
Beija-flor-de-gravata-vermelha, endêmico do Brasil ilustrada capa do documento
Ministério do Turismo/ Divulgação
Quantas pessoas trabalham com o turismo de observação de aves no Brasil? Quanto esse segmento movimenta? Que incentivos existem para os profissionais da área? E como desenvolver esse mercado em um país que abriga uma das maiores biodiversidades do planeta?
Para responder a essas perguntas, o Ministério do Turismo (MTur) lançou um documento inédito. A bióloga Cecília Licarião atuou como consultora no “Diagnóstico de Políticas Públicas do Turismo de Observação de Aves no Brasil”.
“Eu fui selecionada por meio de um edital público do MTUR em parceria com a Unesco que buscava um profissional com experiência técnica e prática no tema”, explica Cecília.
Cecília Licarião é bióloga e mestre em Ecologia de Recursos Naturais
Arquivo pessoal
O levantamento cruzou diversas fontes de dados: formulários online respondidos por quase todos os estados (mais de 2.600 respostas), informações oficiais do Mapa do Turismo Brasileiro, CADASTUR, Embratur, ICMBio, ABETA, Observatório de Aves, além de entrevistas, reuniões e eventos com representantes do setor. Um trabalho amplo, que envolveu milhares de registros e validações.
Segundo Cecília, a demanda pelo diagnóstico é antiga e surgiu dentro da própria comunidade de observadores de aves. Desde 2013, encontros entre coordenadores de eventos de aviturismo vinham discutindo caminhos para o fortalecimento do setor.
As edições passaram pelo Parque do Zizo (SP), Reserva Ecológica de Guapiaçu (RJ), Parque Natural do Caraça (MG), Aviturismo em Corumbá (MS) e, mais recentemente, o Aviturismo em Cavalcante (GO), onde foi apresentada ao Ministério do Turismo a Carta de Cavalcante, formalizando a existência da comunidade de turismo de observação de aves perante o governo federal.
Diagnóstico contou com respostas de mais de 2.600 participantes
Ministério do Turismo/ Divulgação
O diagnóstico completo, com 116 páginas, está disponível no site do Ministério do Turismo — e um detalhe simbólico chama atenção: todas as fotos de aves incluídas no documento foram feitas por mulheres.
“O diagnóstico é extremamente importante para a gente organizar a casa. É um documento que vai compilar todas as políticas públicas relacionadas ao turismo de observação de aves que já existiu e dar direcionamento de quais são os próximos passos, principalmente relacionadas às políticas públicas que a gente precisar dar para potencializar ainda mais essa atividade no nosso país”, pontua a consultora.
Os resultados revelam um setor promissor, porém ainda pouco profissionalizado. Muitas iniciativas existem, mas grande parte delas não segue as exigências do mercado formal, como o registro no CADASTUR ou a atuação de guias regularizados.
“Eles são excelentes profissionais, entendedores de aves, mas ainda existe uma lacuna importante a ser preenchida no sentido de compreensão do mercado de trabalho. Como se profissionalizar ainda mais , esse é um ponto muito importante que o diagnóstico vai permitir também”, comenta Cecília Licarião.
Diagnóstico aponta que é necessário capacitar mais profissionais para área da observação de aves
Cecília Licarião/Acervo pessoal
Outro ponto identificado pelos especialistas é a falta de compreensão, por parte de gestores públicos, do potencial econômico e conservacionista do turismo de observação de aves. Além de estimular a proteção de áreas naturais, o aviturismo pode gerar renda para comunidades locais — mas isso exige planejamento.
O caminho, segundo o documento, passa por capacitação de condutores, gestão adequada de áreas naturais, melhoria de infraestrutura, comunicação eficiente e boas práticas como controle de acesso, manejo de trilhas e respeito ao comportamento da fauna. O turismo deve ser ferramenta de conservação — e não um impacto adicional.
Documento releva que observação de aves no Brasil precisa se profissionalizar
Cecília Licarião/Arquivo Pessoal
“Eu me sinto extremamente honrada em poder fazer parte desse momento tão importante, obviamente estou aqui enquanto pessoa representando um grupo enorme tanto que esses produtos todos que estamos desenvolvendo juntamente com o MTUR contando com ajuda, com apoio de muitas pessoas que estão na luta há muito mais tempo que eu”, finaliza Cecília Licarião.
O diagnóstico é o primeiro de uma série de produtos da política pública para o setor. Ainda neste mês será lançado o Guia de Boas Práticas de Observação de Aves, no dia 15, durante a COP30 em Belém (PA). Em 4 de dezembro, será apresentado oficialmente o Mapeamento de Atrativos do Turismo de Observação de Aves, em Brasília (DF).
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