O que a sua conta de luz tem a ver com as enchentes e ondas de calor? – Crédito: Divulgação
Nos últimos anos, o brasileiro sentiu no bolso e no clima o peso da crise ambiental. Em 2021, a pior seca em décadas fez as contas de luz ficarem, em alguns casos, até 50% mais caras, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica. E essa pressão só tende a aumentar: dados da Empresa de Pesquisa Energética mostram que em 15 anos o consumo de energia no Brasil cresceu cerca de 40%.
Boa parte da energia consumida no país ainda vem de fontes que impactam o meio ambiente. Hoje, aproximadamente 62% da eletricidade brasileira é gerada em hidrelétricas, que são renováveis, mas exigem a construção de grandes barragens que alagam florestas, mudam o curso dos rios e afetam comunidades inteiras. Já as termelétricas respondem por quase 20% da energia produzida no país e funcionam à base de carvão, gás ou óleo, gases que aceleram o aquecimento global.
As termelétricas são acionadas sempre que os reservatórios das hidrelétricas ficam abaixo do normal e é nesses momentos que entra em cena a chamada bandeira vermelha na conta de luz, sinalizando que a energia ficou mais cara porque passou a depender de uma fonte mais custosa e 34 vezes mais poluente.
Os gases emitidos pelas termelétricas são grandes responsáveis pelas tragédias ambientais que vemos todos os dias no noticiários como ondas de calor que batem recordes, enchentes que destroem cidades inteiras, geleiras derretendo e mudanças no clima que impactam a agricultura.
Quando pequenas ações pesam no clima
Hábitos comuns da rotina de todos os cidadãos têm impacto direto no na crise climática. Cada aparelho ligado consome energia que, muitas vezes, vem das termelétricas e isso se traduz em toneladas de gases de efeito estufa.
Elevadores em um condomínio de médio porte, por exemplo, podem representar mais de 1 tonelada de gás carbônico por ano só em consumo de energia. E um freezer funcionando em um bar emite, em média, 200 kg de CO₂ ao ano considerando a matriz elétrica atual.
Quando esses consumos acontecem justamente no horário de pico - momento em que milhões de pessoas chegam em casa e bares e restaurantes estão cheios - a tarifa de energia e a quantidade de emissão de gás carbônico sobem, já que o sistema elétrico precisa acionar mais usinas termelétricas para garantir o abastecimento de toda a população.
Mudando o cenário com a transição energética
A boa notícia é que o Brasil já está à frente de muitos países com quase 90% da matriz elétrica vem de fontes não fósseis. Mas ainda temos um desafio grande: reduzir a presença das usinas movidas a carvão e acelerar o uso de fontes como solar e eólica. De acordo com a FIEMG, se isso acontecesse, as emissões de gás carbônico do setor elétrico poderiam cair pela metade até 2030.
Enquanto essa transição avança, pequenas escolhas do dia a dia já fazem a diferença. Evitar desperdício, desligar aparelhos quando não estão em uso e até mudar hábitos de consumo de energia em horários de pico ajudam a tirar a pressão de um sistema já sobrecarregado. Cada gesto é um passo para que o noticiário do futuro fale menos sobre tragédias climáticas e mais sobre soluções.