
Fórmula 1: conheça a rã que 'imita' som dos carros de corrida
Neste fim de semana, o Brasil recebe o GP de São Paulo de Fórmula 1, no Autódromo Internacional José Carlos Pace, em Interlagos, entre os dias 7 e 9 de novembro, uma das corridas mais aguardadas pelos fãs do automobilismo.
A capital paulista se transforma em ponto de encontro para pessoas de todas as partes do país e também do exterior, que se reúnem para ver de perto a potência dos motores, a velocidade dos carros e as reviravoltas que esse circuito costuma proporcionar, seja sob sol forte ou com a pista encharcada pela chuva.
Mas, enquanto os pilotos aceleram na zona sul de São Paulo, outro som muito parecido ecoa a centenas de quilômetros dali, no coração do Pantanal. Longe do asfalto, quem faz barulho é a rã-Fórmula-1 (Physalaemus albonatatus), um pequeno anfíbio de poucos centímetros, cujo canto lembra o ronco de um carro de corrida cortando a pista.
Com cerca de 2 a 3 centímetros, essa pequena espécie é encontrada no Pantanal
Bruno R. Möller / iNaturalist
Com cerca de 2 a 3 centímetros, essa pequena espécie é encontrada no Pantanal e é bastante comum por lá. Apesar do tamanho discreto, seu canto é tudo, menos tímido. O som emitido pelos machos durante o período reprodutivo é tão marcante que muitos pesquisadores e moradores locais o comparam ao de um motor acelerando – e foi assim que o animal ganhou seu apelido curioso.
“Essa vocalização é feita pelos machos, exclusivamente, principalmente para atrair fêmeas”, explica Felipe Toledo, professor titular do Instituto de Biologia da Unicamp.
“Ela pode ter uma função secundária, como repelir outros machos, mas fundamentalmente é para atração de parceiros sexuais.”
O canto é conhecido entre os biólogos como “canto de anúncio”. Segundo Toledo, cada espécie do mesmo gênero possui um som próprio, mas algumas – como a Physalaemus marmoratus – produzem vocalizações que lembram o barulho de um carro rasgando as pistas também. É justamente esse som característico que ajuda os pesquisadores a identificar a espécie e entender melhor seu comportamento.
Além do nome “rã-Fórmula-1”, o animal também é chamado, em algumas regiões, de rã-chorona.
birdernaturalist / iNaturalist
Além do nome “rã-Fórmula-1”, o animal também é chamado, em algumas regiões, de rã-chorona, outro apelido que evidencia como sua sonoridade marcante desperta a curiosidade popular.
Para o professor Toledo, nomes como esses são importantes para informar, já que muitas pessoas nem sabem que se trata de um anfíbio, e ajudam a aproximar o público da natureza, despertando interesse por esses animais.
No Brasil, há mais de 1.300 espécies de anfíbios, mas apenas uma pequena fração delas tem nome popular. Embora a rã-Fórmula-1 não esteja ameaçada de extinção, esse grupo de animais é considerado bastante sensível às mudanças ambientais – o que faz deles bioindicadores importantes sobre a saúde dos ecossistemas.
“Como é uma espécie muito comum, às vezes podemos usá-la como um bioindicador do bioma”, explica o pesquisador.
No Brasil, há mais de 1.300 espécies de anfíbios, mas apenas uma pequena fração delas tem nome popular
typophyllum / iNaturalist
“Será que as populações dessa espécie estão declinando ou estão estáveis? Com esse som tão distinto, podemos gravar e usar as vocalizações para monitorar a espécie e avaliar a saúde do Pantanal, por exemplo.”
A rã-Fórmula-1 apresenta hábitos curiosos. Ela costuma se enterrar no chão de terra ou areia, utilizando pequenas calosidades nas patas traseiras para cavar – e faz isso de ré, um comportamento ainda pouco estudado pelos pesquisadores. Toledo afirma que o animal pode permanecer por meses sob a terra.
Pequena e barulhenta, a rã-Fórmula-1 talvez não dispute espaço nas pistas de Interlagos, mas tem seu próprio “ronco” inconfundível – um lembrete de que a natureza, assim como o automobilismo, também sabe fazer barulho.
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