Tarifaço dos EUA pode afetar exportações de café mineiro
O possível tarifaço anunciado pelos Estados Unidos tem deixado cafeicultores do Triângulo Mineiro preocupados. Com o grão sendo o principal produto de exportação do agronegócio mineiro e os EUA como maior comprador, o setor teme uma reação em cadeia que pode atingir desde grandes produtores até trabalhadores que dependem da colheita para sobreviver.
Segundo a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater), na região do Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba e Nordeste de Minas, 51 municípios cultivam café em mais de 211 mil hectares. A medida tarifária, que pode entrar em vigor em 1º de agosto, ameaçaria não só a renda de milhares de famílias, mas também a estabilidade de uma cultura que há décadas sustenta a economia regional.
Em meio à expectativa por negociações, produtores já enfrentam uma safra menor e custos elevados, enquanto tentam se preparar para um cenário de incertezas. É o caso do cafeicultor Cláudio Morales Garcia, que mantém lavouras nas cidades de Araguari e Cascalho Rico. Ele afirmou que os custos já são altos e que a taxação pode agravar ainda mais a situação.
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“Nós estamos numa região que precisa de irrigação. Estamos numa área de cerrado, que ela é plano. Então nssa região nossa tem menos mão de obra porque a gente usa colhedeira na hora da colheita. Mas os custos estão muito altos, de defensivos, de adubação”, explicou.
Para Morales, o impacto da tarifa será sentido em toda a cadeia produtiva. O produtor rural avaliou que, com o aumento dos custos para exportar, vai ficar mais caro. Em contrapartida, o preço do café pago ao produtor tende a cair, o que torna o cenário desfavorável para quem cultiva o grão.
Além disso, ele destacou que os próprios Estados Unidos também podem ser prejudicados, já que o país mantém uma cadeia estruturada em torno do café, com milhões de empregos envolvidos. O aumento no preço final ao consumidor americano e a desvalorização do café no Brasil são, segundo ele, consequências prováveis caso o tarifaço seja implementado.
A situação se agrava com a previsão de safra menor em 2025 por causa do clima, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A estimativa é de uma queda de mais de 11% na produção em relação ao ano passado, devido às condições climáticas adversas.
“A safra deste ano, a gente vê os produtores estão todos reclamando. No ano passado, nós tivemos seis meses de seca. Mesmo com as lavouras irrigadas, o café não está rendendo o que se esperava. E o que a gente está fazendo hoje é investindo na lavoura para o ano que vem a gente ter uma safra alta para bancar o prejuízo deste ano”, finalizou Morales.
Impacto social e econômico na região com tarifaço de Trump
EUA é o principal comprador do café mineiro, segundo a Faemg
TV Integração/Reprodução
De acordo com o especialista em investimentos Gustavo Henrique Silva Nogueira, o cenário é preocupante, especialmente em regiões onde o café é o motor da economia local. Ele estima que mais de 30 mil postos de trabalho podem ser fechados só em Minas Gerais.
“O problema é que quando você aumenta substancialmente esse valor de tributação, 50% é algo muito fora da realidade. Naturalmente, eu deixo de ter a necessidade de alguns funcionários. Existem muitos navios esperando essa negociação. E aí você tem um impacto muito grande não só para o Brasil, mas também para os Estados Unidos, como consumidor do café. Quando a gente fala de número de empregos, a gente pode ter uma perda aí de praticamente 1,2 milhão de postos de trabalho perdidos”, afirmou.
O especialista também avaliou que a postura adotada por Donald Trump tem mais motivação política do que comercial e que pode ainda ser revista. Segundo ele, a estratégia do ex-presidente norte-americano costuma ser iniciar negociações com medidas agressivas, como o anúncio do tarifaço, para depois recuar e apresentar condições mais brandas.
Enquanto aguardam os desdobramentos da política comercial norte-americana, os produtores vão precisar buscar alternativas para reduzir custos e melhorar a produtividade.
“O produtor vai ter que pensar muitas vezes em quantidade de produção, vai ter que pensar em terra, vai ter que às vezes pensar em diversificar. Imagina uma família ou uma área que a vida inteira foi café. Como é que você muda essa cultura? Não é tão simples, não é do dia para a noite. Então esse prejuízo pode ser carregado por seis meses, um ano, dois anos ou até mais”, alertou Gustavo Nogueira.
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Entidades se manifestam contra o tarifaço
Conforme os dados da Conab, Minas Gerais exportou quase US$ 10 bilhões no primeiro semestre de 2025, com crescimento de 18% em relação ao mesmo período do ano anterior. O café foi responsável por 56% da receita do agronegócio, com US$ 5,5 bilhões em vendas externas, mesmo com uma queda de 8,8% no volume exportado.
Para o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Antônio de Salvo, o impacto do tarifaço pode ser devastador.
“Vai ser impacto muito grande não só para os cafeicultores, é para quem colhe, para quem transporta, pra quem torra, pra quem seca, para os funcionários e colaboradores, pra toda Minas Gerais que depende desse importante produto. É o produto mais importante de exportação nosso da balança comercial. Exportamos mais que o minério. O café é responsável por quase 60% das exportações. Então, é um resultado terrível e os Estados Unidos é o nosso maior comprador. A gente espera que isso acabe bem”, afirmou.
A Câmara dos Dirigente Lojistas (CDL) de Uberlândia, por meio do presidente Paulo Vitiello, também se manifestou contrária à medida anunciada por Trump.
Leia a nota na íntegra abaixo
"A CDL manifesta profunda preocupação com os impactos do aumento tarifário anunciado pelos EUA, que compromete cadeias produtivas estratégicas e afeta diretamente o comércio brasileiro. A retração na indústria, agronegócio e serviços já reflete em queda de renda e menor circulação no varejo, com riscos reais de demissões e redução nas contratações temporárias. A medida afeta o consumo das famílias e ameaça a estabilidade econômica regional. Defendemos diálogo diplomático firme, mas urgente, para mitigar os efeitos dessa decisão e preservar empregos e renda".
Café produzido em Araguari, no Triângulo Mineiro
TV Integração/Reprodução
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