
Língua da espécie pode ser quase tão grande quanto seu corpo
kratzra / iNaturalist
Imagine um animal do tamanho da palma da mão, com uma língua quase tão longa quanto o próprio corpo e capaz de visitar centenas de flores em uma única noite. Conhecido como morcego-beija-flor, o Glossophaga soricina pode até passar despercebido na escuridão da noite, mas seus serviços de polinização deixam um rastro de flores para trás.
Morcegos nectarívoros como este possuem características marcantes que os diferenciam de outras espécies. Entre elas estão o focinho alongado e a língua comprida, adaptações que garantem eficiência na extração do néctar. Essas vantagens evolutivas permitem acesso exclusivo a determinados recursos florais.
A espécie, no entanto, não é considerada nectarívora estrita, uma vez que complementa sua dieta com insetos e frutas. “Glossophaga soricina não é um nectarívoro exclusivo. Seu rostro e língua são mais curtos quando comparado aos nectarívoros estritos”, explica a pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Brunna Almeida, mestre em Biodiversidade e Biologia Evolutiva pela UFRJ.
Morcegos-beija-flor (Glossophaga soricina) registrados em Poconé (MT)
Gaell Mainguy / iNaturalist
O comprimento operacional da língua dessa espécie pode chegar a 59 milímetros - quase o tamanho médio do corpo, que mede cerca de 64 milímetros. Esse aparato anatômico possibilita que o animal visite centenas de flores em uma única noite, retornando inclusive mais de uma vez à mesma flor.
Apesar de "dividir" o mesmo alimento dos beija-flores, a bióloga alerta para o risco do compartilhamento de bebedouros entre aves e morcegos. "Não sabemos exatamente se as bactérias e fungos presentes na boca dos morcegos podem causar algo nas aves", enfatiza.
Morcego-beija-flor (Glossophaga soricina) registrado no México
jmesar / iNaturalist
Energia imediata
Apesar da habilidade de voar longas distâncias em busca de alimento, os morcegos-beija-flor têm reservas de energia limitadas. “Alguns estudos mostram que a espécie apresenta baixa reserva de energia, tornando-o vulnerável ao jejum. Eles usam quase que imediatamente o açúcar recém-ingerido para voar”, destaca Brunna.
Essa estratégia alimentar também representa uma vantagem adaptativa, já que permite flexibilidade diante da disponibilidade de recursos. “A estratégia alimentar da espécie pode ser uma vantagem adaptativa, evitando recursos escassos, ajustando-se conforme os recursos locais. Ele não é considerado um nectarívoro estrito”, completa a pesquisadora.
Serviços ecossistêmicos
Além de se alimentar do néctar, o Glossophaga soricina presta serviços importantes à natureza. “A espécie executa importantes serviços ecossistêmicos, como polinização de diversas plantas, dispersão de sementes e, em bem menor escala, o controle de insetos”, afirma Brunna.
A pesquisadora ressalta que este morcego não é considerado polinizador específico. “A espécie não é uma polinizadora ‘especialista’ em uma determinada planta e nenhuma planta depende somente dela e ela não depende de uma única planta”.
Indivíduo da espécie registrado em João Pessoa (PB)
joaoabraao / iNaturalist
De ampla distribuição, o morcego-beija-flor ocorre em todos os estados e biomas brasileiros. Fora do país, está presente do México às Guianas, Jamaica, Trinidad e Tobago, Equador, Peru, Bolívia, norte da Argentina e Paraguai.
Globalmente, é classificado como “pouco preocupante” pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). No Brasil, não consta em nenhuma lista nacional de espécies ameaçadas.
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