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MPPB investiga se policiais suspeitos de chacina no Conde ocultaram provas e fraudaram cena do fato


3º episódio da série 'Ele Tinha Envolvimento' mostra ação da PM que matou 5 jovens na PB

O Ministério Público da Paraíba investiga se seis policiais militares cometeram fraude processual e ocultaram provas durante a ação que terminou com a morte de cinco jovens no município de Conde. Cinco dos policiais foram presos na manhã desta segunda-feira (19).

O pedido de prisão temporária leva em conta o depoimento de testemunhas e as conclusões dos laudos periciais, que indicam a possibilidade de homicídio.

“Pode-se considerar que, de fato, o ocorrido em 15 de fevereiro de 2025, nas proximidades da Ponte dos Arcos, no município de Conde, configura a prática de cinco homicídios, não tendo os ocupantes dos dois veículos aparentado qualquer possibilidade de reação”, registra o documento.

O advogado de defesa dos policiais militares, Luiz Eduardo, afirma que os investigados realizavam uma ação de “checkpoint” quando perceberam a chegada de dois veículos e que os ocupantes teriam disparado contra os policiais, que reagiram revidando os tiros. Segundo a defesa, os jovens feridos foram socorridos para a unidade hospitalar, onde acabaram falecendo.

O comandante-geral da Polícia Militar da Paraíba, coronel Sérgio Fonseca, afirmou nesta segunda-feira (18), acreditar na versão dos policiais investigados. "Nós acreditamos na versão dos policiais. Caso seja comprovado o contrário, eles vão pagar", disse.

O documento do Ministério Público da Paraíba aponta que os policiais militares removeram os corpos das vítimas do local do crime, todos com ferimentos letais na cabeça. Ainda de acordo com o documento, os calibres utilizados pelos policiais eram de fuzis considerados de alta destruição.

As vítimas foram levadas ao Hospital de Trauma de João Pessoa, onde, conforme a guia da unidade hospitalar, chegaram mortas com múltiplos ferimentos.

Os dois veículos em que os jovens estavam também foram retirados do local do crime e levados para a Central de Polícia, sem que a Polícia Civil fosse acionada imediatamente, sendo ela a responsável por realizar a perícia técnica no local.

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Polícia Militar da Paraíba/Divulgação

Durante a investigação do caso, os policiais afirmaram ter recebido a informação de que o filho de uma vítima de feminicídio estava indo vingar a morte da mãe em Mituaçu, no Conde.

Em seguida, os policiais montaram uma operação na Ponte dos Arcos, entre João Pessoa e Conde. Dois veículos se aproximaram, receberam ordem de parada, mas não obedeceram. Ainda segundo os policiais, foram ouvidos disparos vindos dos veículos, e todos os PMs revidaram atirando contra os carros.

Um laudo pericial apontou que os dois carros em que os jovens estavam foram atingidos por mais de 90 tiros: 74 disparos em um veículo e 18 no outro. O documento que solicitou a prisão temporária dos policiais registra que todos os disparos partiram de fora para dentro dos carros.

Ainda segundo a investigação, três armas foram supostamente apreendidas com os jovens, sendo que apenas duas estavam aptas para disparo e continham seis cartuchos já deflagrados. O documento ressalta, porém, que não é possível afirmar se houve disparos de dentro para fora dos veículos.

“Sem perícia no local do incidente, tampouco análise de fragmentos de vidro no solo, possíveis elementos balísticos e outros vestígios externos, não é possível afirmar com certeza absoluta que não houve disparos de dentro para fora, apenas se constatou não haver indícios inequívocos desse tipo de tiro no veículo, dadas as limitações acima”, registra o documento.

Uma testemunha relatou ter visto os policiais militares usando máscaras e recolhendo cápsulas espalhadas pelo local do crime.

