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Grupo ligado ao traficante 'João Cabeludo' vira réu por lavagem de dinheiro em São José dos Campos, SP


João Aparecido Ferraz Neto, conhecido como João Cabeludo, é um traficante condenado a mais de 500 anos de prisão e que está foragido desde 2011. As autoridades suspeitam que ele esteja escondido na Bolívia. João Aparecido Ferraz Neto, conhecido como João Cabeludo

Reprodução/TV Vanguarda

A Justiça de São José dos Campos acatou, nesta semana, uma denúncia contra um grupo por crimes como lavagem de dinheiro e organização criminosa. Todos são acusados de agirem em um esquema financiado por João Aparecido Ferraz Neto, conhecido como 'João Cabeludo'.

João é um traficante condenado a mais de 500 anos de prisão e que está foragido desde 2011. As autoridades suspeitam que ele esteja escondido na Bolívia.

A decisão da 3ª Vara Criminal de São José dos Campos tornou réu por organização criminosa e lavagem de dinheiro 13 pessoas ligadas ao traficante. O grupo, formado por parentes do criminoso e empresários, é acusado de usar empresas laranjas para lavar dinheiro com origem no tráfico.

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As ações, que ocorreram de 2015 a 2022, foram divididas em dois núcleos na denúncia do Ministério Público de São Paulo. Um é chefiado por Valéria Aparecida da Silva, ex-mulher do traficante. O outro por Ingrid Fernanda Andrade Ferraz, filha de João Cabeludo.

No núcleo de Ingrid, também está o marido dela, Rafael Augusto Andrade Santos. Eles são acusados de lavar o dinheiro ilegal por meio de empresas, uma delas no setor de festas, que fica em Minas Gerais.

Segundo a denúncia, em 2020 e 2021, "em que o setor de festas foi vertiginosamente afetado em razão de medidas de prevenções sanitárias a empresa obteve uma expressiva movimentação financeira, de aproximadamente oitocentos mil reais, o que não é crível diante do contexto da época, evidenciando que a empresa foi utilizada tão somente como fachada à consecução do fim ilícito da lavagem de capitais".

No núcleo de Ingrid também estão o casal Eliza Martini Borges e Thiago Amery dos Santos, proprietários de uma loja de carros que funcionava em São José dos Campos, mas foi fechada. A denúncia aponta que os dois recebiam dinheiro em espécie de Rafael e Ingrid e depois devolviam em transferências para empresas deles.

O outro grupo era chefiado por Valéria. Com ela atuavam o filho João Rafael da Silva Ferraz, a mãe Maria Lúcia da Silva Cruz e os irmãos Tiago Henrique da Cruz e Dimas Rodolfo da Cruz, além dos empresários Inácio Cézar Marques de Sousa, Ubiratan Batista Antunes, Haroldo Justino dos Santos e Clayton de Sousa.

Com os parentes, Valéria mantinha negócios em sociedade, que, segundo o Ministério Público, eram usados para lavagem de dinheiro em milhares de movimentações financeiras.

A denúncia aponta que de 2010 a 2021, Valéria recebeu R$ 9,7 milhões em suas contas bancárias e fez expressiva quantidade de depósitos em dinheiro e saques. Para o MP, as transações fracionadas tinham como objetivo driblar a fiscalização feita pelo banco central. Além de usar empresas para lavagem de dinheiro, Valéria também adquiriu diversas joias e artigos de luxo, que somam o valor de R$ 3,7 milhões.

“Essas pessoas, os familiares desse traficante, eles não têm lastro pra todo esse patrimônio. Então a profissão que eles declaram ou as atividades que declaram são incompatíveis com a vida de luxo que eles tinham”, disse Alexandre Castilho, promotor do Gaeco do MPSP.

Na decisão desta semana, a Justiça manteve o sequestro dos bens dos acusados apreendidos em uma operação durante a primeira fase de investigação do Ministério Público de São Paulo e do Setor de Combate ao Crime Organizado e Lavagem de Dinheiro (SECCOLD) da Polícia Civil em 2022.

Na época, foram apreendidos carros, imóveis e joias avaliados em R$ 52 milhões. A movimentação de tanto dinheiro indica que João Aparecido Ferraz Neto está vivo, na visão do Ministério Público.

“Essa informação e outras também que a gente tem nos dá a certeza que de fato o João cabeludo encontra-se vivo la na Bolívia. Esses criminosos muitas das vezes criam histórias de que foram assassinados, enfim, para terem uma certa liberdade e tocarem a vida do crime fora do país. Então, a gente acredita sim que ele esteja vivo e escondido na Bolívia”, disse o promotor.

Na decisão, a Justiça ainda determinou medidas cautelares contra os réus, como monitoramento eletrônico e recolhimento domiciliar noturno. Também suspendeu porte de arma e determinou que armas e munições em nome dos acusados sejam entregues à polícia. Os réus serão intimados e deverão apresentar defesa em dez dias.

A Rede Vanguarda tentou contato com todos os réus, mas teve resposta apenas do advogado que representa Valéria, Maria Lúcia, Tiago Henrique e Dimas Rodolfo. A defesa deles disse que a acusação não têm respaldo em provas idôneas e que todos os esclarecimentos serão prestados no processo. O espaço segue aberto aos outros acusados. Veja a nota do advogado Bruno Ferullo na íntegra:

"Bruno Ferullo advogado de Valéria Aparecida, em nota disse que, diante da recente denúncia oferecida pelo Ministério Público, vem a público esclarecer que a acusação de envolvimento com os crimes de lavagem de dinheiro e organização criminosa não encontra respaldo em provas idôneas, tampouco reflete a verdade dos fatos.

A Sra. Valéria Aparecida sempre pautou sua conduta pelo respeito às leis e à ordem jurídica, e confia plenamente no Poder Judiciário para a apuração isenta e imparcial dos acontecimentos.

A defesa técnica reforça que, até o momento, não houve produção de elementos que justifiquem a tentativa de imputação criminal ora ventilada. A denúncia baseia-se em conjecturas e interpretações equivocadas, desconsiderando a ausência de atos que demonstrem dolo, habitualidade ou qualquer vínculo associativo com atividades ilícitas.

Ressaltamos, por fim, que todos os esclarecimentos cabíveis serão prestados nos autos do processo, com o compromisso de assegurar o direito constitucional ao contraditório e à ampla defesa, preservando-se a dignidade e a imagem da Sra. Valéria que permanece à disposição das autoridades competentes para colaborar com a elucidação dos fatos."

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