Gabriel Lordello é sócio da Mosaico Fotogaleria, em Vitória, que por três meses recebeu a exposição 'Outras Américas', de Sebastião Salgado, que possuía 22 fotos selecionadas pelo fotógrafo e pela esposa Lélia Salgado. Galeria em Vitória recebeu exposição de Sebastião Salgado; fotojornalista relembra encontros
Durante três meses, uma galeria particular em Vitória recebeu cerca de mil visitantes, entre turistas e estudantes, para contemplar a exposição "Outras Américas", de autoria de Sebastião Salgado.
Um dos fotógrafos mais importantes do mundo, Sebastião Salgado, que morreu aos 81 anos nesta sexta-feira (23), deixa um legado de aprendizado para fotógrafos e fotojornalistas como Gabriel Lordello, capixaba e dono da Mosaico Fotogaleria, que fica na capital e foi inaugurada há sete anos.
Além de jornalista, Gabriel é fotógrafo há 25 anos e trabalha com temas como a religiosidade, cultura e cotidiano.
"Desde a faculdade de jornalismo, Sebastião Salgado sempre foi uma referência. Fazia praticamente aquilo que todo fotógrafo ou fotojornalista sempre sonhou, além de toda a importância da carreira, depois de um tempo, criou seus projetos e conseguia concluí-los e entregá-los para o mundo todo", disse Gabriel.
Gabriel Lordello (à esq.) e Tadeu Bianconi, da galeria Mosaico, ao lado de Sebastião Salgado.
Vitor Bermudes e Letícia Kirchmayer
Só que a história dos dois não começa na faculdade ou em setembro do ano passado, mas à época, sem dúvidas foi o encontro de maior importância entre os dois.
Em setembro de 2024, Sebastião Salgado foi homenageado em Paraty, no Rio de Janeiro. Gabriel e Tadeu Bianconi, sócio da fotogaleria, estavam no evento e garantiram um encontro especial com ele. O objetivo era pedir apoio à Sebastião Salgado, para fortalecer a fotografia no Espírito Santo.
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Durante a conversa, foi de Sebastião Salgado a ideia de levar uma exposição com fotos dele para a galeria; vinte e duas fotografias da obra "Outras Américas", primeiro trabalho publicado em 1986, que documenta a pobreza e as condições de vida de camponeses e trabalhadores na América Latina.
As fotos foram selecionadas por ele e pela esposa, Lélia Salgado, e trazidas da França e entregues a Gabriel no Aeroporto de Vitória, para que ele e Tadeu montassem a exposição.
"No dia da conversa, assim que resolvemos fazer a exposição, ele falou: 'no dia 15 de dezembro chego no Aeroporto de Vitória e vou trazer as cópias da exposição pra você'. Tudo o que ele combinou, cumpriu perfeitamente. Recebi da mão dele, que abriu a mala, tirou o pacote e me entregou", lembrou Gabriel.
"Outras Américas" na Mosaico Fotogaleria foi inaugurada em dezembro do ano passado e ficou até março deste ano em exposição. Foi o período de maior visitação na galeria, segundo Gabriel, com cerca de mil visitantes.
Sebastião Salgado em evento no Espírito Santo
Vitor Bermudes e Letícia Kirchmayer
"Pra nós é muito. É uma galeria particular, pequena. Foi o maior público. Pessoas de outros estados e outros países, como Alemanha, França, Argentina e Canadá, que quando sabiam da exposição, apareciam para ver. Eu sou ansioso, então, até acontecer tudo... Foi muito legal".
Gabriel, o sócio Tadeu e Sebastião Salgado participaram de uma apresentação sobre a Amazônia de Sebastião Salgado, no Sesc Glória, em Vitória, quando foi exibida a projeção "Amazônia", outro trabalho dele.
"Essa foi, provavelmente, a última apresentação dele no Brasil. (Ele era) um ser fantástico. Foi muito generoso comigo e com o meu sócio. Ter estado do lado dele foi incrível. Ele contou várias histórias, que eu nunca tinha ouvido falar. Quando você estava com ele, o silêncio não reinava. Ele começava a cantarolar Adoniran Barbosa", relembrou Gabriel.
Além de terem em comum uma ligação com o Espírito Santo, onde Sebastião Salgado se formou em Economia, pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), ele e Gabriel fortaleceram a amizade após a parceria. O fotojornalista capixaba também recebeu convites de Sebastião Salgado para comparecer a exposições dele.
Sebastião Salgado em evento no Espírito Santo
Sebastião Salgado em evento no Espírito Santo
E há duas semanas, Gabriel recebeu uma ligação de Sebastião Salgado, que o designou para ajudá-lo em uma missão: ajustar os detalhes técnicos e com olhar fotográfico para a exibição da projeção "Amazônia", no Museu do Amanhã, na zona portuária do Rio de Janeiro.
Era uma aula sobre a Amazônia, que encerrou com a projeção de Sebastião Salgado, que é entoada pela música de Heitor Villa Lobos "A floresta do Amazonas".
"Ele não pode vir. E eu fui com olhar de fotógrafo, para garantir a qualidade da projeção, saber se tudo está adequado, como as condições do projetor e do espaço. Fui fazer a produção da projeção. Era um personagem muito simples. O que mais me entristece é que talvez ele não tenha dividido todas as histórias dele, das vivências além dos projetos, com o mundo, assim como o fez com toda a obra", lamentou Gabriel.
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