Diversos nomes consagrados já participaram da roda. Clube Renascença, que abriga a roda, passava por dificuldades e hoje passa por reforma estrutural. Samba do Trabalhador celebra 20 anos: ponto de encontro informal de amigos virou reduto histórico do ritmo no Rio
Uma das rodas de samba mais tradicionais do Rio de Janeiro está completando 20 anos. De um ponto de encontro informal de amigos músicos, o Samba do Trabalhador, realizado todas as segundas-feiras no Clube Renascença, no Andaraí, Zona Norte da cidade, se consolidou como um importante ponto de encontro da cultura carioca.
Tudo começou em 30 de maio de 2005, quando o Brasil enfrentava um racionamento de energia elétrica e o Fluminense comemorava o título de campeão carioca. Naquela tarde, o cantor e compositor Moacyr Luz reuniu um grupo de amigos e compositores para uma roda de samba totalmente informal no Renascença, conhecido como Rena.
“Eu vinha pra cá, o clube não tinha essa estrutura toda. Tinha duas cadeiras, que nem combinavam”, relembra Moacyr Luz. “Vim comer a feijoada do Jorge Ferraz, falecido presidente do clube, e no caminho falei: ‘Jorge, vamos fazer um samba na segunda-feira? Já tá todo mundo quebrado mesmo, faz de tarde que não tem problema de luz, não tem som, não tem nada’. E ele respondeu: ‘Faz a hora que você quiser’.”
Na época, o Clube Renascença — referência na cultura afro-brasileira — passava por dificuldades financeiras e corria o risco de fechar as portas. Hoje, passa por uma reforma estrutural com investimento de R$ 3 milhões da Prefeitura do Rio.
“Isso mudou a história do clube e também das pessoas que trabalham aqui”, afirma Jaqueline Martins, produtora do evento. “Tem gente com carteira assinada, empresas de sonorização, segurança… virou um polo de geração de emprego.”
O que começou como um encontro despretensioso de amigos em sua folga se transformou em um espaço de encontros históricos. Diversos nomes consagrados já participaram da roda.
“Cada dia é uma surpresa”, conta Daniel Neves, músico responsável pelo violão de sete cordas. “Teve um dia que me emocionei com a presença do Agnaldo Timóteo. Hoje vem sempre Toninho Geraes, Jorge Aragão, Mauro Diniz… essas feras todas", acrescenta.
Entre outros artistas que já passaram pela roda estão Dudu Nobre, Xande de Pilares e Diogo Nogueira. O Samba do Trabalhador hoje é um grupo premiado da música brasileira, com discos gravados e reconhecimento nacional.
“É uma roda de samba que está deixando registrado para a eternidade um trabalho fonográfico, com músicas autorais, de novos compositores, novos cantores e músicos”, destaca o cantor Gabriel Cavalcante.
Ao completar duas décadas, Moacyr Luz se emociona: “São 20 anos. Chegamos até aqui como grupo, com convívio, relacionamento, superando diferenças, apostando nos novos valores… uma geração de músicos se formou aqui no Samba do Trabalhador.”