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'Tarifaço' de Trump pode causar 'efeito chicote' no preço da carne brasileira, diz especialista; entenda


Produtos da região de Ribeirão Preto, SP continuam com taxas altas de exportação

Um dos itens atingidos pelo "tarifaço" de Donald Trump, a carne bovina brasileira deve perder competitividade nos Estados Unidos devido à taxa de 50% de importação imposta pela Casa Branca pelo decreto publicado esta semana. Uma mudança que deve resultar em desdobramentos para quem compra o produto do Brasil, para os pecuaristas e, claro, para o consumidor final.

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Consultor especialista em agronegócio em Ribeirão Preto (SP), José Carlos de Lima Junior analisa que, apesar de uma queda inicial nos preços, por conta de uma sobra de produção, como o que foi mencionado pelo vice-presidente, Geraldo Alckmin, a tendência é de que, a médio prazo, haja uma nova alta.

A elevação, segundo ele, estaria atrelada a uma menor oferta do alimento, como resultado de os produtores ficarem desestimulados a disponibilizar mais animais para abate com a baixa no retorno financeiro esperado. É o que ele chama de "efeito chicote."

"No curto espaço de tempo você tem uma queda de preço para o consumidor, só que o produtor fica desestimulado a continuar produzindo, o que vai reduzir a oferta em um tempo futuro. Ou seja, no curto espaço de tempo queda de preço, no médio espaço a gente poderia ter inflação com o preço da carne", afirma.

A carne não está na lista de exceções do decreto norte-americano, assinado na quarta-feira (30) por Trump, que fixou em 50% a taxação sobre os produtos do Brasil que entrarem em território norte-americano a partir de 6 de agosto.

Anunciada em julho, por meio de uma carta enviada ao presidente Lula, a taxação, segundo a Casa Branca, foi adotada em resposta a uma série de ações ocorridas no Brasil, entre elas o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF) pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.

Tarifaço de Trump vai impactar mercado brasileiro de carne bovina

Reprodução/EPTV

Tarifaço: o que esperar da carne brasileira

Em entrevista à EPTV, afiliada da TV Globo, o consultor em agronegócio avaliou os diferentes impactos e desafios do tarifaço sobre a carne brasileira, entre eles:

novos mercados no exterior

concorrência internacional

impacto no mercado interno

empregos no setor

custos com frete x 'tarifaço'

O Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo, à frente de Índia e Austrália, e atualmente tem como principais compradores a China, os EUA e o Chile.

Lima Júnior analisa que, com as restrições da entrada do produto em território norte-americano, a missão de se buscar novos mercados consumidores em outros países não é simples. Isso porque o processo envolve o cumprimento de protocolos sanitários e contratos que levam tempo para serem concretizados.

"Ainda que a maioria dos países queiram comprar um produto com preço baixo, mais atrativo, nós estamos falando de produtos que são commodities, é o caso de café, da carne, e nesse caso eu preciso redirecionar esse produto em cima de contratos, de protocolos que atendam a critérios que são importantes pra que a gente possa de certa forma atender e mostrar as vantagens do nosso produto, e isso não é feito do dia pra noite", argumenta.

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A concorrência com outros países que se destacam no setor também é um fator a ser considerado pelo setor. E, nesse aspecto, ele apresenta uma projeção otimista: apesar de os EUA já terem firmado um acordo comercial com a Austrália, o consultor não acredita que o país tenha condições de dar conta de atender toda a demanda do mercado norte-americano.

"Em um curto espaço de tempo, a Austrália poderia atender essa demanda americana? Eu acredito que não e é por esse momento que a gente pode até acreditar que, passado o dia 6 de agosto (...) a gente possa ter uma renegociação com o valor da tarifa [de 50% sobre as importações] que vai ser aplicada."

Ao avaliar os impactos no mercado interno, Lima Junior espera inicialmente uma maior disponibilidade de carne e possivelmente uma baixa nos custos para o consumidor final. Mas, no futuro, se não houver uma melhor perspectiva nas exportações, os pecuaristas podem recuar a produção e reduzir a oferta.

"A partir do instante que você tem um preço não atrativo na conta, o produtor, o empresário que faz a produção de carne, da res, pode vir a optar por colocar menos animais em uma situação de produção, o que vai reduzir a oferta daqui um período de tempo, que seja seis meses, um ano."

Como consequência disso, os empregos do setor também podem sim ser afetados, principalmente nas empresas que atualmente já contam com grande capacidade instalada para fazer frente, até então, à elevada demanda existente que pode deixar de existir.

Com tarifaço, carne pode ter redução de preço, mas depois ficar mais cara com desestímulo na produção, diz especialista

Reprodução/EPTV

"A partir do instante em que você tem um mercado que começa a comprar menos, você tem que encontrar outro mercado comprador e não se encontra um comprador de maneira muito fácil, essa indústria vai ter que equilibrar o próprio custo, então, naturalmente, ela vai ter que revisar para dentro, verificar se a produção dela está adequada, incluindo os próprios postos de trabalho."

O consultor ainda analisa que, com a isenção estabelecida pelo decreto para qualquer produto brasileiro que já estiver em trânsito a partir de 6 de agosto, incluindo a carne, os produtores precisarão avaliar se a correria por despachar mercadorias vai compensar diante de uma possível elevação no custo do frete.

"O que pode ocorrer nesse momento é uma busca por tentar levar essa mercadoria o quanto antes, só que na prática isso vai acabar gerando um encarecimento do frete para esses produtos que estão sendo exportados na pressa. Até porque você não teria um tempo hábil para negociar os melhores preços. (...) Talvez a comparação que muitos exportadores possam vir a fazer é entre o valor do frete com a tarifa de 50% que passarão a pagar pela data estipulada pelo presidente americano."

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