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USP registra série de episódios de violência causados por influenciadores na Faculdade de História


Vista interna do Prédio da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas (FFLCH), na Universidade de São Paulo (USP), na Zona Oeste de São Paulo, em 2016

Marcos Santos/USP Imagens

A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, em São Paulo, tem sido palco de episódios de violência nos últimos meses envolvendo influenciadores digitais e estudantes. Desde maio, ao menos oito ocorrências foram registradas e a direção da unidade já acionou a Polícia Civil, a Reitoria da universidade, a Secretaria da Segurança Pública e o Ministério Público Estadual.

Segundo a direção, influenciadores que se identificam como de direita entram no prédio da faculdade — tombado pelo patrimônio histórico — para arrancar cartazes de cunho político e provocar alunos. Em seguida, publicam os vídeos nas redes sociais, muitas vezes editados para mostrar supostas agressões contra eles.

Um dos participantes dessas ações é um adolescente de 17 anos, estagiário na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), no gabinete do deputado Tenente Coimbra (PL). Em uma das visitas, ele estava acompanhado de integrantes de um grupo que se apresenta como “União Conservadora”, que interromperam inclusive um torneio de xadrez dentro da faculdade.

Caso mais grave: agressão com mordidas

O episódio mais grave ocorreu no dia 5 de setembro, quando integrantes da União Conservadora voltaram à FFLCH. Durante a confusão, um estudante, identificado como Paulo, foi mordido duas vezes. Ele registrou boletim de ocorrência.

“Eles estavam mais agressivos e provocativos. Quando tentei impedir que um cara gravasse, ele torceu meu braço e me mordeu duas vezes”, relatou o aluno.

No mesmo dia, o grupo ainda tentou forçar a entrada em um laboratório de estudos, acuando uma funcionária e uma estagiária que estavam no local.

Desde maio, a direção da FFLCH registrou quatro boletins de ocorrência. Os episódios também foram comunicados à Reitoria e às autoridades policiais.

Vereador usou carro oficial

O vereador Lucas Pavanatto (PL) esteve três vezes na Faculdade de História da USP, sempre gravando vídeos para suas redes sociais em que questiona o que chama de “doutrinação esquerdista” no curso. Ele utilizou o carro oficial da Câmara Municipal para ir até o local.

“O carro oficial é para o deslocamento do parlamentar. O meu é blindado porque já sofri ameaças de morte e é a minha forma de me proteger”, disse o vereador.

Pavanatto afirma que foi agredido por estudantes durante as visitas e que sua intenção era “propor debate político”.

“Como parlamentar, sou representante do povo. Levo minhas opiniões para dentro da universidade para promover esse tipo de debate, mas em nenhuma das vezes isso foi bem aceito.”

Para a direção da FFLCH, as ações estão longe de representar discussão política.

“Eles poderiam tentar convencer pessoas da faculdade conversando. Mas o que tem acontecido não é debate”, afirmou o diretor Adrian Fajul.

O que dizem os envolvidos

A Câmara Municipal informou que o carro usado pelo vereador é alugado e que o valor pago é da verba de gabinete, conforme previsto pelo regimento interno.

A Secretaria da Segurança Pública disse que foi procurada pela Reitoria da USP e que vai adotar providências.

O gabinete do deputado Tenente Coimbra informou que não tem relação com a presença do adolescente na USP e que ele foi contratado como estagiário pelo CIEE, que confirmou que a função é apenas para trabalhos administrativos internos.

A União Conservadora afirmou que o estudante da USP teria mordido o aluno porque tentava “roubar” o celular do presidente do grupo, Mário Fortes. Segundo o grupo, as ações visam conseguir assinaturas para exigir exame toxicológico dos alunos, e que os pais do adolescente estão cientes da participação dele nos vídeos.

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