"Coleta Mais" pretende ampliar significativamente a coleta seletiva na capital, em parceria com cooperativas de catadores 'Aterro Sanitário de Marituba' à beira do colapso: Justiça do Pará prorrogou o funcionamento até 31 de dezembro de 2025
Adelson Albernás/TV Liberal
A poucos meses de sediar a COP 30, Belém segue enfrentando uma grave crise na gestão de resíduos sólidos. Com uma produção estimada em mais de 1,5 mil toneladas de lixo por dia na Região Metropolitana, a capital paraense ainda convive com falhas recorrentes na coleta, baixa adesão à reciclagem e a indefinição sobre a destinação adequada desses resíduos após o encerramento do aterro sanitário de Marituba. É nesse contexto urgente que acontece, na quarta (28) e quinta-feira (29), o II Seminário de Educação Ambiental, no Hangar – Centro de Convenções da Amazônia.
Marcos Sorrentino, diretor de Educação Ambiental e Cidadania do Ministério do Meio Ambiente
Ascom/Itaipu
Entre os convidados do seminário, está o professor e ambientalista Marcos Sorrentino, diretor de Educação Ambiental e Cidadania do Ministério do Meio Ambiente, que participará de rodas de conversa com a comunidade e educadores da rede pública.
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Promovido pela Itaipu Binacional, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Prefeitura de Belém, Governo do Pará, Fundação Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp) e Itaipu Parquetec, o evento integra o convênio "Gestão de Resíduos Sólidos, Educação Ambiental e Inovação em Bioeconomia para Belém rumo à COP 30". O objetivo é mobilizar a sociedade, agentes públicos, educadores e cooperativas para enfrentar os desafios da sustentabilidade urbana, com foco especial na problemática do lixo.
Coleta Mais Belém
O ponto alto do seminário será o lançamento do programa “Coleta Mais Belém”, que pretende ampliar significativamente a coleta seletiva na capital, em parceria com cooperativas de catadores como Concaves, ARAL, ACCSB e Filhos do Sol. A proposta vai além do recolhimento de recicláveis: busca garantir estrutura, dignidade e apoio técnico para as organizações de catadores, que historicamente sustentam sozinhas a cadeia da reciclagem na cidade.
"Coleta seletiva não é só uma questão ambiental, é também social e econômica. Ao fortalecer as cooperativas, reconhecemos o papel fundamental dos catadores e contribuímos com inclusão produtiva, geração de renda e redução da desigualdade", destaca Fernanda Salles, coordenadora de educação ambiental do projeto.
Convênio
O convênio Gestão de Resíduos Sólidos, Educação Ambiental e Inovação em Bioeconomia para Belém rumo à COP 30 atua em cinco eixos que, juntos, visam a apoiar a gestão de resíduos na cidade e promover a economia criativa e circular, startups ligadas à bioeconomia e em um protótipo de barco movido à hidrogênio.
Ao todo, o convênio prevê a realização de três seminários sobre educação e sustentabilidade, instalação de biodigestores nas escolas e a realização de 10 oficinas sobre: horta comunitária; biojoia; aproveitamento do resíduo do óleo de cozinha; jogos educativos e grafitti; coleta seletiva; fotografando, pintando e colando com a natureza; e coleta seletiva. Cada oficina contará com 20 participantes, incluindo professores, estudantes, pais de alunos e lideranças comunitárias.
O convênio prevê ainda apoio estrutural às unidades de triagem das cooperativas, a criação de Unidades de Valorização de Recicláveis (UVRs) e a implantação do "Reciclômetro", sistema que acompanha o volume de recicláveis coletados e sua contribuição para a economia circular local.
Além das reformas e equipamentos, há a contratação de técnicos que apoiam os catadores em questões legais e na venda dos recicláveis, além de alimentarem um programa chamado “reciclómetro” que mensura a quantidade de recicláveis que estão sendo comercializados e a renda que está sendo revertida para as associações mensalmente.
No escopo do projeto também estão sendo realizadas diversas ações de educação ambiental com as escolas e as comunidades, como oficinas temáticas, peças de teatro e uma formação EAD, com o curso “A Sustentabilidade na Prática Pedagógica”, que será oferecido aos professores das escolas da rede municipal.
Escola Municipal Manuela Freitas, situada no bairro de São Brás, tornou-se a 21ª unidade a receber a instalação de um biodigestor
Divulgação
Biodigestores
Nesta etapa, 32 escolas da rede municipal de ensino foram contempladas com o projeto, incluindo as unidades de Mosqueiro, Icoaraci, Outeiro e região das Ilhas. Em 31 escolas já foram instalados biodigestores, utilizados para o processamento e reaproveitamento do resíduo orgânico, produção de fertilizantes e biogás.
A produção do biodigestor permite à escola economizar na conta de gás de cozinha. Ao mesmo tempo, mostra como produzir biogás com o resto de alimentos e outros resíduos orgânicos. Cada biodigestor instalado tem a capacidade de tratar 10 quilos de resíduo orgânico e prover sete horas de gás por dia, deixando de emitir oito toneladas de CO2 por ano.
"COP não pode ser apenas um grande evento"
O momento é estratégico. Belém será vitrine global durante a 30ª Conferência Mundial do Clima da ONU (COP 30), que acontece em novembro de 2025. A cidade precisa se preparar não apenas com infraestrutura, mas também com soluções concretas e sustentáveis para seus problemas históricos. A ausência de um aterro sanitário em operação, o colapso do sistema de coleta em alguns bairros e o baixo índice de reciclagem tornam o tema dos resíduos uma prioridade na agenda local.
"A COP não pode ser apenas um grande evento. Ela tem que deixar um legado. E isso começa agora, com ações concretas que impactem positivamente a vida das pessoas e o meio ambiente", afirma Débora Monteiro, coordenadora de projetos da Fadesp.
Com o lançamento do Coleta Mais e a articulação de múltiplos atores em torno da pauta ambiental, o II Seminário busca transformar a crise em oportunidade, construindo um modelo de cidade mais sustentável, inclusiva e preparada para o futuro.
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