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Envelhecimento para LGBTQIA+: população aponta desafios e cobra acolhimento


Neste sábado (28), em meio à celebração do Dia do Orgulho LGBTQIA+, membros da comunidade destacam luta por mais dignidade e apoio na terceira idade. Estudiosos apontam envelhecimento da população LBTQIA+

Envelhecer no Brasil é um desafio para muitas pessoas. Mas, para quem é LGBTQIA+, essa fase pode ser ainda mais solitária, marcada por abandono, falta de políticas públicas, preconceito e invisibilidade.

Em entrevista à TV Subaé, afiliada da TV Bahia em Feira de Santana, o professor e pesquisador Luiz Alberto Lima destacou o apagamento vivido por membros da comunidade na terceira idade. Ele aponta a necessidade de ações que garantam apoio emocional, cuidado com a saúde mental e redes de suporte para os idosos.

"Toda a estética construída sobre a população LGBTQIA+ está ligada à juventude, à força e à beleza. Envelhecer é doloroso para essa população porque vem acompanhado de solidão, silenciamento e perda daquilo que foi construído ao longo do tempo".

Professor e pesquisador Luiz Alberto Lima alerta para o apagamento vivido por pessoas LGBTQIA+

TV Subaé

A economista Leila Oliveira, de 47 anos, reforça essa luta. Ela conta que se assumiu lésbica há apenas seis anos. Antes disso, viveu um casamento heteronormativo e enfrentou um processo doloroso ao reconhecer a própria orientação sexual.

"Um ano após eu ter me separado, em um processo de meditação, resolvi parar de mentir para mim mesma. Foi aí que comecei a me entender. Chorei durante 15 dias até conseguir aceitar quem eu realmente era e que me trazia alegria em me relacionar com alguém de uma forma completamente diferente", relatou.

Atualmente, Leila mantém um relacionamento com outra mulher e já se preocupa com o envelhecimento das duas. "Essas pessoas que sofreram antes de mim estão envelhecendo, então como é que anda o preparo da menor idade para acolher e cuidar dessas pessoas, principalmente os LGBTs que estão em situação de vulnerabilidades social e emocional?", questiona, de forma retórica.

Leila Oliveira, de 47 anos, conta que se assumiu lésbica há apenas seis anos

TV Subaé

Entre os principais problemas enfrentados pela população LGBTQIA+ idosa estão:

falta de rede de apoio familiar ou institucional;

barreiras no acesso à saúde;

preconceito dentro dos próprios serviços públicos;

solidão e isolamento social.

Essas dificuldades são agravadas por questões como etarismo, que é o preconceito contra pessoas mais velhas, e por um histórico de discriminações acumuladas ao longo da vida. Neste 28 de junho, Dia do Orgulho LGBTQIA+, essas pessoas reforçam que o orgulho vai além das celebrações. É um símbolo da luta por respeito, dignidade e políticas públicas.

União como ato de amor e resistência

O casal Valterney Morais, de 51 anos, e Luiz Alberto Oliveira, 67, vive junto há 31 anos. Também em entrevista à emissora, eles contam que, no início da relação, era difícil se assumir publicamente e que usavam o termo “caso” para se referir um ao outro.

“Valterney é a minha vida, meu oxigênio. Acho muito difícil casais heterossexuais terem a intensidade e o respeito que temos. Com ele, ganhei na mega-sena”, destacou Luiz, emocionado.

Luiz e Valterney vivem em Feira de Santana, segunda maior cidade da Bahia. A união foi oficializada em 2013, após o Supremo Tribunal Federal (STF) regulamentar o casamento homoafetivo no país.

“Alguém pensa em como é difícil se amar por mais de 30 anos e ainda não poder andar de mãos dadas na rua? Então, temos orgulho de dizer que nunca mais vamos esconder e negar quem nós somos”, completou Valterney.

Luiz Alberto Oliveira, de 67 anos, e Valterney Morais, 51, vivem junto há 31 anos

TV Subaé

O número de casais homoafetivos que oficializam a união tem crescido na Bahia. Em 2024, a Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil) contabilizou 835 casamentos LGBTQIA+ no estado — o maior número desde que o matrimônio entre pessoas do mesmo sexo foi regulamentado.

Para a Associação dos Notários e Registradores da Bahia (Anoreg), esse crescimento é um reflexo de fatores práticos, como a retomada pós-pandemia, e a maior conscientização sobre os direitos da comunidade. Além disso, a entidade pontua que os cartórios passaram a oferecer atendimento mais humanizado e respaldado por fundamentos jurídicos, o que também pode ter impulsionado a busca pelo serviço.

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