Outra pessoa ouvida afirmou que uma testemunha ocular, ainda não identificada, presenciou a abordagem policial. Segundo esse relato, dois jovens estavam fora do carro com as mãos na cabeça, um permanecia dentro do veículo e outros dois estavam no chão, com os rostos encostados ao solo, enquanto policiais apoiavam os pés em seus pescoços. A mesma testemunha também teria ouvido o barulho de diversos disparos.

Uma testemunha também registrou que um parente de um dos jovens mortos relatou que ele planejava vingar o assassinato da mãe do amigo, que havia pedido apoio para o crime. A testemunha afirmou ainda que o jovem teria ligação com uma facção criminosa e possuía uma arma de fogo.

Policiais receberam homenagem da ALPB

Os seis policiais militares suspeitos de envolvimento na morte de cinco jovens no município de Conde, na Grande João Pessoa, receberam o Diploma de Honra ao Mérito da Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB). A homenagem foi apresentada quatro dias após a chacina, registrada em 15 de fevereiro, pelo deputado estadual Wallber Virgulino (PL).

Na justificativa apresentada, o parlamentar menciona a chacina e afirma que os policiais “garantiram a ordem ao interceptar um grupo criminoso fortemente armado”. Dos seis homenageados, cinco foram presos na manhã desta segunda-feira (18) durante operação policial:

Soldado Mikhaelson Shankley Ferreira Maciel

Sargento Marcos Alberto de Sá Monteiro

Sargento Wellyson Luiz de Paula

Sargento Kobosque Imperiano Pontes

Cabo Edvaldo Monteval Alves Marques

O Tenente Álex William de Lira Oliveira, que também foi homenageado e alvo de mandado de prisão preventiva, está em viagem nos Estados Unidos, e o mandado de prisão preventiva contra ele não foi cumprido.

A homenagem foi aprovada pela Assembleia Legislativa da Paraíba e promulgada pelo presidente da Casa, o deputado Adriano Galdino (Republicanos), no dia 22 de abril deste ano.

“Diante da relevância da atuação desses agentes de segurança e do impacto positivo de sua ação para a manutenção da paz e do Estado de Direito, faz-se justa e necessária a concessão do Diploma de Honra ao Mérito como forma de reconhecimento pelo compromisso, dedicação e coragem demonstrados em defesa da população paraibana”, justificou o deputado estadual Walber Virgulino.

Relembre o caso

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Reprodução/TV Cabo Branco

O caso que resultou na operação desta segunda-feira (18), aconteceu na noite do dia 15 de fevereiro de 2025. Segundo a Polícia Militar, os cinco jovens, com idades entre 17 e 26 anos, estavam se preparando para fazer um ataque no Conde, para vingar um feminicídio cometido horas antes.

Na mesma data, uma mulher havia sido morta por ter encorajado uma amiga, vítima de violência, a se separar do marido. O homem, com raiva, matou a mulher como vingança.

Então, de acordo com a PM, o filho da vítima reuniu amigos para vingar o assassinato. O veículo foi interceptado por viaturas da Polícia Militar e ao chegar na Ponte do Arco, o carro foi atingido por vários tiros, o que resultou nas mortes de todos os ocupantes. As vítimas foram identificadas como:

Fábio Pereira da Silva Filho, de 26 anos

Emerson Almeida de Oliveira, de 25 anos

Alexandre Bernardo de Brito, de 17 anos

Cristiano Lucas, de 17 anos

Gabriel Cassiano de Sousa, de 17 anos (filho de Ana Gabriela, vítima do feminicídio)

O Ministério Público da Paraíba (MPPB) também instaurou um procedimento administrativo para acompanhar e fiscalizar a investigação policial. A ação quer verificar se todas as providências foram tomadas para investigar as condições nas quais se deram a ação policial.

Os familiares dos jovens contestam a versão apresentada pela Polícia Militar, de que os jovens entraram em confronto com os agentes e, até, que as vítimas eram envolvidas com criminalidade.

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