Quem é Lisa Cook, diretora do Fed que decidiu enfrentar Trump
A diretora do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos Estados Unidos), Lisa Cook, entrou com uma ação judicial para contestar a tentativa do presidente Donald Trump de demiti-la do cargo, segundo a Reuters, que teve acesso aos documentos oficiais do processo.
Conforme registros judiciais, Cook protocolou a ação nesta quinta-feira (28) na corte federal em Washington, alegando que Trump não possui autoridade para removê-la do cargo.
Na ação protocolada na Justiça americana, Cook acusa o presidente dos Estados Unidos de violar uma lei federal que permite ao presidente demitir um governador do Fed apenas por justa causa.
O processo alega que a lei exige a demonstração de 'causa' para a remoção de um diretor do Fed, "o que uma alegação infundada sobre pedidos de hipoteca privada apresentados pela governadora Cook antes de sua confirmação no Senado não exige", diz a denúncia.
A economista também pede que a Justiça emita uma ordem para impedir Trump de demiti-la.
Embora Trump tenha afirmado que a demissão de Cook tem efeito imediato, o Fed afirmou, em comunicado nesta semana, que ela continua no cargo até que haja uma decisão judicial sobre o caso.
Entenda o impasse envolvendo Trump e a diretora do Fed
O processo ocorre depois que Trump anunciou pelas redes sociais, na segunda-feira (25), a demissão de Lisa Cook. Em uma carta direcionada à diretora do Fed, ele mencionou acusações ligadas a hipotecas e declarou não confiar na integridade da economista.
Cook é a primeira mulher negra a integrar a diretoria do Fed. Na última sexta (22), Trump já havia afirmado que iria demitir Lisa Cook caso ela não renunciasse. Na ocasião, ela declarou que “não tinha intenção de ceder a pressões”.
A medida ocorre em meio a uma sequência de ataques de Trump contra o Fed e seus integrantes. Em outras ocasiões, ele chegou a xingar o presidente da instituição, Jerome Powell, de "burro" e "teimoso".
Na visão de Trump, o banco central está "atrasado" em reduzir os juros, e o país já deveria estar com taxas "pelo menos dois a três pontos abaixo".
Cook diz que não deixará o cargo
Para justificar o afastamento da diretora, Trump utilizou um dispositivo da lei de criação do Federal Reserve que autorizaria a demissão de membros do conselho "por justa causa".
Segundo ele, Cook teria cometido fraude hipotecária ao declarar duas residências como principais para obter melhores condições de financiamento.
A acusação contra Lisa Cook partiu de William Pulte, chefe da Agência Nacional de Financiamento de Habitação dos EUA e aliado de Trump.
Trata-se do mesmo personagem que formatou o argumento de pressão ao presidente do Fed, Jerome Powell, devido às reformas no prédio da instituição. Trump sugeriu que Powell promoveu um superfaturamento das obras, o que seria um argumento para demiti-lo também.
A legislação do Fed estabelece que o presidente dos EUA não tem autoridade direta para demitir membros do Conselho sem comprovação de falta grave. A decisão, inédita, amplia a ofensiva do republicano contra a independência do banco central americano.
Após a decisão do republicano, Cook declarou, por meio de seu advogado, que “não há motivo legal” para sua demissão e garantiu que não vai renunciar.
Demissão desafia independência histórica do Fed
A tentativa de afastamento sem o devido processo legal gera preocupações sobre a integridade institucional do banco central. A decisão de Trump, portanto, pode gerar riscos aos mercados financeiros, que ainda avaliam os efeitos do "tarifaço".
Paul Donovan, economista-chefe do UBS, alerta que o Fed pode se tornar o próximo “bode expiatório” da economia — quando um grupo é responsabilizado pela insegurança econômica. Segundo ele, no início do ano, a política dos EUA estava centrada no discurso de que “a culpa é dos estrangeiros”.
Especialistas destacam que medidas como essa podem desestabilizar os mercados financeiros, sobretudo em um momento já delicado, marcado pelos efeitos das tarifas comerciais.
Economista Lisa Cook será a primeira mulher negra na cúpula do Fed
Ken Cedeno/Reuters