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Putin quer garantia de que Otan não se expandirá para perto de suas fronteiras para terminar a guerra, diz agência

Putin quer carta assinada por líderes do Ocidente se compromentendo a que Otan não convide mais países próximos à fronteira da Rússia, caso da Ucrânia, segundo disseram fontes russas à Reuters. Trump sobe tom contra a Rússia, que reage: "III Guerra Mundial"

As condições do presidente russo, Vladimir Putin, para o fim da guerra na Ucrânia incluem uma garantia por escrito de que os líderes ocidentais interrompam a expansão da Otan para o leste.

A exigência está na proposta de cessar-fogo que a Rússia se comprometeu a elaborar em conjunto com a Ucrânia, segundo disseram fontes russas das negociações à agência de notícias Reuters nesta quarta-feira (28).

A Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan) é a aliança militar criada por potências do Ocidente em 1949 para fazer frente à então União Soviética e que prevê defesa mútua em caso de ataque a qualquer um de seus 32 membros. Vários vizinhos da Rússia e ex-nações soviéticas, como Letônia, Estônia e Lituânia, fazem parte da aliança, e discussões sobre a adesão da Ucrânia motivaram Putin a invadir a Ucrânia em 2022.

Segundo as fontes consultadas pela Reuters — três membros do governo russo com acesso às negociações de paz — a proposta de cessar-fogo de Putin também pede que o Ocidente suspenda parte das sanções impostas à Rússia.

O presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou várias vezes que deseja encerrar o conflito europeu mais mortal desde a Segunda Guerra Mundial e demonstrou crescente frustração com Putin nos últimos dias, alertando na terça-feira que o líder russo estava "brincando com fogo" ao se recusar a iniciar negociações de cessar-fogo com Kiev, enquanto suas forças obtinham avanços no campo de batalha.

Após conversar com Trump por mais de duas horas na semana passada, Putin disse que havia concordado em trabalhar com a Ucrânia em um memorando que estabeleceria os contornos de um acordo de paz, incluindo o momento do cessar-fogo. A Rússia afirma que está atualmente redigindo sua versão do memorando e não pode estimar quanto tempo isso levará.

Kiev e os governos europeus acusaram Moscou de protelar o avanço de suas tropas no leste da Ucrânia.

"Putin está pronto para fazer a paz, mas não a qualquer preço", disse uma fonte russa de alto escalão com conhecimento do pensamento do Kremlin, que falou sob condição de anonimato.

As três fontes russas disseram que Putin quer um compromisso "por escrito" das principais potências ocidentais de não expandir a aliança da OTAN liderada pelos EUA para o leste – uma abreviação para a exclusão formal da Ucrânia, Geórgia, Moldávia e outras ex-repúblicas soviéticas.

A Rússia também quer a neutralidade da Ucrânia, o levantamento de algumas sanções ocidentais, uma resolução da questão do congelamento de ativos soberanos russos no Ocidente e proteção para os falantes de russo na Ucrânia, disseram as três fontes.

A primeira fonte disse que, se Putin perceber que não consegue chegar a um acordo de paz em seus próprios termos, buscará mostrar aos ucranianos e europeus, por meio de vitórias militares, que "a paz amanhã será ainda mais dolorosa".

O Kremlin não respondeu a um pedido de comentário sobre a reportagem da Reuters. Putin e autoridades russas têm afirmado repetidamente que qualquer acordo de paz deve abordar as "causas profundas" do conflito – uma abreviação russa para a questão da expansão da OTAN e o apoio ocidental à Ucrânia.

Kiev tem afirmado repetidamente que a Rússia não deve ter poder de veto sobre suas aspirações de ingressar na OTAN. A Ucrânia afirma que precisa que o Ocidente lhe dê uma forte garantia de segurança, capaz de dissuadir qualquer futuro ataque russo.

A OTAN também afirmou no passado que não mudará sua política de "portas abertas" apenas porque Moscou exige. Um porta-voz da aliança de 32 membros não respondeu às perguntas da Reuters.

Putin ordenou o envio de dezenas de milhares de tropas para a Ucrânia em fevereiro de 2022, após oito anos de combates no leste da Ucrânia entre separatistas apoiados pela Rússia e tropas ucranianas.

A Rússia atualmente controla pouco menos de um quinto do país. Embora os avanços russos tenham se acelerado no último ano, a guerra está custando caro à Rússia e à Ucrânia em termos de baixas e gastos militares.

A Reuters noticiou em janeiro que Putin estava cada vez mais preocupado com as distorções econômicas na economia russa em tempos de guerra, em meio à escassez de mão de obra e às altas taxas de juros impostas para conter a inflação. O preço do petróleo, a base da economia russa, caiu constantemente este ano.

