Equipe médica fez reunião com a direção técnica do Hospital Dr. Léo Orsi Bernardes (HLOB), em fevereiro de 2025, reforçando a importância de aumentar o número de pediatras no plantão noturno. Ata da reunião realizada em fevereiro de 2025 entre a equipe médica e a diretoria do HLOB
Reprodução/Arte g1
Médicos alertaram a direção do Hospital Dr. Léo Orsi Bernardes (HLOB), em Itapetininga (SP), quanto à falta de pediatras semanas antes de uma família procurar a polícia e registrar um boletim de ocorrência por negligência após a morte de uma criança de um ano e seis meses no local. Menos de um mês depois, outro caso foi registrado. Dois médicos foram afastados e a Polícia Civil investiga os casos.
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O g1 teve acesso à ata da reunião, realizada no dia 26 de fevereiro, entre a equipe médica, composta por seis pediatras, e a direção técnica do hospital, que reforçava os problemas nos atendimentos.
Em alguns trechos da ata, os médicos ressaltam o impacto e a importância do hospital para a população. "Somos referência para 13 cidades, ou seja, 500 mil habitantes, sendo que temos dois pediatras para atender todo esse fluxo, dar conta de intercorrências e internações, evolução de pacientes (suporte de porta e sala vermelha, suturas e autorização de tomografia)."
Além disso, a falta de outros profissionais disponíveis, como de assistência social, principalmente no sábado e no domingo, bem como de assistência jurídica, para auxílio sobre questionamentos de prontuário e condutas de colegas, foram temas abordados na reunião.
A principal reclamação dos profissionais, no entanto, foi referente ao turno e disponibilidade de médicos pediatras no plantão noturno, após a decisão da diretoria de retirar o segundo médico que fazia o plantão "Cinderela", das 19h à 1h. Segundo eles, a equipe médica decidiu não assumir os riscos de plantões que exigissem mais de um único médico para suprir a demanda.
Os profissionais declararam na reunião que, por ser um hospital referência da região, e que não é possível prever e controlar a complexidade dos casos, era imprescindível a presença de dois plantonistas 24 horas.
Durante a reunião com a diretoria do HLOB, equipe médica comunicou sobre afastamento do plantão noturno
Reprodução/Arte g1
Desta forma, a equipe médica, na reunião e por meio de documento apresentado, assinado por 11 profissionais, informou ao representante da diretoria do HLOB, durante reunião, sobre o afastamento da equipe de pediatria no período noturno, das 19h às 7h, a partir do dia 1º de março, enquanto cumpriam normalmente as demandas relacionadas aos plantões diurnos, das 7h às 19h.
Durante as reclamações apresentadas pelos médicos em fevereiro, o diretor clínico se comprometeu, segundo documentado na ata, a passar para os demais representantes da direção do HLOB as reclamações para solucioná-las.
"Como também iria solucionar a demanda dos médicos do pronto atendimento, autorização de exames de imagem, preparo de equipe de enfermagem, atualização de valor de plantão, em que o último ponto estava sendo pago R$ 135 por hora, [valor] considerado 'defasado' com as demais instituições", conforme o documento.
Médicos alertaram HLOB pela falta de pediatras semanas antes de mortes serem investigadas
Carla Monteiro/g1
1ª denúncia de negligência
Semanas depois, a Polícia Civil, o Ministério Público e o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) passaram a investigar o primeiro caso de uma suposta negligência médica.
A família de Matteo Luiz Mariano Lanfredi Calejuri registrou um boletim de ocorrência após a morte da criança, de um ano e seis meses, no dia 17 de abril. O menino havia sido atendido por um médico plantonista, que foi afastado do cargo dois dias depois.
Conforme o boletim de ocorrência, a possível causa da morte de Matteo seria apendicite aguda e choque séptico, segundo o médico que fez o atendimento no pronto-socorro do HLOB.
Família denúncia negligência de hospital após morte de criança de 18 meses em Itapetininga (SP)
Arquivo pessoal
Afastamento de outro médico
Menos de um mês depois, um segundo médico que atendia no HLOB também foi afastado. O profissional era responsável pelo atendimento e conduta médica prestados a uma paciente gestante no dia 4 de maio.
Conforme apurado pelo g1, a mulher estava com 40 semanas de gestação e procurou atendimento médico no Hospital Léo Orsi Bernardes no sábado (3) com dores, mas foi dispensada por não apresentar dilatação.
No dia seguinte, domingo (4), ao retornar à unidade, os médicos decidiram fazer uma cesariana de emergência. Após o parto, o recém-nascido chegou a ser transferido para um hospital em Sorocaba (SP), mas não resistiu. Um boletim de ocorrência foi aberto pela família para investigar suposta negligência no atendimento.
O que dizem o hospital e a prefeitura
Em nota enviada ao g1, a assessoria do Hospital Léo Orsi Bernardes afirmou que possui um pronto atendimento médico com retaguarda de especialidades, inclusive pediatria, que conta com dois médicos plantonistas presenciais nas 12 horas diurnas e um médico plantonista presencial no período noturno, além de outro médico das 19h à 1h, sendo o período de maior demanda de antedimentos.
"Sendo assim, quando há necessidade de interconsulta por especialista em pediatria, o médico pediatra 'in loco' é acionado via contato telefônico."
Com referência aos questionamentos apontados na ata, o HLOB informou que rotinas clínicas e protocolos assistenciais estão em implantação para melhoria dos processos assistenciais.
Já a prefeitura informou que, em reunião realizada no dia 15 de maio com a diretoria do Hospital Dr. Léo Orsi Bernardes, a pedido do Poder Executivo, a Beneficência Nipo-Brasileira apresentou três analistas que, a partir desta data, farão uma auditoria interna, durante 30 dias, nas dependências do conjunto hospitalar.
"Após este período, a prefeitura e a direção do HLOB apresentarão os possíveis ajustes que eventualmente se façam necessários", finaliza a nota.
Investigação
O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) informou que foi instaurada uma sindicância e que o caso corre sob sigilo. Já o Conselho Federal de Medicina (CFM) não se posicionou.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP), as investigações sobre os dois casos de morte de crianças seguem em andamento no 1º Distrito Policial de Itapetininga. Os laudos solicitados ao Instituto Médico Legal (IML) estão em elaboração e, assim que concluídos, serão analisados pela autoridade policial, que prossegue com as diligências para esclarecer os fatos.
Em entrevista à TV TEM no início do mês de maio, o Ministério Público (MP), por meio do promotor de Justiça José Roberto de Paula Barreira, afirmou que também está investigando o caso, avaliando se, de alguma forma, o serviço hospitalar do HLOB está sendo realizado dentro da realidade que deve ser feito.
"Tendo efetividade, tendo resolutividade e, sim, se comprometendo a atendimento bom para a população", destaca José Roberto.
Além disso, o promotor afirmou que houve uma reunião com a administração do HLOB e o MP para verificar a necessidade da melhoria da gestão de contratação do pessoal, principalmente de contratação nas especialidades que mais necessitam do serviço hospitalar atualmente na unidade.
HLOB investiga duas mortes por negligência médica em menos de um mês em Itapetininga
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