
No dia 9 de setembro, um bombardeio de Israel em Doha, a capital do Catar, abria as portas para a mudança de postura do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a guerra em Gaza. Naquele dia, o governo de Israel afirmou ter realizado um ataque contra chefes do grupo terrorista Hamas na capital do Catar.
Foi justamente este ataque que levou Trump a pressionar Israel pelo fim da guerra no enclave palestino, como explicaram o historiador João Miragaya e o professor Tanguy Baghdadi no episódio desta sexta-feira (10) do podcast O Assunto.
"[O ataque] formou de maneira quase imediata uma coalizão entre os países árabes e muçulmanos do Oriente Médio, que pressionaram Trump para que ele colocasse um freio em Israel", afirmou Miragaya na conversa com Natuza. OUÇA A PARTIR DO MINUTO 7:03.
Israel e grupo terrorista Hamas aceitam implementar primeira etapa do plano de paz
Mestre em História pela Universidade de Tel-Aviv e assessor do Instituto Brasil-Israel, Miragaya relembra que o Catar foi a quinta nação soberana atacada por Israel desde os atentados terroristas do Hamas de outubro de 2023.
"Mas foi a primeira vez que se tratava efetivamente de um aliado dos EUA", explica.
"É muito possível que a gente não tivesse vendo o cessar-fogo acontecer agora, não fosse o ataque israelense ao Catar", diz Miragaya.
O historiador diz que o ataque provocou um alinhamento até entre países que tem relação conturbada, como é o caso de Catar e Arábia Saudita.
O Catar é um aliado estratégico dos EUA no Oriente Médio. O país abriga a maior base militar dos EUA na região e atua como um interlocutor importante para os interesses americanos no Oriente Médio.
Professor de Política Internacional e apresentador do podcast Petit Journal, Tanguy explicou no podcast a importância do Catar para os EUA. "O Catar é um país com uma pegada mais religiosa no governo, tem ligações com grupos relacionados à irmandade muçulmana, por exemplo, e que permite, portanto, que indiretamente os Estados Unidos tenham acesso a determinados grupos que normalmente não conseguiria acessar", como é o caso do Hamas.
Tanguy destaca uma nota publicada pelos EUA após o ataque israelense ao Catar, dizendo que um ataque ao território do país seria considerado como um ataque aos interesses americanos no Oriente Médio. "Isso diz muito sobre a maneira pela qual os EUA enxergam qualquer tipo de ameaça", afirma o professor.
"[O Catar] é um parceiro tradicionalista, muito importante, inclusive tem uma base aérea muito importante dos EUA ali no Catar", relembra Tanguy.
Negociações entre Israel e o grupo terrorista Hamas sobre o conflito em Gaza foram feitas no Catar - em setembro, o líder do Hamas estava no país justamente para participar de negociações sobre o a guerra.
No mesmo dia do ataque israelense ao Catar, Donald Trump usou uma rede social para dizer que a ordem do ataque partiu do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.
"Bombardear unilateralmente o Catar, uma nação soberana e aliada próxima dos Estados Unidos, que está trabalhando arduamente e corajosamente assumindo riscos conosco para negociar a paz, não promove os objetivos de Israel ou dos Estados Unidos. No entanto, eliminar o Hamas, que lucrou com a miséria dos que vivem em Gaza, é um objetivo nobre. Acredito que este lamentável incidente pode servir como uma oportunidade para a paz", escreveu Trump na ocasião.
O acordo de paz entre Israel e Hamas
Palestinos, que foram deslocados para a parte sul de Gaza, caminham por uma estrada passando por prédios destruídos enquanto tentam retornar ao norte após um cessar-fogo entre Israel e o Hamas em Gaza entrar em vigor, em 10 de outubro de 2025.
Reuters/Mahmoud Issa

