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Caso Djidja: MP reconhece falha no processo após pedido da defesa e pede retorno à primeira instância


Djidja Cardoso com a mãe e o irmão

Arquivo Pessoal

O Ministério Público do Amazonas (MP-AM) reconheceu uma falha processual no julgamento do caso Djidja, após um pedido da defesa dos réus acusados de tráfico e associação para o tráfico de drogas. Segundo a defesa, os laudos toxicológicos definitivos das drogas apreendidas foram anexados ao processo somente depois das alegações finais e o órgão pediu o retorno do processo para a primeira instância.

De acordo com a alegação da defesa, a anexação dos laudos toxicológicos definitivos somente após as alegações finais não deu oportunidade para que pudessem se manifestar. Para o MPAM, isso configurou "cerceamento de defesa", já que os documentos serviram de base para a condenação.

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Diante disso, o órgão emitiu parecer favorável ao parcial provimento dos recursos, recomendando que o caso retorne à primeira instância, para que os advogados possam se pronunciar sobre os laudos antes de uma nova sentença.

Apesar de reconhecer o apontamento da defesa, o MP destacou que há provas consistentes contra os acusados — como depoimentos e mensagens extraídas de celulares — que apontam para uma associação criminosa estável e permanente dedicada ao tráfico. Assim, caso a nulidade não seja acolhida, o órgão defende a manutenção das condenações.

Em despacho recente, o Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM) confirmou que os autos estão prontos para julgamento e determinou a designação de uma data para análise do recurso.

A defesa da família Cardoso, alvo central do processo, também se manifestou por meio de nota.

“A defesa da Família Cardoso confirma que o processo está repleto de graves nulidades desde o inquérito e o primeiro grau, e aguarda data para o julgamento com a esperança de que a verdade prevalecerá e que o TJAM julgará os recursos de maneira técnica e justa”, disse a defesa por meio de nota.

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Condenação

De acordo com a investigação da polícia, a família de Djidja fundou o grupo religioso "Pai, Mãe, Vida", que promovia o uso indiscriminado da droga sintética, conhecida por causar alucinações e dependência. Além da mãe e do irmão de Djidja, estão presos um coach, o proprietário e o sócio de uma clínica veterinária suspeita de fornecer a substância ao grupo.

Veja abaixo como foi a condenação dos réus:

Cleusimar Cardoso Rodrigues (mãe de Djidja): condenada por tráfico de drogas e associação para o tráfico - total das penas: 10 anos, 11 meses e 8 dias de reclusão;

Ademar Farias Cardoso Neto (irmão de Djidja): condenado por tráfico de drogas e associação para o tráfico - total das penas: 10 anos, 11 meses e 8 dias de reclusão;

José Máximo Silva de Oliveira (dono de uma clínica veterinária que fornecia a cetamina): condenado por tráfico de drogas e associação para o tráfico - total das penas: 10 anos, 11 meses e 8 dias de reclusão;

Sávio Soares Pereira (sócio de José Máximo na clínica veterinária): condenado por tráfico de drogas e associação para o tráfico - total das penas: 10 anos, 11 meses e 8 dias de reclusão;

Hatus Moraes Silveira (coach que se passava por personal da família de Djidja): condenado por tráfico de drogas e associação pra o tráfico - total das penas: 10 anos, 11 meses e 8 dias de reclusão;

Verônica da Costa Seixas (gerente de uma rede de salões de beleza da família de Djidja): condenada por tráfico de drogas e associação para o tráfico - total das penas: 10 anos, 11 meses e 8 dias de reclusão;

Bruno Roberto da Silva Lima (ex-namorado de Djidja): também condenado por tráfico de drogas e associação para o tráfico - total das penas: 10 anos, 11 meses e 8 dias de reclusão.

Em junho, o Ministério Público, representado pelo promotor André Virgílio Betola Seffair, denunciou o grupo por tráfico de drogas e associação para o tráfico. Na denúncia, Seffair afirmou que Cleusimar Cardoso, mãe de Djidja, estava no núcleo central do esquema de tráfico de entorpecentes.

O juiz Celso de Paula explicou que a versão apresentada pelos réus no tribunal, tentando se livrar da responsabilidade pelo tráfico de drogas, estava completamente em desacordo com os depoimentos das testemunhas. Por isso, essa a foi considerada sem fundamento e não foi levada em conta, pois não havia provas que a sustentassem.

Dos sete condenados, apenas Verônica e Bruno Roberto - que estão em liberdade provisória - poderão recorrer em liberdade. Já os demais, vão cumprir suas penas no regime fechado, conforme a sentença judicial.

O juiz também absolveu por insuficiência de provas os réus Emicley Araujo Freitas Júnior, ex-funcionário da clínica que fornecia a droga, Claudiele Santos da Silva e Marlisson Vasconcelos Dantas, ex-funcionários do salão de beleza da ex-sinhazinha.

A sentença trata exclusivamente dos crimes de tráfico de drogas e associação para o tráfico. Já os crimes de charlatanismo, curandeirismo, manipulação e adulteração de medicamentos, estupro e outros serão desmembrados e encaminhados às varas competentes para investigação.

Caso Djidja: mãe e irmão da ex-sinhazinha são condenados por tráfico de drogas

Causa da morte de Djidja

Djidja, que foi uma das principais atrações do Festival de Parintins por cinco anos, foi encontrada morta no dia 28 de maio. O laudo preliminar do Instituto Médico Legal (IML) indica que a morte da ex-sinhazinha foi causada por um edema cerebral, que comprometeu o funcionamento do coração e da respiração.

No entanto, o laudo não esclarece o que teria provocado o quadro. A principal linha de investigação da polícia aponta para a possibilidade de uma overdose de cetamina como causa da morte.

De acordo com as investigações, o corpo de Djidja foi encontrado pelos policiais com sinais de overdose e indícios do uso da substância injetável. No dia da morte de Djidja, a polícia também encontrou frascos de cetamina enterrados no quintal da casa dela, além de caixas da droga, seringas, frascos, bulas e cartelas de remédios na lixeira da propriedade.

Conforme a polícia, o irmão de Djidja Cardoso, Ademar Farias, introduziu a cetamina na família após ter tido contato com a droga durante uma viagem a Londres, onde buscava tratamento contra dependência química. Posteriormente, ele e os demais membros da família criaram o grupo religioso "Pai, Mãe, Vida".

Durante a apuração do caso, a Polícia Civil identificou que o grupo realizava rituais nos quais promoviam o uso indiscriminado de cetamina, uma droga sintética utilizada tanto em humanos quanto em animais. Para pessoas, a cetamina é usada como anestésico, analgésico e, em alguns casos, no tratamento da depressão. Embora seu uso recreativo seja comum, ele é ilegal desde 1980.

As investigações indicaram, ainda, que algumas vítimas do grupo foram submetidas a violência sexual e aborto.

O grupo liderado pela mãe e pelo irmão de Djidja Cardoso acreditava que Ademar (irmão) era Jesus Cristo, Cleusimar (mãe) era Maria, e Djidja seria Maria Madalena. Eles defendiam o uso de cetamina como meio para alcançar a elevação espiritual.

Os rituais aconteciam principalmente nos salões de beleza e na residência da família, onde foram encontradas ampolas de cetamina, seringas e agulhas.

Ademar se apresentava nas redes sociais como um "guru" que ajudava as pessoas a "sair da Matrix" e alcançar um "plano superior". Ele e a mãe tinham o nome do grupo tatuado.

Ademar e Claudimar exibem tatuagens com nome do grupo religioso

Divulgação

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