletivos

Crocri do terreno em processo da Prefeitura de SP.

Reprodução

O terreno pertence à gestão municipal e está atrelado a uma construção abandonada ligada ao muro que cercava a Cracolândia e à cena de uso da Luz, que está vazia há mais de duas semanas.

Os coletivos ficam no triângulo entre as ruas General Couto Magalhães, dos Gusmões e dos Protestantes.

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