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Fotógrafo registra cobra d’água predando tilápia em lago próximo à Rio-Santos, em Bertioga


Cobra d’água predando tilápia é vista em lago próximo à Rio-Santos, em Bertioga

Fernando Guiguet

O fotógrafo de natureza Fernando Guiguet capturou uma cena curiosa: uma cobra d’água, identificada como Erythrolamprus miliaris, abocanhando uma tilápia – peixe exótico e comum em lagos artificiais – em um dos lagos à margem da rodovia Rio-Santos, na altura do Parque Caiubura, em Bertioga (SP).

“Fiquei bem surpreso pelo tamanho da boca da cobra e pelo peixe que ela estava tentando engolir. Estava com o peixe entalado e pude fotografar com calma antes que ela terminasse de comer”, conta Fernando, que é juiz de direito em Barueri, mas dedica boa parte do tempo livre à fotografia da fauna brasileira.

“Comecei a fotografar em 2010, parei por alguns anos e retomei com força há cerca de um ano. Meu foco é chamar a atenção para a preservação por meio das imagens”.

O flagrante ganhou ainda mais relevância com o olhar do herpetólogo Willianilson Pessoa, que explica as características da cobra registrada e o comportamento alimentar dessas serpentes aquáticas brasileiras.

A Erythrolamprus miliaris é uma serpente conhecida como cobra d’água, identificada pela variação na coloração, que pode ir do amarelo ao verde

Charles Boufleur/iNaturalist

“A Erythrolamprus miliaris é uma serpente conhecida como cobra d’água, identificada por padrões específicos nas escamas da cabeça e pela variação na coloração, que pode ir do amarelo ao verde e outros tons. Ela é considerada dócil, raramente ataca ou morde e prefere fugir ou se esconder ao sentir a aproximação humana”, explica Willianilson.

“Quando está na água, ela submerge e nada para longe. Quando está na terra, fica imóvel ou se afasta. Apesar disso, sempre recomendamos não manusear serpentes na natureza”, completa o pesquisador.

Alimentação versátil e adaptada

Sobre a dieta, o especialista esclarece que essas cobras se alimentam principalmente de peixes, anfíbios (como sapos e rãs) e até lagartos.

“Elas caçam dentro e fora da água. No caso do flagrante com a tilápia, apesar de ser um peixe exótico, o comportamento da tilápia é semelhante ao das presas nativas que a serpente costuma consumir”.

Cobras d´água se alimentam de peixes, anfíbios (como sapos e rãs) e até lagartos

Fernando Guiguet

Willianilson complementa que o consumo de tilápia não altera o comportamento alimentar da espécie. “Na verdade, pode até funcionar como um controle natural – embora limitado, já que a tilápia se reproduz em grande quantidade”.

Sobre o modo de caça da Erythrolamprus miliaris, o herpetólogo explica que elas geralmente ficam à espreita perto da água, detectam o cheiro das presas com a língua e fazem o bote rápido para capturar peixes ou anfíbios.

“Se o peixe é pequeno, elas caçam dentro da água; para presas maiores, como a tilápia, abocanham na água e levam para fora para terminar de comer”.

Cobras d’água pelo Brasil

Desmistificando a ideia de que cobras d’água vivem exclusivamente em ambientes aquáticos, Willianilson destaca que essas espécies estão presentes em todos os biomas brasileiros, incluindo regiões com pouca água, como a Caatinga.

“Chamamos de cobras aquáticas aquelas que passam parte significativa da vida na água para caçar ou regular a temperatura corporal. Mas elas também vivem em terra, se adaptando às condições locais, mudando a dieta para lagartos e outros animais terrestres quando a água é escassa”, afirma.

“Elas nadam muito bem e têm comportamentos flexíveis, o que permite essa sobrevivência em diferentes ambientes”.

Riscos e curiosidades das serpentes aquáticas brasileiras

Willianilson também comenta que, apesar da maioria das cobras d’água ser inofensiva, há exceções, como a sucuri – uma grande serpente que pode oferecer risco por seu porte – e a coral verdadeira da Amazônia (Micrurus surinamensis), uma serpente peçonhenta que vive na água e em terra.

A coral verdadeira da Amazônia (Micrurus surinamensis) é uma serpente peçonhenta que vive na água e em terra

evancoueron/iNaturalist

“A coral verdadeira é extremamente venenosa e pode morder se pisada, especialmente em poças e igarapés com folhas que a camuflam. Por isso, quem frequenta matas e rios deve usar proteção adequada”, conclui.

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