Foto de arquivo de 28/03/2023 do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL- SP) em sessão da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) da Câmara dos Deputados, em Brasília (DF).
WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO
O deputado Eduardo Bolsonaro ignora apelos de aliados para que diminua o tom e dobrou a aposta nesta quarta-feira (24) após partir para o confronto direto com senadores que articulam para conter os efeitos das tarifas de 50% contra o Brasil anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
O parlamentar também rompeu a trégua e atacou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que é o principal nome da direita para herdar o capital político de Jair Bolsonaro, hoje inelegível. A razão? A aliança do governador com o MBL, grupo bastante crítico aos Bolsonaro. No Palácio dos Bandeirantes, a ordem é não reagir.
Dois dias antes, na segunda-feira (22), Eduardo havia revelado ter participado das reuniões, com autoridades americanas, que antecederam a taxação de 50% sobre produtos brasileiros.
Eduardo Bolsonaro defende taxação de produtos brasileiros pelos Estados Unidos
A admissão veio após a operação da Polícia Federal que impôs medidas cautelares ao ex-presidente Jair Bolsonaro, incluindo o uso de tornozeleira eletrônica, e colocou o deputado no centro de uma crise política com repercussões diplomáticas.
Ao agir assim, contrariou setores pragmáticos da oposição, que buscavam evitar o desgaste causado pela ala bolsonarista radical do partido que defendeu Trump e, também, dar munição ao governo Lula contra Bolsonaro.
Deputados do PL erguem bandeira em homenagem a Trump com lema 'Make America Great Again' em 23 de julho de 2025.
Reprodução/ TV Globo
A oposição tenta, desesperadamente, descolar de si as ações de Trump contra o Brasil, mas sem sucesso, até agora.
De acordo com uma pesquisa Quaest, divulgada em 16 de julho, 84% dos entrevistados disseram que governo e oposição deveriam se unir em defesa do país. Outros 72% acham que o governo Trump está errado ao taxar o Brasil em defesa do ex-presidente Bolsonaro, que é réu no processo da tentativa de golpe de Estado. (Saiba mais sobre a pesquisa)
A insistência em defender Donald Trump, mesmo diante da crescente percepção de interferência externa em decisões que impactam a economia brasileira, acentuou a crise.
Tentativas de aliados de Eduardo no Congresso de preservar o mandato dele foram enfraquecidas pelo próprio Eduardo, que parece optar por manter o alinhamento ideológico arriscando a própria sobrevivência política — e a do pai.
O resultado foi a formação de um raro consenso entre o Palácio do Planalto e líderes do Congresso: ambos passaram a ver a atuação do governo Trump como um ataque à soberania nacional, bandeira que unifica setores à esquerda e à direita quando há percepção de ameaça externa.