A autora e professora Lavínia Rocha destaca que a afro literatura para crianças e adolescentes é muito importante para a formação do pensamento e identificação nas leituras. Lázaro Ramos na Bienal do Livro do Rio
Divulgação/Bienal do Livro Rio
A literatura afrocentrada tem sido um dos destaques da edição 2025 da Bienal do Rio, que vai até domingo (22).
Curador da Bienal, Lázaro Ramos observa que os livros são capazes de gerar uma forte identificação entre personagens e leitores e a literatura afrocentrada tem um potencial forte neste sentido. "Ela potencializa a autoestima”, diz o ator e escritor.
Para a autora e professora Lavínia Rocha, a representatividade na literatura é uma “questão coletiva”.
A literatura negra, por definição, se dá quando é escrita por autores negros, a partir do seu ponto de vista e escrito para os seus. A literatura afrocentrada vai pelo mesmo caminho e abarca cotidianos, imaginários, costumes e símbolos da população negra - que é a maioria no país, mas que até então era pouco retratada.
“Eu sempre li muitos livros que tivessem protagonistas brancos e vi séries, filmes e novelas nesse sentido. Era a minha referência, era o que eu queria ser, ter cabelo liso, olho claro, pele branca. Foi muito importante pra mim quando eu pensei: eu queria muito ter uma personagem que se parecesse comigo”, afirma Lavínia.
Lavínia Rocha no lançamento de seu livro na Bienal do Livro Rio
Reprodução/Gláucia Loyola
A escritora, então, passou a criar as próprias histórias onde os personagens eram negros, principalmente em histórias infantis. Atualmente, ela tem 17 livros publicados. O mais recente, o título "O que você pensa quando falo África?", foi lançado na Bienal desse ano.
“Quando a gente fala da nossa experiência como pessoas negras, eu acho que ela tem um elemento a mais: que é trazer uma identidade que muitas vezes foi invisibilizada, que não é vista, que não é percebida, que não é notada nas suas nuances”, diz Lázaro Ramos.
Para ele, que lançou o livro "Na Nossa Pele: Continuando a Conversa" em março, a literatura afrocentrada junta duas coisas: experiência própria e qualidade.
“Mas por outro lado, é uma literatura também que é de extrema qualidade, e aí eu tô falando da escrita desses grandes autores que a gente tem: Jeferson Tenório, Itamar [Vieira Junior], Eliana [Alves Cruz], Conceição, enfim, é até ruim citar nomes que sempre falta alguém. O livro nos informa, nos entretêm, nos ensina, nos liberta, nos emancipa”, reflete.
“Você se identificar, se ver, refletir sobre sua existência, potencializa a autoestima, mesmo nas histórias dolorosas”, conclui Lázaro.
Para Lavínia, é uma literatura que também mostra possibilidades na vida real.
“Você se vê identificada ali e entende que aquela história também é pra você. No sentido de: eu também mereço finais felizes, viver uma vida feliz, uma comédia romântica. E é um lugar de reencontro com a ancestralidade, de entender que somos frutos de uma história muito maior do que uma história de escravidão, que nós somos um legado”, pensa a autora.
Lavínia, que também é professora infantil, afirma que sentiu mais interesse dos alunos nas histórias quando eles se viam representados.
“Eu tenho convicção de que é algo que interfere no hábito da leitura”, conclui.