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Influenciador promove mutirão de limpeza em casa de acumuladora na Grande SP


Vida de uma moradora de Itaquaquecetuba é tomada pelo acúmulo de lixo

Imagine chegar ao ponto de viver em um cenário dominado pelo lixo? Parece inimaginável, mas essa é a realidade de muitas pessoas que possuem transtorno de acumulação. Como a dona de casa Byanca do Prado, que já acumulou quase 1 tonelada de lixo na própria casa, em Itaquaquecetuba na Grande SP.

Após enfrentar a perda dos pais, da avó, passar por violência e abandono, Byanca viu sua casa e sua vida serem tomadas pelo acúmulo de lixo. Influenciador Guilherme Gomes que tem projeto solidário comandou limpeza no imóvel onde ela vive.

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A história de Byanca é marcada pela dor, descaso e sofrimento silencioso. O cenário da casa onde vive impressiona. O lixo está espalhado por todos os lugares, são cômodos tomados pela desordem de objetos e também pelas memórias.

“Trazia muito lixo pra dentro de casa. Querendo ou não, eu tinha um companheiro que via eu acumulando e não me ajudava a me desfazer. Ele não ajudava, daí estava tudo acumulando”.

A ex-catadora de material reciclável acumulou toneladas de objetos dentro de casa, entre roupas, restos de comida e móveis, deixando o espaço intransitável.

Tudo começou há cerca de dois anos, após as perdas na família. Quem percebeu a gravidade do problema foi a vizinha e também amiga Daniela de Araújo, que é técnica de enfermagem.

“Um dia, ela me viu comendo comida do lixo e me chamou pra dentro. Me deu um prato de comida e me perguntou se eu queria ajuda. Querendo ou não, eu estava com esse companheiro e estava fraca.

Byanca acumulou quase 1 tonelada de lixo em casa

Reprodução/Tv Diário

Daniela foi quem pediu ajuda para a amiga em uma rede social.

“De um tempo pra cá, ela tinha sumido, eu não tinha mais visto ela. E quando eu gravei a situação, eu não tinha mais contato com ela, até que um dia ela foi em casa e pediu pra tirar o entulho da minha casa. E eu contei que eu tinha feito, porque ela falou que achava que ia morrer nessa situação, muito magra, debilitada, sentindo muita dor. Depois de uns dias que a produtora do Gui me respondeu”, contou a técnica de enfermagem.

A mensagem chegou ao influenciador Guilherme Gomes. Ele tem um projeto solidário que oferece limpeza voluntária em casas de pessoas com depressão e transtorno de acumulação.

“Eu fui ajudando essas pessoas de forma voluntária e fui pegando gosto por aquilo. Cheguei a São Paulo só pra atender uma agenda de 15 dias e não voltei mais. Cada ser humano tem uma história, né?! A gente tem as nossas dificuldades do dia a dia, dificuldade da vida que a gente passa, e eu acho que pra mim poder olhar pra essas pessoas, com um olhar mais humano, porque isso daqui é o fundo do poço literalmente, colocar uma escada lá pra pessoa subir de volta pra vida, é muito prazeroso”, destacou Gomes.

A situação da dona de casa já era conhecida pelos representantes dos moradores de Itaquaquecetuba. Desde 2024, a vereadora Lessandra Gonçalves acompanha o caso de Byanca e ajuda os animais que vivem com a ex-recicladora.

“A questão dos animais, quando eu vim aqui no ano passado, ela tinha uma gatinha com seis filhotes. Eu consegui doar esses filhotes. Tinha uma cachorrinha que também vivia nessa situação, uma moradora do bairro está cuidando. A gente precisa tratar a Byanca e os animais também”.

Com a ajuda do projeto, a casa onde Byanca mora vai passar por uma reforma, que inclui limpeza e novos móveis. Ela também deve passar por um tratamento psicológico. Neste período, seus animais de estimação receberão cuidados em uma clínica veterinária.

Segundo o veterinário Edson da Paiol, a única coisa que resta para as pessoas que vivem essa situação são seus animais.

“Geralmente, eles pegam os animais de rua, ou um cachorro, ou um gato, e acabam sendo o companheiro dela. Como a partir de hoje a vida dela está sendo transformada, mudada, o Gui entra com o trabalho de limpeza da casa e o trabalho social, no caso da Byanca, o meu papel é pegar os animaizinhos, levar pra clínica para que eles passem por todos os tipos de exames e cirurgias necessárias”.

Byanca deixa um recado para quem também passa por isso.

“Não perca a esperança. A esperança nunca morre”, declarou.

Transtorno de acumulação

A psicologa Fernanda Miranda, de Mogi das Cruzes, explicou que quando a pessoa é diagnosticada com o transtorno acumulativo, ela precisa ser retirada do ambiente onde acumula os objetos e passar por amparo psicológico.

“Se você tira tudo de uma vez, você precisa desse apoio pra saber como ressignificar as coisas, os seus medos e inseguranças. Porque senão, volta se a gente não cuidar, e transtorno é uma coisa séria”.

Ela relatou que a causa da doença pode ser atribuída a algum trauma que não foi bem gerido. Para preencher o vazio, a pessoa começa a acumular as coisas. Ou então, devido a uma escazes na infância, a pessoa, na fase adulta, não sabe lidar com o que aconteceu e acumula.

“Eu poso dizer que a gente começa na fase mais leve, a gente observa que quando ela vai se desfazer de algo, ela sofre. Às vezes, aquela xícara da avó, às vezes o caderninho do filho da escola, é como se a gente estivesse desmerecendo algo da família e a gente começa a sofrer muito por se desfazer daquilo. Então, só o fato de sentir ansiedade por se desfazer de algo, você já está no nível leve”, pontuo

Já o nível moderado é quando a pessoa percebe que os objetos estão acumulando e a casa já está desorganizada. Dessa forma, as pessoas se afastam porque não querem conviver com a desorganização.

“E a gente tem um nível mais grave que é o que a gente viu. Que a pessoa realmente está em um estado insalubre e precisa de ajuda”.

Fernanda frisou que é importante observar os sinais que esses pacientes dão logo no início do transtorno. Estudos mostram que entre 12 e 15 anos, a pessoa já começa a acumular de alguma forma. “Com 20 anos já começa a trazer prejuízos, e vai se agravando a cada década”.

Pets de Byanca vão ficar em clínica durante revitalização da casa

Reprodução/TV Diário

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