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Prefeitura de SP não tem plano para lidar com apagões após eventos climáticos extremos, aponta relatório


Prefeitura de SP não tem plano para lidar com apagões após eventos climáticos extremos, aponta relatório

A cidade de São Paulo enfrenta o terceiro dia seguido de apagão após o vendaval da última quarta-feira (10), que registrou ventos de 96,3 km/h e deixou dois milhões de imóveis sem luz. Apesar de o prefeito Ricardo Nunes (MDB) defender a substituição da Enel por entender que a empresa não dá conta do serviço, a própria administração municipal não tem um plano específico para lidar com blecautes provocados por eventos extremos.

Segundo o PlanClima, o Plano de Ação Climática da capital, criado em 2021 e atualizado anualmente, não há nenhuma diretriz que trate de como a cidade deve responder a apagões após temporais, vendavais ou ondas de calor.

O documento estabelece metas até 2050 e menciona ações como aprimorar alertas de tempestades e rever protocolos de mobilidade, mas não aborda os impactos na infraestrutura de distribuição de energia.

A falha em prever estratégias para blecautes contrasta com o que foi debatido globalmente na COP30, realizada no mês passado em Belém (PA). Entre 194 países, “adaptação climática” foi um dos temas centrais: cidades do mundo inteiro precisam se preparar para minimizar danos causados por eventos extremos como ventos intensos, secas e chuvas volumosas.

Queda de árvores deixou várias regiões de SP sem energia

Felipe Rau/Estadão Conteúdo

No caso de São Paulo, porém, o relatório mais recente da Secretaria-Executiva de Mudanças Climáticas (Seclima) lista 11 ações em andamento na categoria “adaptar a cidade de hoje para o amanhã” — nenhuma delas ligada à proteção ou modernização da rede elétrica.

À TV Globo, o secretário executivo de mudanças climáticas de São Paulo, José Renato Nalini, reconheceu que o tema deveria estar no PlanClima.

"Há um projeto, é intenção da prefeitura é insistir nisso, porque é uma questão de segurança. Os cientistas nos alertaram durante décadas e nós não prestamos atenção. Agora quem tem a palavra é a natureza, e ela está muito ressentida."

Apagões se repetem

Na quarta, a cidade de São Paulo enfrentou uma ventania considerada inédita pelos meteorologistas: é a primeira vez que rajadas tão fortes atingem a capital sem a presença de chuva ou temporais. O vento começou ainda pela manhã e seguiu intenso até a noite, algo que também chamou a atenção do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

Os ventos fortes deixaram um rastro de destruição na capital e região metropolitana de São Paulo: mais de 2 milhões de imóveis sem luz, queda de 151 árvores, fechamento de parques, voos cancelados e até consultas em hospital precisaram ser canceladas.

Mas não é a primeira vez que a capital fica longos períodos sem luz após eventos climáticos extremos. Em outubro do ano passado, algumas regiões chegaram a ficar cinco dias sem energia depois de um temporal.

Dados do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP (IAG/USP) mostram que chuvas acima de 100 milímetros se tornaram mais frequentes nas últimas duas décadas. Entre 2001 e 2020, foram 11 episódios, contra 10 registrados entre 1941 e 2000 — um aumento significativo apesar do período anterior ter seis décadas de registros.

O climatologista Carlos Nobre explica que os temporais extremos têm relação direta com o aquecimento global. Para reduzir riscos no longo prazo, ele defende uma grande restauração florestal, capaz de diminuir temperaturas e atenuar tempestades e rajadas de vento.

"Quando isso acontecer vamos abaixar as temperaturas máximas e esses eventos irão diminuir."

A Seclima afirmou que o PlanClima está em fase de revisão e que, apesar de ser muito caro enterrar os fios, discute como melhorar a residência a infraestrutura de distribuição de energia da cidade.

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