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Cláudio Castro lamenta mortes de policiais e diz que megaoperação foi ‘um sucesso’; dois agentes são enterrados no Rio


Cláudio Castro lamenta mortes de policiais e diz que megaoperação foi ‘um sucesso’; dois agentes são enterrados no Rio

As autoridades estaduais de segurança pública apresentaram nesta quarta-feira (29) detalhes do planejamento da ação.

A Polícia do Rio estava preparada para um grande confronto. O secretário de Polícia Militar, coronel Marcelo de Menezes, disse que, desde o início, o plano era encurralar os traficantes para que eles deixassem as comunidades em direção à área de mata fechada que divide os complexos da Penha e do Alemão. Assim, se houvesse confronto, haveria menos risco de atingir a população.

“O que a gente traz de diferente nessa operação foi a incursão de tropas do Bope na área mais alta da montanha da Serra da Misericórdia, que divide esses dois complexos, criando o que a gente chamou de ‘muro do Bope’. Fazendo com que os marginais fossem empurrados, através das nossas incursões, para essa área mais alta. E isso tinha um objetivo claro: proteger a população de bem que mora naquela região”, afirma o coronel Marcelo de Menezes, secretário de Estado de Polícia Militar.

As autoridades do Estado do Rio afirmam que, com exceção dos quatro policiais, todos os mortos eram bandidos a serviço da facção criminosa, porque morreram no meio da mata em situação de confronto. Os mortos eram do baixo escalão do tráfico, responsáveis por conter o avanço da polícia enquanto os chefes escapavam para outras áreas.

O bandido de mais alto escalão preso pela polícia foi o traficante Thiago do Nascimento Mendes, o Belão. Ele é considerado braço direito de Edgard Alves de Andrade, o Doca, um dos maiores chefes da facção, que está foragido. Também foi preso um dos operadores financeiros do Comando Vermelho, Nicolas Fernandes Soares.

Nesta quarta-feira (29), a polícia confirmou que prendeu 33 bandidos de fora do Rio de Janeiro, que integram a facção na Bahia, no Amazonas, em Pernambuco e no Ceará. O secretário de Polícia Civil do Rio, Felipe Cury, falou sobre a operação:

“A operação de ontem foi o maior baque que o Comando Vermelho, em toda a sua história, já tomou. Desde a sua fundação lá no final da década de 1970. Nunca houve uma ação que desse um impacto baque grande, nem em 2010, na ocupação do Alemão, o Comando Vermelho tomou um baque tão grande, com a perda tão grande de armas, de drogas e, principalmente, de lideranças”.

Os corpos começaram a ser identificados nesta quarta-feira (29), mas nenhum nome foi divulgado ainda. O secretário disse que os mortos usavam roupas de combate, como botas e fardas camufladas. Ele exibiu um vídeo que mostra um dos corpos tendo a roupa cortada ao chegar à Praça São Lucas.

“Nós temos imagens deles todos paramentados com roupas camufladas, com colete balístico, portando essas armas de guerra aqui. Aí apareceram vários deles só de cueca ou só de short, descalços, sem nada. Então, nós temos imagens de pessoas que retiraram esses corpos da mata e colocaram em via pública, tirando a roupa desses marginais. E, também, é importante mencionar que a Polícia Civil está instaurando um inquérito policial na 22ª DP da Penha para investigar essas pessoas pelo crime de fraude processual”, afirma Felipe Cury.

Cláudio Castro lamenta mortes de policiais e diz que megaoperação foi ‘um sucesso’; dois agentes são enterrados no Rio

Jornal Nacional/ Reprodução

O governador do Rio, Cláudio Castro lamentou a morte de quatro policiais e disse que a operação foi um sucesso:

“A gente foi e fez a nossa operação. Foi um sucesso ontem. Tirando a vida dos policiais, o resto, a operação foi um sucesso. A gente não fica aqui chorando, a gente fica aqui trabalhando”.

