
Documentos raros da época da invasão holandesa são restaurados no Recife
Um conjunto de documentos históricos, com quase quatro séculos, reúne registros da época da invasão holandesa a Pernambuco com parte dos dados, até então, inéditos (veja vídeo acima). Os materiais estão sendo restaurados pelo Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano (IAHGP), no bairro da Boa Vista, no Centro do Recife.
Ao todo, são 950 páginas em restauração. O processo de recuperação é minucioso e exige técnica profissional. Dependendo do estado de conservação, as páginas passam por banhos químicos específicos, higienização a vapor ou limpeza com pincel para retirada de impurezas.
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Segundo o restaurador Wellington Silva, o trabalho é delicado e pode levar até uma semana por folha. “Nós encontramos eles [os documentos] ruins, alguns péssimos, e, por conta da tinta ferrogálica, o papel [está] muito ácido, aí está se quebrando todo. [...] Dependendo do estado de conservação, [leva] seis dias, sete dias [para restaurar uma página]”, afirmou.
As partes danificadas são preenchidas com materiais adequados para evitar danos maiores e restaurar a aparência original. O conteúdo foi escrito à mão há cerca de 140 anos, a partir de cópias de registros ainda mais antigos, produzidos no período da ocupação holandesa.
Em uma das páginas, é possível identificar a inscrição: “1634, janeiro a julho, Recife e Olinda”, junto ao selo da época. O material foi trazido ao Brasil pelo advogado, professor, político e historiador pernambucano José Hygino Duarte Pereira. Ele viajou para a Holanda em 1886, em nome do instituto, e retornou no ano seguinte com os manuscritos.
“Se fez uma solicitação à Assembleia, chamada, na época, de Assembleia Provincial, para que houvesse um financiamento para que um dos sócios da casa, o professor José Hygino Duarte Pereira, fosse até os Países Baixos, até a Amsterdã, para copiar e adquirir tudo que ele pudesse encontrar sobre o período holandês em Pernambuco”, contou o presidente do IAHGP, George Cabral.
Documentos da época da invasão holandesa são restaurados no Recife
TV Globo/Reprodução
Ainda segundo o presidente do instituto, a missão permitiu ampliar o acesso às fontes históricas. Os documentos, coletados nos arquivos de Haia, trouxeram novas perspectivas sobre o período da ocupação holandesa, já que os registros se restringiam, até então, às fontes de Portugal.
“Ele [Hygino] traz uma quantidade importante de documentos, manuscritos, copiados, ele adquire também algumas peças de importância para esse período, e, a partir desse momento, se pôde estudar a história do período holandês aqui, também consultando fontes holandesas, porque, até então, só se consultavam as fontes portuguesas, e a gente só tinha um lado dessa história”, afirmou George.
Ao todo, são 13 caixas com o material trazido por Hygino. O Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura) investe R$ 100 mil na restauração e conservação dos documentos de uma delas — a que contém os papéis em situação mais frágil, com relatos do governo de Maurício de Nassau.
Além de restaurar, os especialistas precisam traduzir parte do conteúdo, que está em neerlandês e limburguês, variações do idioma holandês. Hygino iniciou a tradução dos textos, mas morreu em 1901, antes de concluir o trabalho.
A restauradora Célia Salsa explicou que os registros revelam informações importantes sobre o cotidiano da época. “São sentenças judiciais, conseguimos identificar violações contra pessoa humana, contra mulheres. Tudo isso era relatado e registrado nesses documentos”, disse.
A previsão do instituto é de que a restauração seja concluída até o início de 2026. As páginas restauradas serão guardadas individualmente em películas plásticas para garantir a conservação e estarão disponíveis para consulta pública.
Segundo a restauradora e coordenadora de projetos Débora Mendes, o objetivo é ampliar o acesso à pesquisa histórica. “Elas [as páginas] vão ser armazenadas aqui no nosso arquivo, no Instituto Arqueológico, e qualquer pesquisador pode entrar em contato conosco e o material vai estar disponível para a pesquisa”, informou.
Débora Mendes destacou a importância do acervo para o reconhecimento da história local. “A nossa história de Pernambuco precisa ser conhecida a nível nacional, não só o assunto holandês, mas a importância do estado de Pernambuco desde a colonização do período português”, declarou.
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