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Ex-delegado-geral da Polícia Civil executado no litoral atuou há mais de 20 anos na prisão de Marcola e no combate ao PCC


Ruy Ferraz Fontes foi executado a tiros em Praia Grande, SP

Prefeitura de Praia Grande e Reprodução

O ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Ruy Ferraz Fontes, de 68 anos, assassinado a tiros na tarde desta segunda-feira (15) em Praia Grande, no litoral paulista, atuou há mais de 20 anos na prisão de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, e no combate ao Primeiro Comando da Capital (PCC) no estado.

As autoridades ainda não sabem quem matou o ex-delegado e qual foi o motivo do crime. Duas hipóteses estão sendo consideradas no momento para explicar o homicídio de Ruy:

Vingança do PCC em razão da atuação histórica da vítima contra os chefes da facção;

Reação de criminosos contrariados pela atuação dele à frente de Secretaria de Administração da Prefeitura de Praia Grande.

O atual delegado-geral, Arthur Dian, deixou a capital paulista e foi para o litoral para participar das investigações iniciais.

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Câmeras de segurança gravaram o momento em que criminosos em um carro perseguem o veículo da vítima, que bate em um ônibus. Em seguida, o grupo desembarca do automóvel e atira em Ruy (veja vídeo nesta reportagem).

Delegado Ruy Ferraz Fontes é executado a tiros em Praia Grande, SP

A morte de Ruy foi confirmada pela Prefeitura de Praia Grande, onde ele comandava a pasta de Administração desde 2023. Antes, no entanto, ele foi uma das autoridades mais atuantes diante da facção criminosa e de seu chefe, Marcola.

"Estou em choque, fui o último a falar com ele [por telefone]", disse ao g1 Marcio Christino, ex-promotor que atuou no combate à facção e seus chefes, no início dos anos 2000, com Ruy, que à época era delegado no Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), na capital paulista. Atualmente, Christino é procurador de Justiça.

Christino chegou a mencionar a atuação de Ruy como delegado contra o Primeiro Comando da Capital no livro "Laços de sangue: A história secreta do PCC", que escreveu com o jornalista Claudio Tognolli. Foram mais de 40 anos como policial.

Ruy comandou a Polícia Civil paulista entre 2019 e 2022, quando foi indicado pelo então governador João Doria, à época no PSDB. Ele também atuou no Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), no Departamento Estadual de Investigações contra Narcóticos (Denarc) e no Departamento de Polícia Judiciária da Capital (Decap).

"[Ruy] foi uma das pessoas que prendeu o Marcola ao longo da história do PCC, que esteve passo a passo nesse enfrentamento ao PCC, e ser executado dessa maneira. Isso mostra, infelizmente, o poderio do crime organizado, a falta de controle que o crime organizado tem dentro do Brasil, dentro do estado de São Paulo. É uma ação extremamente ousada", disse Rafael Alcadipani, professor da Faculdade Getulio Vargas e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Formado em direito pela Faculdade de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, Ruy se tornou delegado depois e começou a investigar o PCC no início dos anos 2000. Quando esteva no Deic, participou das prisões de alguns dos chefes da facção, incluindo Marcola, por tráfico de drogas, formação de quadrilha e outros crimes relacionados ao grupo criminoso.

Ex-delegado-geral de SP é assassinado no litoral de SP

Em 2006, ele e sua equipe de policiais indiciaram Marcola e a cúpula do Primeiro Comando da Capital.

Segundo Christino, ele, Ruy e todas as autoridades, sejam elas do MP ou da polícia que atuaram no combate à facção, já foram ameaçadas antes pelo PCC. "Ele [Ruy], eu e todos que trabalharam naqueles casos, inclusive nos ataques de 2006."

Criminosos fogem após executar o delegado Ruy Ferraz Fontes no litoral de São Paulo

Reprodução

Em 2006, ordens do PCC de dentro das cadeias determinaram uma série de ataques contra agentes de segurança pública devido à decisão do governo paulista de transferir as lideranças da facção, incluindo Marcola, para o presídio de segurança máxima de Presidente Venceslau, no interior do estado.

Indagado se Ruy lhe contou se estava recebendo ameaças recentemente, Christino respondeu que "não".

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública informou que "lamenta, com profundo pesar, a morte do delegado Ruy Ferraz Fontes, ocorrida nesta segunda-feira (15), em Praia Grande, vítima de um atentado no bairro Vila Mirim".

Já o secretário da SSP, Guilherme Derrite, afirmou, em suas redes sociais, que determinou a criação de uma força-tarefa "com prioridade definida pelo gov. Tarcísio, para prender os criminosos" e que o procurador-geral de Justiça ofereceu o apoio do Gaeco.

Infográfico - Dr. Ruy Ferraz é morto a tiros em praia Grande

Arte/g1

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