Donald Trump manda demitir diretora do banco central americano
O presidente Donald Trump tomou uma decisão inédita na história dos Estados Unidos. Ele interferiu no princípio de independência do Federal Reserve, o banco central americano, ao mandar demitir uma integrante do conselho diretor. Mas o banco disse não.
A decisão de Donald Trump teve como alvo apenas Lisa Cook, mas pode atingir em cheio a credibilidade da maior economia do mundo.
A independência do Fed, o banco central americano, é um pilar do sistema financeiro do país. A lei de 1913, que criou a instituição, limitou o poder do presidente de remover os conselheiros e o presidente do banco: demissão só por justa causa.
O objetivo é proteger a definição da taxa de juros da pressão política. E que pressão. Desde que assumiu o segundo mandato, em janeiro, Donald Trump criticou e pressionou o Fed diversas vezes para que cortasse a taxa de juros.
Em junho, Trump disse que o presidente do banco central, Jerome Powell, era muito lento, o chamou de “idiota”. E, numa rara visita à sede do Fed, os dois se desentenderam sobre os gastos da reforma do prédio.
Qual é a razão de tamanha ira do presidente americano? A taxa de juros dos Estados Unidos está em um patamar considerado alto para os padrões do país, num intervalo entre 4,25% e 4,5%. Ela não cai desde dezembro de 2024, logo depois da eleição de Donald Trump.
O Fed está preocupado com as decisões do governo na economia. Trump colocou o pé no acelerador dos gastos, e ainda não se sabe quais serão os efeitos da guerra tarifária nos preços para o consumidor americano.
O presidente elegeu agora Lisa Cook como alvo, a primeira mulher negra a ocupar um dos sete assentos do conselho de diretores do banco central. Ela foi indicada em 2022, no governo de Joe Biden. Trump acusa Cook de fraudar documentos de financiamento imobiliário. O Departamento de Justiça afirmou que pretende investigar o caso.
A gestão de Donald Trump tem usado acusações semelhantes contra outros adversários políticos. Lisa Cook reagiu. Num comunicado, disse que não vai renunciar e que não há justa causa para a demissão.
O Fed defendeu que os mandatos dos conselheiros do banco são vitais para assegurar as decisões monetárias do país. Disse que vai continuar agindo em consonância com a lei e prometeu respeitar a decisão da Justiça. O presidente Trump também disse que vai respeita a decisão do judiciário.
O líder da oposição no Senado, o senador Chuck Schumer, disse em rede social que esse é apenas o último jogo partidário de Donald Trump para interferir na economia a favor de seus doadores bilionários e às custas dos americanos que trabalham duro.
O Fed avalia os sinais da economia, principalmente dois: inflação e emprego. Se a economia estiver aquecida, com pleno emprego, muito consumo e a inflação aperta, os preços sobem. É quando o Fed pisa no freio e aumenta a taxa de juros. Agora, se a economia desacelera, o consumo sobe, o desemprego cai, está na hora do Fed pisar no acelerador e baixar a taxa de juros. O problema é que os sinais andam meio trocados, diante de tanta incerteza na economia americana.
Na sexta-feira, Jerome Powell sinalizou que o Fed está de olho nos dados do emprego. O mercado de trabalho vem desacelerando, e pode ser a hora de retomar os cortes na taxa de juros na próxima reunião do comitê, em setembro.
Diante de tanta incerteza, o economista Atakan Bakiskan avalia que a confiança do investidor nos Estados Unidos já caiu, o que é visível com a desvalorização do dólar ao longo do ano. E faz um alerta: pode cair ainda mais com as ameaças à independência do Fed.
Trump toma decisão inédita na história dos EUA ao determinar demissão de diretora do Banco Central americano
Reprodução/TV Globo