Trump, que se orgulha de ter relações amigáveis ​​com Putin e expressou sua crença de que o líder russo deseja a paz, alertou que Washington poderia impor novas sanções se Moscou adiar os esforços para encontrar um acordo. Trump sugeriu nas redes sociais no domingo que Putin havia "enlouquecido completamente" ao lançar um ataque aéreo massivo contra a Ucrânia na semana passada.

A primeira fonte disse que, se Putin visse uma oportunidade tática no campo de batalha, avançaria ainda mais para dentro da Ucrânia — e que o Kremlin acreditava que a Rússia poderia lutar por anos, independentemente das sanções e dos problemas econômicos impostos pelo Ocidente.

Uma segunda fonte disse que Putin estava agora menos inclinado a ceder em termos de território e mantinha sua posição pública de que queria que a Rússia reivindicasse a totalidade das quatro regiões do leste da Ucrânia.

"Putin endureceu sua posição", disse a segunda fonte sobre a questão territorial.

Ampliação da Otan

Enquanto Trump e Putin disputavam publicamente as perspectivas de paz na Ucrânia, a Reuters não conseguiu determinar se a intensificação da guerra e o endurecimento das posições anunciam a determinação de chegar a um acordo ou o colapso das negociações.

Em junho do ano passado, Putin estabeleceu seus termos iniciais para o fim imediato da guerra: a Ucrânia deve abandonar suas ambições na OTAN e retirar todas as suas tropas de todo o território de quatro regiões ucranianas reivindicadas e, em sua maioria, controladas pela Rússia.

Além da Crimeia, anexada em 2014, a Rússia atualmente controla quase toda Luhansk, mais de 70% das regiões de Donetsk, Zaporizhzhia e Kherson. Também ocupa uma pequena parte das regiões de Kharkiv e Sumy e ameaça Dnipropetrovsk.

O ex-presidente dos EUA, Joe Biden, líderes da Europa Ocidental e a Ucrânia classificaram a invasão como uma apropriação de terras ao estilo imperial e prometeram repetidamente derrotar as forças russas.

Putin descreve a guerra como um divisor de águas nas relações de Moscou com o Ocidente, que, segundo ele, humilhou a Rússia após a queda da União Soviética em 1991, ao expandir a OTAN e invadir o que considera ser a esfera de influência de Moscou.

Na cúpula de Bucareste de 2008, os líderes da OTAN concordaram que a Ucrânia e a Geórgia um dia se tornariam membros. Em 2019, a Ucrânia alterou sua constituição, comprometendo-se com o caminho da adesão plena à OTAN e à União Europeia.

Trump afirmou que o apoio anterior dos EUA à candidatura da Ucrânia à OTAN foi uma das causas da guerra e indicou que a Ucrânia não obterá a adesão. O Departamento de Estado dos EUA não respondeu a um pedido de comentário para esta reportagem.

Putin, que ascendeu ao cargo mais alto do Kremlin em 1999, voltou repetidamente à questão da expansão da OTAN, inclusive em seus comentários mais detalhados sobre uma possível paz em 2024.

Em 2021, apenas dois meses antes da invasão russa, Moscou propôs um projeto de acordo com os membros da OTAN que, nos termos do Artigo 6, obrigaria a OTAN a "abster-se de qualquer nova expansão da OTAN, incluindo a adesão da Ucrânia e de outros Estados". Diplomatas dos EUA e da OTAN disseram na época que a Rússia não poderia vetar a expansão da aliança.

A Rússia quer um compromisso por escrito com a OTAN porque Putin acredita que Moscou foi enganada pelos Estados Unidos após a queda do Muro de Berlim em 1989, quando o Secretário de Estado americano, James Baker, garantiu ao líder soviético Mikhail Gorbachev, em 1990, que a OTAN não se expandiria para o leste, disseram duas das fontes.

Houve tal promessa verbal, disse o ex-diretor da Agência Central de Inteligência (CIA), William J. Burns, em suas memórias, mas ela nunca foi formalizada — e foi feita em um momento em que o colapso da União Soviética ainda não havia ocorrido.

A OTAN, fundada em 1949 para fornecer segurança contra a União Soviética, afirma não representar nenhum desafio para a Rússia — embora sua avaliação de 2022 sobre a paz e a segurança na área euro-atlântica tenha identificado a Rússia como a "ameaça mais significativa e direta".

A invasão da Ucrânia pela Rússia naquele ano levou a Finlândia a aderir à OTAN em 2023, seguida pela Suécia em 2024.

Líderes da Europa Ocidental têm afirmado repetidamente que, se a Rússia vencer a guerra na Ucrânia, poderá um dia atacar a própria OTAN — um passo que desencadearia uma guerra mundial.

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