Operação prende suspeitos de ameaçar moradores para manter tráfico em favela de São Paulo
Uma operação do Ministério Público e da Polícia Militar prendeu nesta segunda-feira (8) suspeitos de incitar protestos e ameaçar moradores para manter o tráfico de drogas na maior favela da região central de São Paulo.
A investigação descobriu que a comunidade, erguida debaixo de um viaduto na década de 1990, ainda servia como esconderijo de armas e drogas do PCC. Mesmo depois de uma grande operação, em agosto de 2024, que revelou como um conjunto de atividades criminosas garantia a existência da área conhecida como Cracolândia - que hoje tem um número bem menor de usuários.
Nos últimos meses, ao acompanhar o entra e sai no local, policiais perceberam que traficantes se passavam até por catadores de material reciclável para distribuir entorpecentes nas ruas do Centro de São Paulo. Alessandra Moja Cunha, que se apresenta como líder comunitária, é suspeita de chefiar o esquema. A polícia prendeu nesta segunda-feira (8) nove pessoas. Dois suspeitos estão foragidos. Alessandra é irmã do traficante Leonardo Moja, o Leo do Moinho, que chefiava o tráfico na região e está preso desde a operação de agosto.
“Por meio da apreensão do celular do Leonardo Moja, se descobriu que a Alessandra exercia diversas funções a mando do Leonardo Moja e se reportava a ele, inclusive relativas à disciplina do Primeiro Comando da Capital”, afirma o promotor de Justiça Juliano Atoji.
Planilhas que os promotores apreenderam mostram que Alessandra controlava as finanças do irmão. Os investigadores afirmam que era ela quem cobrava os aluguéis dos cerca de 40 imóveis de Leonardo Moja na favela. Mas essa fonte de renda começou a secar. O governo do estado pediu à União, dona do terreno, a cessão da área para construir um parque.
Em maio, os governos federal e estadual assinaram um acordo que destina R$ 250 mil para que cada família possa ter direito a uma casa própria, em outro ponto da cidade. Aos poucos, famílias começaram a deixar a favela. Alguns moradores se mostraram contrários às remoções. Os protestos chegaram a impedir a circulação de trens.
Os investigadores afirmam que essas manifestações foram orquestradas por Alessandra Moja. O objetivo dela era criar tumulto e impedir a remoção das famílias. Os promotores afirmam que, como essa estratégia não vinha funcionando, Alessandra passou a extorquir dinheiro dos moradores que aceitavam a ajuda financeira do governo.
“Os traficantes conseguiam e permaneciam no local tentando se reerguer financeiramente para fortalecer esse movimento, sob o pretexto de movimento social, tentando de alguma forma prosseguir com a traficância e o domínio territorial do centro de São Paulo”, diz Juliano Atoji.
Segundo o governo paulista, das 880 famílias que vivem na área, 823 já aderiram ao plano de reassentamento. O secretário de Habitação, Marcelo Cardinale Branco, disse que, agora, as poucas famílias que ainda não saíram ficarão livres para decidir:
“Essas famílias vão ter mais liberdade, já que as lideranças ali do tráfico de drogas não estão mais lá por conta dessa operação do Ministério Público e da polícia. É mais um passo importante para que a gente faça o resgate dessas famílias”.
Alessandra Moja disse que é inocente. O Jornal Nacional não conseguiu contato com a defesa de Leonardo Moja.
Operação prende suspeitos de incitar protestos e ameaçar moradores para manter o tráfico de drogas na maior favela da região central de São Paulo
Reprodução/TV Globo
LEIA TAMBÉM
Operação mira rede criminosa na Favela do Moinho, que abastecia a Cracolândia com drogas
PCC usava Favela do Moinho como 'quartel-general' no Centro de SP para tráfico, lavagem e extorsão de moradores de até R$ 100 mil
Quem são os alvos da operação do MP que mira rede criminosa na Favela do Moinho e na Cracolândia, no Centro de SP