Nunca um brasileiro tinha levado o prêmio de melhor ator no Festival de Cannes. Também foi a primeira vez que o Brasil levou dois prêmios em uma mesma edição do evento. Brasil em Cannes: "O agente secreto" leva prêmios de melhor ator e direção
O Brasil teve um dia histórico no Festival de Cinema de Cannes — um dos mais importantes do mundo. O filme "O Agente Secreto" levou dois prêmios, na disputa principal. Melhor diretor, com Kleber Mendonça. E melhor ator, com Wagner Moura.
Nas ruas, caixa eletrônico inoperante. Sorveteria fechada. Trânsito caótico.
Alguns dos sinais visíveis do apagão, que durou quase seis horas. Cerca de 160 mil residências ficaram sem eletricidade.
A polícia francesa investiga a causa. A principal suspeita: sabotagem. Cannes foi a cidade mais afetada.
O apagão ocorreu num momento de holofotes voltados justamente para Cannes. E não à toa: dia do encerramento do mundialmente famoso festival anual de cinema.
Antes, durante a semana, as homenagens já tinham valorizado o cinema brasileiro. Marianna Brennand recebeu o prêmio Women in Motion, que reconhece estreias de diretoras. Ela dirigiu Manas, uma produção da Inquietude, em parceria com Globo Filmes, Canal Brasil, Pródigo e Fado Filmes.
Já o documentário brasileiro Para Vigo Me Voy foi exibido no Festival. O filme -- da Coqueirão Pictures, em co-produção com Globo Filmes, Globonews, Sinédoque, Raccord e Dualto Produções -- celebra a vida e obra do diretor Cacá Diegues.
Hoje, o Brasil teve ainda mais o que comemorar. O filme “O Agente Secreto” fez história.
O longa, ambientado durante a ditadura militar no Brasil, conta a história de um professor que se muda para o Recife e descobre que está sendo espionado.
O filme levou dois prêmios na competição oficial - feito inédito para um filme nacional. Wagner Moura venceu como melhor ator - o primeiro brasileiro a conquistar a categoria.
O diretor Kleber Mendonça Filho recebeu o troféu no lugar dele, que está em Londres.
“Ele não apenas é um ator excepcional, mas também é uma ótima pessoa”, disse o diretor, em inglês.
Depois, Kleber Mendonça Filho teve que voltar ao palco para receber o prêmio de Melhor Direção. E brincou: "Eu já estava bebendo champagne".
"O Agente Secreto" também concorreu a melhor filme.
A Palma de Ouro acabou para “Um simples acidente”, rodado no Irã sem autorização oficial, pelo diretor Jafar Panahi, perseguido pelo regime.
Kleber Mendonça Filho destacou a importância dos prêmios, incluindo o da Federação Internacional da Imprensa Cinematográfica, concedido de forma paralela ao Festival.
"A defesa da cultura através do cinema, teatro, música, ela é prova de soberania nacional. Acho que o Brasil é uma fonte inesgotável de história, de poesia. O povo brasileiro é um grande povo e temos muitas histórias para contar", afirmou.
O crítico de cinema Marcelo Janot destacou que os prêmios podem funcionar como pontes para o mercado internacional.
"Sem dúvida, Cannes é a maior vitrine internacional pra um filme. Inclusive no Oscar. Os últimos vencedores do Oscar foram vencedores em Cannes. Então é importantíssima a visibilidade que o festival dá para um filme", disse.
O Brasil já conquistou premiações em Cannes. De melhor filme com "Pagador de Promessas", de Anselmo Duarte. Melhor direção com Glauber Rocha, por "O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro". Melhor ator revelação, com Rodrigo Santoro e Ricardo Teodoro. E melhor atriz, com Fernanda Torres e Sandra Corveloni.
Da capital britânica, Wagner Moura dividiu a emoção de levar o prêmio e representar o Brasil no exterior.
"É para o Brasil. Eu fico muito feliz mesmo. É um prêmio para o Brasil, para os que acreditam na cultura brasileira, para jovens que querem, principalmente no Nordeste, de onde eu venho, de onde Kleber vem. A cultura tem uma importância e a gente poder ter uma carreira como artistas brasileiros. O Brasil tem vocação para cultura", comemorou.
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