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Familiares cobram respostas sobre morte de pintores em caixa d'água no AC: 'Dois meses carregando essa angústia'


Familiares cobram respostas sobre morte de pintores dentro de caixa d'água em condomínio

"Não tenho palavras para explicar, queria que tudo isso acabasse. Se eu pudesse me enterrava vivo para não passar por isso. É uma coisa que não dá para explicar: o sentimento da perda de um ente querido que você ama muito".

As palavras emocionadas são do autônomo Dionelio Oliveira, pai do pintor Diony Magalhães, de 22 anos, que morreu junto com Ruan Roger da Silva Barbosa, de 32 anos, de asfixia seguida de afogamento em uma caixa d'água, em Rio Branco, no dia 12 de junho no Condomínio Via Parque.

Após dois meses, os familiares dos trabalhadores reclamam da falta de assistência da empresa para qual os rapazes trabalhavam e da demora na conclusão do laudo do Instituto Médico Legal (IML).

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A direção do Instituto Médico Legal (IML) informou à Rede Amazônica Acre que aguarda resultados de exames complementares. Em nota, o Condomínio Via Parque disse que acompanha o caso e colabora com as autoridades. A reportagem não teve resposta da empresa terceirizada Pimentel Engenharia.

A suspeita é que as vítimas tenham inalado vapores tóxicos da tinta usada para pintar o reservatório que, no momento do acidente, tinha cerca de um metro de água.

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Em entrevista à Rede Amazônica Acre, os familiares das vítimas afirmaram que o documento é essencial para esclarecer os fatos do acidente. Entretanto, ainda não há uma previsão para ser liberado.

"Foi como se o mundo tivesse acabado para mim. O sentimento que tenho hoje é de falta de esclarecimento, é o que mais dói. Não estão demonstrando sentimento nenhum pela vida dele. Eram humanos. Uma vida vale quanto hoje?", questionou o pai de Diony.

Diony Magalhães morreu em junho e pai fala da dor da perda do filho

Reprodução

Denise Oliveira, tia do pintor, revelou que a família buscou ajuda de um advogado para tentar agilizar os processos.

"Já estamos há dois meses carregando essa angústia, essa dor da perda do meu sobrinho. E nem a empresa nem o condomínio prestaram nenhum tipo de esclarecimento. Corremos atrás do resultado da perícia que foi feita e, por lá, soubemos que nem chegaram a mexer nos exames dele. Tive que procurar um advogado para esclarecimentos", criticou.

Corpos começaram a ser retirados da caixa d'água após às 18h30 de 12 de junho

Arquivo pessoal

Sem resposta

A família de Ruan Roger da Silva Barbosa diz que a dor da perda é intensificada pela falta de respostas. A mãe dele , Elizângela Santos, que sofre de pressão alta, diz que só consegue dormir com medicação, perdeu o apetite e não consegue trabalhar.

Ruan deixou filhos, esposa, o avô e um vazio enorme no coração da família.

"É muito difícil falar do Ruan. Meu filho ia para um lugar daquele sem nenhum equipamento, tudo difícil. Estou sofrendo demais e queria justiça para que outra mãe não venha chorar e passar pelo o que estou passando. Minha vida parou, não consigo trabalhar", lamentou.

Elizângela fez um apelo as autoridades."Peço ao Ministério Público que entre com bastante atenção, quem está pedindo é uma mãe desesperada.Por que as autoridades que fiscalizam esse trabalhos não fazem melhor [a fiscalização]? Foi uma vida tirada, o que custa coloca os equipamentos certos, colocar uma pessoa para fiscalizar", criticou.

Pintor que morreu em caixa d'água faz manutenção dois dias antes com EPI no AC

Trabalhadores não tinham EPI

Na época, a empresa disse ao Corpo de Bombeiros que os trabalhadores usavam equipamentos de segurança no momento do acidente. Mas, segundo os familiares, os dois não usavam nenhum equipamento.

O pintor que sobreviveu ao acidente, José Coutinho, confirmou que eles estavam sem Equipamento de Proteção Individual (EPI) no momento do acidente. De acordo com ele, a suspensão do uso se deu por conta das más condições do material entregue.

"Passaram equipamentos pra nós, mas a gente tirava porque entupiam os filtros e ficava mais difícil de respirar lá dentro", reafirmou.

José conta como acidente aconteceu

Reprodução/Rede Amazônica Acre

MTE segue apurando o caso

Segundo o superintendente do Ministério Público do Trabalho, Leonardo Lani, os fiscais notificaram os empregadores logo após o acidente. A investigação sobre as causas segue em andamento, com prazo de até quatro meses para conclusão. Se for comprovada negligência, a empresa poderá ser multada e responder a processos na justiça.

"Caso seja apurada a negligência da empresa responsável no cumprimento das Normas Regulamentadoras de Segurança e Saúde no Trabalho, serão lavrados os respectivos autos de infração e encaminhados relatórios para o Ministério Público do Trabalho para estabelecimento de um possível termo de Ajustamento de Conduta e para a Advocacia-Geral da União, caso seja necessário ajuizamento de ação regressiva para recuperar eventuais valores que vierem a ser despendidos pelo INSS, a título de pensão por morte", esclareceu.

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