Advogada se tornou um dos ícones da luta dos familiares de mortos pelo regime militar. História de Eunice é retratada em 'Ainda Estou Aqui', vencedor do Oscar de Filme Estrangeiro. A advogada Eunice Paiva
Reprodução/TV Globo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) concedeu a Ordem de Rio Branco como homenagem póstuma à advogada Eunice Paiva (1929-2018), um dos ícones da luta pelo reconhecimento dos assassinatos e torturas cometidos durante a ditadura militar (1964-1985).
Eunice foi casada com o ex-deputado Rubens Paiva, preso, torturado e morto em 1971 por ser considerado um opositor do regime. A condecoração é um reconhecimento do governo à trajetória da advogada.
A busca de Eunice por justiça, enquanto teve de criar seus cinco filhos, a transformou em um símbolo de resistência contra a ditadura.
A história da advogada e sua família foi contada no livro "Ainda Estou Aqui", lançado em 2015 pelo escritor Marcelo Rubens Paiva, filho de Eunice e de Rubens Paiva.
O livro deu origem ao filme homônimo, que conquistou o inédito Oscar de Melhor Filme Estrangeiro para uma produção brasileira. O longa "Ainda Estou Aqui" é um original Globoplay.
Eunice Paiva, símbolo da luta contra a ditadura militar, morre em SP aos 86 anos
Quem foi Eunice Paiva, símbolo da luta contra a ditadura interpretada por Fernanda Torres
Trajetória
Maria Lucrécia Eunice Facciolla Paiva nasceu em São Paulo em 1929. Ela conheceu Rubens Paiva em 1947 e eles se casaram em 1952. O casal teve cinco filhos: Marcelo, Veroca, Eliana, Nalu e Babiu.
Em 20 de janeiro de 1971, Rubens Paiva, um dos deputados cassados pela ditadura, foi levado pela polícia da casa em que vivia com a família no Leblon, no Rio de Janeiro, e esta foi a última vez que ele foi visto. Seu corpo nunca foi encontrado.
Eunice não desistiu de buscar o paradeiro do seu marido. Chegou a ficar presa por 12 dias. A resposta oficial só veio 25 anos depois, quando, em 1996, ela conseguiu um atestado de óbito e o reconhecimento da morte de Rubens Paiva pela ditadura.
"Posso dizer que eu fico até grata com essa solução que foi dada e acho que é um capítulo encerrado na nossa vida. Agora realmente encerrado, embora a memória do Rubens, a saudade dele, a importância que ele teve para nós a gente mantém, mas num outro plano, no plano da afetividade, da saudade, tudo mais", disse ela na época.
Mortos e Desaparecidos: o que faz a comissão, da qual Eunice Paiva fez parte
Eunice era formada em Letras e, após desparecimento do marido, estudou Direito, se tornou especialista em direito indígena e foi consultora do governo federal, do Banco Mundial e da ONU.
Eunice morreu aos 86 anos no dia 12 de dezembro de 2018 em São Paulo. Ela lutava contra o Mal de Alzheimer.
A condecoração
A condecoração de Eunice no grau de comendador foi publicada no "Diário Oficial da União" desta quarta-feira (28).
A Ordem de Rio Branco leva o nome do patrono da diplomacia brasileira, Barão do Rio Branco, e foi criada em 1963 para reconhecer a critério do governo brasileiros, estrangeiros e instituições "que por seus serviços ou por mérito excepcional, se tenham tornado merecedores desta distinção".
A ordem é concedida em cinco classes: grã-cruz, grande oficial, comendador, oficial e cavaleiro. A distinção também é dividida em dois quadros:
ordinário, composto por diplomatas da ativa;
suplementar, que reúne, além de diplomatas aposentados, pessoas físicas e jurídicas nacionais ou estrangeiras.
‘Ainda Estou Aqui’: brasileiros comemoram primeiro Oscar do país em clima de Copa do Mundo