
Por que inalar desodorante pode levar a uma morte rápida?
Um pai da Inglaterra lamentou a morte da filha depois que a adolescente de 13 anos, Tiegan Jarman, inalou vapores de um desodorante. A prática, conhecida como "chroming", é comum em desafios online e tem a adesão de adolescentes no mundo inteiro.
A adolescente foi encontrada inconsciente em seu quarto no dia 6 de março. E apesar das tentativas de reanimação, morreu no local. O pai, Paul Jarman, descreveu a filha como uma garota amorosa, ousada e de risada contagiante, de acordo com o Daily Mail.
A irmã de Tiegan, Alisha, abriu uma petição online pedindo que produtos como desodorantes e solventes tragam avisos claros sobre os riscos de inalação. Além disso, ela alerta para os perigos das redes sociais e pede que sejam ensinados de forma aprofundada nas escolas.
A família espera conscientizar pais e jovens sobre os perigos das famosas "trends". O padrasto da adolescente lamentou que, embora plataformas digitais controlem conteúdos sensíveis, não parecem se preocupar com desafios.
Tiegan Jarman, de 13 anos, ao lado do pai, Paul Jarman. Menina morreu após inalar vapores tóxicos de desodorantes spray.
Reprodução/Change.org
Casos semelhantes no Brasil
No Brasil, alguns casos semelhantes já foram registrados. Em abril, uma menina de 8 anos morreu depois de inalar o spray de um desodorante. Além dela, outros dois casos foram registrados nos meses anteriores.
As mortes foram motivadas pelo mesmo desafio, segundo autoridades, que consiste em inalar o spray e segurá-lo na boca pelo maior tempo possível. O que os médicos alertam é que a trend é letal, causando paradas cardíacas.
🔴 Em fevereiro, uma menina de 7 anos do ABC Paulista inalou o spray de um desodorante após assistir a um vídeo nas redes sociais e teve uma parada cardíaca. Em março, outros dois casos vieram à tona: o de Brenda Sophia Melo de Santana, de 11 anos, de Pernambuco; e o de Sarah Raissa Pereira de Castro, de 8 anos, do Distrito Federal.
🔴 O que a médica pneumologista e membro da Academia Nacional de Medicina, Margareth Dalcolmlo, explica é que isso é letal, principalmente para crianças.
Como o desodorante age no corpo?
A médica explica que os sprays, em geral — não só os desodorantes —, formam uma névoa fina no ar que pode penetrar no pulmão. Depois disso, há um efeito em cascata:
Após inalar a névoa do desodorante ou de qualquer outro spray, as partículas são tão finas que conseguem chegar aos alvéolos pulmonares.
A função dos alvéolos pulmonares é fazer a hematose. Quando respiramos, o oxigênio se espalha pelo sangue. Enquanto isso, o gás carbônico passa para o interior dos alvéolos.
Intoxicados pelo spray, eles param de fazer essa troca gasosa e a criança tem uma queda nos níveis de oxigênio no sangue.
A resposta do corpo a esse colapso é uma parada cardíaca — como aconteceu com as vítimas.
A médica explica que a sensação inicial, enquanto a intoxicação acontece, é de euforia — o que leva pessoas a compartilharem o desafio —, mas que rapidamente ela é convertida em uma parada. Como esses desafios são feitos entre as crianças, fora do alcance de um adulto, muitas vezes não há como fazer os primeiros socorros.
“Isso é muito grave, ainda mais em crianças que têm uma superfície pulmonar pequena. Qualquer quantidade pode ser muito e acabar colapsando o sistema, causando a parada cardíaca”, explica Margareth Dalcolmo.
Os riscos do acesso de crianças à internet
O desafio faz parte de um viral nas redes sociais, que as crianças estão acessando. A médica alerta que, como pneumologista, vem percebendo no consultório atendimentos de crianças e adolescentes com problemas de saúde motivados por influências online — como é o caso dos cigarros eletrônicos.
O que ela e outros especialistas alertam é que é preciso estar atento ao que os filhos veem online e em quais redes sociais estão. No caso do TikTok e do Instagram, por exemplo, a idade mínima é de 13 anos.
"Já sabemos o quão prejudiciais são os celulares para as crianças. Eles já estão proibidos nas escolas. Precisamos nos cercar mais, falar com eles sobre essas situações na internet, proibir o acesso tão cedo às redes sociais. Eles são inocentes e não podem decidir por si as consequências”, explica Dalcolmo.

