Dono da loja disse que levou um mata-leão e acabou desmaiando. Polícia Militar, por sua vez, alegou que houve desacato. PM foi chamada porque distribuidora não poderia estar aberta de madrugada. Mas comércio é registrado como loja de conveniência. O caso foi parar na delegacia. Vídeo mostra policiais dando chutes e usando spray de pimenta durante ação na Serra
Uma abordagem feita pela Polícia Militar em um comércio em Laranjeiras, na Serra, Grande Vitória, terminou em confusão após os policiais terem sido filmados usando spray de pimenta e dando até chutes em algumas pessoas que estavam no local. O caso aconteceu na madrugada deste sábado (28).
O dono do estabelecimento, Eduardo Emerick Rosa, 38 anos, que foi alvo da ação da PM, afirmou que chegou a desmaiar durante a abordagem após receber um mata-leão de um dos policiais. Ele disse que foi agredido pelos PMs responsáveis após questionar a ordem de fechamento do seu estabelecimento.
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O comerciante foi conduzido à Delegacia Regional da Serra, onde assinou um Termo Circunstanciado de Ocorrência por desacato. Apesar disso, ele nega que tenha desacatado os policiais.
De acordo com Eduardo, a ação aconteceu por volta da 1h20. O comerciante disse ser vítima de uma "perseguição". Isso por que o mesmo policial já teria feito várias abordagens no ponto comercial.
O que diz a PM
Segundo a PM, os militares notaram uma aglomeração de pessoas no estabelecimento e foram até o local. Por se tratar de uma distribuidora de bebidas, o comércio não poderia estar aberto após as 23h, de acordo com uma lei municipal.
Vídeo flagra abordagem de policiais com chutes e spray de pimenta em loja na Serra, Espírito Santo
Reprodução
A Polícia Militar disse ainda que, durante a abordagem, alguns clientes hostilizaram os militares. Já o dono do comércio teria se negado e fechar o estabelecimento. Quando os PMs disseram que ele seria levado à delegacia, Eduardo teria resistido e precisou ser contido.
A PM disse ainda que o bairro é conhecido pelo tráfico de drogas.
Outra versão
O comerciante, por outro lado, rebate essa versão dada pela Polícia Militar e disse que tentou explicar aos policiais que a loja não é uma distribuidora de bebidas, por isso poderia funcionar após as 23h.
Segundo ele, os policiais chegaram em várias viaturas e exigiram o fechamento imediato do comércio. "Minha loja é toda legalizada. Tenho alvará do Corpo de Bombeiros, licença de funcionamento. Já fui fiscalizado antes. Falei com o sargento que, se estivesse errado, podia me notificar que eu me adequaria", afirmou.
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O estabelecimento conta na Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) como loja de conveniência. A empresa está ativa desde 2023, segundo a Receita Federal.
O dono da loja mostrou o CPF, mas um policial teria dito que aquela não era a forma correta de se identificar. Eduardo ofereceu que os agentes entrassem, e aí a situação piorou, segundo ele.
"A loja estava fechada com grade. Eu falei: 'Entra aqui que eu pego os documentos'. Quando virei de costas, um dos policiais me puxou. O sargento então mandou: 'Pode prender!'. Foi quando um deles me deu um mata-leão, eu desmaiei, caí de cara no chão e só voltei depois", relatou.
Confusão
A partir daí, uma confusão teria começado, com clientes e funcionários da distribuidora de bebidas tentando impedir que o comerciante fosse detido. "Devido ao fato, foi utilizado spray de pimenta para acalmar os ânimos que estavam exaltados", informou a PM.
Vídeo flagra abordagem de policiais com chutes e spray de pimenta na Serra, Espírito Santo
Reprodução
O comerciante disse que ficou com hematomas no rosto e realizou exame de corpo de delito. Sua esposa, Jennifer Carolina, que também trabalha no local, afirma ter sido agredida com chutes e spray de pimenta.
"Minha mulher quebrou a unha quando caiu, machucou o braço. Eles ainda apontaram uma arma para o peito do meu funcionário, que tentou filmar. Um senhor que vendia churrasquinho na esquina também levou spray de pimenta no rosto", contou Eduardo.
Eduardo negou que tenha resistido ou desacatado os agentes e afirmou que as imagens gravadas por câmeras e celulares de testemunhas comprovam sua versão.
"Fiquei quieto o tempo inteiro. Não levantei a mão, não ofendi ninguém. Só queria mostrar que estou dentro da lei. Eles chegaram determinados a me prender", disse Eduardo, que já procurou um advogado, fez corpo de delito nele e na esposa, e vai ingressar com processo contra o Estado.
"Não vou deixar isso passar. Eu tenho provas, tenho vídeos. Já basta", finalizou.
*Com informações de Paulo Ricardo Sobral, Bruno Nézio e Vitor Ferri.
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