Durante o pronunciamento, o governador elogiou a Polícia Federal, citando especialmente o superintendente da corporação no Rio, Fábio Galvão:

“Tenho até que fazer uma justiça aqui, sobretudo para a PF, e eu vou nominar o meu elogio ao novo superintendente do Rio, o Galvão. Ele, desde que entrou, tem procurado, sobretudo a Polícia Civil, tem feito um grande trabalho. A vontade da PF é muito grande de colaborar conosco”.

Em Brasília, o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, e o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, falaram nesta quarta-feira (29) sobre a operação. Andrei Rodrigues disse que a PF foi informada de que haveria uma ação das polícias do Rio. Só a data é que não foi comunicada:

“Houve um contato anterior do pessoal da inteligência da Polícia Militar com nossa unidade do Rio de Janeiro para ver se haveria alguma possibilidade de atuarmos em algum ponto nesse contexto. A partir da análise do planejamento operacional, a nossa equipe entendeu que não era uma operação razoável para que a gente participasse”.

“Olha, a comunicação entre governantes, entre o governador de estado e o governo federal tem que se dar no nível das autoridades de hierarquia mais elevada. Então, essa operação, uma operação deste nível, deste porte, não pode ser acordada em segundo ou terceiro escalão. Então, se fosse uma operação que exigisse a interferência do governo federal, o presidente da República deveria ser avisado, ou o vice-presidente que estava respondendo pela Presidência, ou o ministro da Justiça e Segurança Pública, ou o próprio diretor-geral da Polícia Federal”, afirma o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski.

No fim do dia, a Polícia Federal divulgou uma nota acrescentando que o assunto foi tratado no âmbito regional, ou seja, só na superintendência da PF no Rio, não havendo encaminhamento formal à direção-geral ou ao Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Na noite desta quarta-feira (29), o Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro negou que tenha participado da operação. O procurador-geral de Justiça reafirmou que vai cumprir o dever de fiscalizar a operação, mas lembrou que o Ministério Público foi quem fez a denúncia contra os traficantes e que participa do esforço para trazer segurança ao Rio.

“Então, não há nenhum estranhamento no fato de haver uma aproximação entre os órgãos do estado objetivando alcançar um fim comum, que é de atender a sociedade, que é de devolver para a sociedade o mínimo de segurança”, diz Antônio José Campos Moreira, procurador-geral de Justiça do MPRJ.

Cláudio Castro lamenta mortes de policiais e diz que megaoperação foi ‘um sucesso’; dois agentes são enterrados no Rio

Jornal Nacional/ Reprodução

Os dois PMs que morreram na operação vão ser enterrados nesta quinta-feira (30). O sargento Cleiton Serafim Gonçalves estava há 17 anos no Bope, a elite da Polícia Militar. Foi levado com vida ao hospital, mas não resistiu. O sargento Heber Carvalho da Fonseca também era do Bope. Ele chegou a mandar mensagem para a esposa Jéssica durante a operação, dizendo:

“Estou bem, continua orando”.

Ela pediu cuidado e seguiu tentando contato, mas o marido não respondeu mais. O PM deixa uma filha, e a mãe pergunta:

“E agora, o que vou falar para a Sofia?”.

Nesta quarta-feira (29) foram enterrados os dois policiais civis. De acordo com o planejamento, os dois estavam na linha de frente, contendo os bandidos que tentassem deixar a área de mata fechada. Marcos Vinícius Carvalho, conhecido como Máskara, tinha mais de 20 anos de experiência na polícia, inclusive em grandes operações e confrontos. Ele foi baleado na cabeça e não resistiu. Rodrigo Cabral era novato. Fazia só 40 dias que ele era policial.

Nesta quarta-feira (29), no enterro, Débora Velloso, a mãe de Rodrigo, lembrou a última vez em que conversou com o filho:

“Domingo. ‘Mãe, eu vou aí mais tarde. Eu te amo!’. Eu também te amo, meu filho. Foi a última palavra do meu filho e, hoje, eu vou enterrar ele”.

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