Áudios para amiga revelam que estudante foi ameaçada por namorado meses antes de sumir
O g1 e a TV TEM tiveram acesso ao conteúdo de áudios enviados pela estudante trans Carmen de Oliveira Alves, de 26 anos, a uma amiga, que revelam ameaças feitas pelo seu namorado, Marcos Yuri, em março, antes do seu desaparecimento.
O desaparecimento de Carmen completou três meses na sexta (26). A polícia trata o caso como feminicídio, mas o corpo ainda não foi localizado. Marcos Yuri Amorim e o policial militar ambiental da reserva, Roberto Carlos Oliveira, foram apontados como os principais suspeitos e estão presos.
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Em quatro áudios, Carmen revela que teve uma briga com o namorado e está sendo ameaçada de morte. (Ouça acima)
"Acho que ele pode fazer isso tá? Ele tem arma, tem as coisas, falou que vai me matar e me jogar no rio, que ninguém vai nem achar"
"(...) tivemos uma briga bem séria, e ele me ameaçou de morte (...) Eu não duvido nada do Yuri"
"Ontem eu descobri um negócio em relação ao Yuri, confrontei ele e a gente brigou feio. Aí hoje eu vou lá na casa dele, e quando a gente briga assim é ameaça de morte. Então, se eu sumir, se acontecer alguma coisa comigo, sabe que foi esse f**** e coloca ele na cadeia, pelo amor de Deus"
"Amiga eu quero falar uma coisa muito séria com você (...) Se acontecer alguma coisa comigo saiba que foi o Yuri, tá? Só isso".
Os áudios foram enviados por Carmen em março e apresentados para a polícia em depoimento pela amiga da desaparecida no dia 16 de junho, quatro dias após o desaparecimento da estudante.
Carmen de Oliveira, estudante transexual, desapareceu após sair da faculdade em Ilha Solteira (SP)
Reprodução/Facebook
Roberto foi indicado como amante de Marcos Yuri em um “triângulo amoroso”. Os dois estão presos preventivamente.
Em 27 de agosto, os policiais fizeram a reconstituição do crime com base na versão de Marcos. Sete dias depois, foi a vez de Roberto participar de outra reconstituição, que ocorreu no sítio do namorado, onde o crime teria acontecido. Ambos foram indiciados pela Polícia Civil em 4 de setembro.
Carmen de Oliveira Alves )à esquerda), o namorado Marcos Yuri Amorim (ao centro) e o policial militar Roberto Carlos de Oliveira, suspeitos de crime em Ilha Solteira (SP)
Reprodução/Facebook
À TV TEM, o delegado responsável pelo caso, Miguel Rocha, informou que Marcos e Roberto vão responder por feminicídio, ocultação de cadáver, supressão de documento e fraude processual. O policial militar ambiental da reserva também será responsabilizado por falso depoimento, pois ele mudou a primeira versão do depoimento dele durante as investigações.
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Na quarta-feira (10), a família e os amigos fizeram uma vigília em frente à Delegacia de Polícia de Ilha Solteira. Todos levaram velas e fizeram homenagens.
O arte educador Lucas de Oliveira Alves, de 28 anos, irmão de Carmen, diz que os pais têm acompanhado de perto as investigações e reconheceu que a polícia não tem medido esforços para tentar localizar o corpo. Mas, segundo ele, a ausência de uma pista concreta é angustiante.
“Toda a equipe de Ilha Solteira tem se empenhado muito no caso, a gente vê isso. Infelizmente, não encontramos o corpo ainda, mas eu acredito que ela [Carmen] esteja transcendendo a prosperidade com a sua energia e sua luz. A Carmen sempre foi uma alma artística, uma alma viva. Eu acredito que, por mais que a gente não tenha encontrado o corpo dela, o legado vai ficar para prosperidade”, comenta.
Ainda conforme o irmão, apesar de Carmen cursar Zootecnia, ela sempre gostou de ler. A família encontrou diversos textos escritos pela jovem e pretende levá-los para uma exposição em homenagem à vítima.
“A Carmen era uma pessoa muito meiga, muito querida por todo mundo, muito simpática e escrevia muito bem. Ela tem vários textos e inclusive a gente quer preservar esses textos, fazer uma exposição, escrever um livro. A gente querer desenvolver alguns trabalhos com base no que ela produzia”, finaliza.
Carmen de Oliveira Alves e o namorado Marcos Yuri Amorim, suspeito de assassinato em Ilha Solteira (SP)
Reprodução/Facebook
Investigação
O delegado responsável pelo inquérito policial afirmou que a investigação apontou as seguintes motivações para o assassinato:
Carmen pressionou Yuri para que assumisse o relacionamento. Apesar de a família da vítima conhecer a relação, ela não era pública;
Carmen descobriu que ele cometia crimes, como furtos, e elaborou um dossiê no computador com provas, que foi deletado posteriormente;
Havia um triângulo amoroso: o policial da reserva preso ajudou Yuri no crime e mantinha uma relação com ele, segundo a polícia.
Caso Carmen: veja a cronologia do desaparecimento às buscas pelo corpo da jovem
Desaparecimento
Conforme a mãe relatou à polícia, um dia antes do sumiço, em 11 de junho, por volta das 23h, a jovem saiu de casa com uma bicicleta elétrica de cor preta. A bicicleta dela não foi localizada. Familiares ainda afirmaram que Carmen nunca havia desaparecido antes.
Após o ocorrido, parentes e amigos auxiliaram os policiais nas buscas e fizeram várias manifestações pedindo respostas para o caso. Entre os locais vasculhados estava a região próxima ao rio da cidade, onde o sinal do celular de Carmen foi captado pela última vez.
Também foram realizadas buscas em uma área de mata próxima à universidade, onde foram encontradas marcas de pneus compatíveis com os da bicicleta elétrica que ela usava no momento do desaparecimento.
Segundo o boletim de ocorrência, a estudante estava na Universidade Estadual Paulista (Unesp), onde fez uma prova do curso, antes de desaparecer. Ela foi vista pela última vez perto de um ginásio.
* Colaborou sob supervisão de Eric Mantuan
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