Ação Griô transforma o ecoturismo em verdadeiras aulas de história
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Fazer um passeio no Parque Estadual da Pedra Branca com Sandro da Silva Santos, 52 anos, vai muito além do turismo. Não se trata apenas de fazer uma trilha ou conhecer um ponto turístico do Rio de Janeiro. Em Vargem Grande, onde ele atua, está localizado o Quilombo Cafundá Astrogilda. E é ali que a visita se transforma em uma imersão profunda me história, ancestralidade e natureza.
Nascido e criado no local, Sandro conhece cada pedacinho do território — e cada detalhe do valor histórico que ele carrega. Ao compartilhar o conhecimento, valoriza o território batizado com o nome da avó, matriarca do quilombo, e leva às pessoas a riqueza das culturas afro-brasileira e indígena, entrelaçadas pela ancestralidade, memória e resistência.
Em 2014, a partir da certificação da comunidade, Sandro criou o Instituto Griô Rio, unindo turismo e pedagogia. Desde então, tem levado os saberes cada vez mais longe, fazendo jus ao nome “griô”: indivíduo que detém a memória de um grupo e funciona como difusor de seus conhecimentos e tradições para a sociedade.
“Faço uma atividade pedagógica e cultural baseada na minha formação, na cultura que vivi, presenciei e vivo até hoje”, explica.
Agente de Defesa Ambiental do Instituto Estadual do Ambiente (INEA-RJ), Sandro também se considera um guardião da floresta. O cuidado com a natureza, no entanto, não está atrelado ao trabalho. É uma relação sagrada que tem o meio ambiente como território vivo, sustento, memória. Mais do que paisagem, é chão que alimenta, cura e ensina.
Para transmitir todos esses saberes, Sandro não anda só. Embora atue como gestor do Griô Rio e guia nas visitas, a imersão só acontece com a participação da comunidade e seus relatos potentes sobre resistência, território e vida.
“Por mais que eu tenha começado, ninguém faz nada sozinho. Minha comunidade está comigo participando. Cada um vai completando o roteiro para entregar uma junção de vários saberes”, destaca.
Ação Griô vai até a sala de aula
Além de receber turmas de estudantes no quilombo, o instituto também leva conhecimento à sala de aula por meio do projeto “Griô vai à escola”. A ação, segundo Sandro, tem apresentado a crianças e adolescentes memórias e histórias que sequer ganhavam espaço nos livros didáticos.
Os avanços não param por aí. Os quilombos e sua importância foram incluídos no conteúdo de Geografia destinado a alunos da quinta série, de toda a rede municipal do Rio. A comunidade Cafundá Astrogilda é um dos exemplos citados no material.
“Minha filha está no quinto ano. Hoje, na sala de aula, ela vai estudar sobre a cultura dela, o trabalho que ela desenvolve, e milhares de crianças que estão no quinto ano vão ter isso dentro de sala de aula. É uma conquista muito grande. É valorizar a cultura, a identidade carioca”, avalia.
Nina, a filha, é considerada um “griôzinho”. Aos 10 anos, ela participa das ações do instituto, dentro e fora de sala de aula, e segue os passos do pai.
Monitora Rios também leva educação ambiental para as salas de aula
Alunos das escolas públicas da Baixada Fluminense participam das ações.
Rio de Agora - Divulgação
Não é apenas os saberes ancestrais que estão ganhando as salas de aula. A responsabilidade ambiental, tema essencial para o presente e o futuro do planeta, ganha cada vez mais espaço nas escolas. Educadores engajados no desenvolvimento sustentável veem na preservação da natureza uma ferramenta didática poderosa.
Nesse contexto, o projeto Monitora Rios — da ONG Onda Verde em parceria com a Águas do Rio — capacita alunos de escolas públicas da Baixada Fluminense (RJ) para atuarem como ‘guardiões’ dos rios que deságuam na Baía de Guanabara. Além de mobilizar as comunidades no entorno e limpar as margens, os estudantes criaram um banco de dados sobre a qualidade da água, que orienta novas ações de recuperação ambiental.
Lançado em junho de 2024, o Monitora Rios envolveu três escolas dos municípios de Nova Iguaçu, Queimados e Japeri. As instituições desenvolveram várias ações, como palestras, oficinas, visitas guiadas e atividades práticas de biodiversidade, gestão de resíduos e ecossistemas aquáticos.
Em nove meses de projeto, as práticas mobilizaram quase 4 mil participantes diretos e indiretos. As ações uniram educadores, estudantes e seus familiares em prol da causa, além do plantio de 124 hortaliças e 85 árvores e o recolhimento de 3,3 mil quilos de resíduos.
O monitoramento da qualidade da água dos rios Queimados, Cabenga e D’Ouro, que passam próximos a essas escolas, também integrou a grade curricular. Com o uso de um Ecokit, os alunos avaliaram a presença de amônia, nitrito, nitrato, ortofosfato, além de avaliar a turbidez, o oxigênio dissolvido, pH e a temperatura.
Os resultados das amostras, colhidas nos mananciais, foram validados pelo Centro de Biologia Experimental Oceanus. Posteriormente, auxiliaram a comunidade escolar na promoção de ações específicas de preservação local.
Os rios atendidos pelo projeto fazem parte do plano de recuperação ambiental da Baía de Guanabara, conduzido pela Águas do Rio. A iniciativa prioriza a recuperação dos mananciais que deságuam na baía, com foco na segurança hídrica.
Entre os investimentos está a construção da primeira Estação de Tratamento de Esgoto de Queimados. A obra integra o projeto de despoluição do Rio Guandu e faz parte de um pacote de R$ 640 milhões em saneamento.
Projeto beneficia a comunidade local
Educação ambiental se soma a currículo adaptado à comunidade.
Rio de Agora - Divulgação
O projeto atende estudantes da faixa etária de 9 a 15 anos de idade, do ensino básico e fundamental. A grade curricular das instituições é focada na educação agrícola, buscando acompanhar o perfil socioeconômico da comunidade, que tem na pecuária, piscicultura e agricultura as suas principais fontes de renda.
Dentre os alunos, estão aqueles cujas famílias são produtoras de cacau, milho, banana e/ou criam gado leiteiro e peixes, entre outros. As ações da escola ganharam o reconhecimento dos moradores locais, que também estão engajados na defesa da biodiversidade da reserva florestal.