Rita e Antônio se conheceram em 1975, aos 16 e 21 anos, respectivamente. Mesmo com um começo improvável, o amor entre os dois resistiu ao tempo. Rita e Tony, em 1975, aos 16 e 21 anos, respectivamente.
Arquivo pessoal
Em 1975, um romance inesperado entre uma jovem de General Salgado (SP) e um artista circense mudou para sempre a vida de Rita de Cássia Veschi Costa e Antônio Ascendino Versolato, o Tony. Após apenas 18 dias de namoro, os dois decidiram fugir juntos para casar e, quase 50 anos depois, celebram uma história que foi construída sob a lona do circo.
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Rita, hoje com 66 anos, tinha apenas 16 anos quando conheceu Tony, então músico e artista de circo, nascido em Limeira (SP), que acabara de chegar à cidade com o grupo, fundado por seu pai. “Me apaixonei à primeira vista e daí, a gente já começou a namorar”, lembra.
“Nunca tinha ficado um dia longe do meu pai e dos meus irmãos. Mas por amor, eu abandonei tudo”, afirma.
Tony, com 21 anos, por sua vez, ficou encantado com a moça da nova cidade. “Tudo parou pra mim ali. Era como se aquele encontro já fosse previsto por Deus”, conta. Depois de algumas semanas tentando conciliar o namoro com a rotina do circo, ele propôs que eles se unissem de vez. “E ela topou”, recorda.
Após o namoro e o casamento, Tony (a esquerda) e Rita continuaram vivendo com o circo.
Arquivo pessoal
A vida nômade do circo logo exigiu uma escolha difícil. O grupo circense seguiu viagem para uma cidade vizinha, e Rita e Tony precisavam se revezar nas idas e vindas entre a cidade e General Salgado. Foi em uma dessas noites, quando estavam se preparando para ir a um baile, que os dois decidiram mudar tudo. “Naquela noite a gente não foi ao baile. A gente fugiu pro circo”, conta Rita. Na manhã seguinte, bem cedo, decidiram procurar o pai dela para contar a verdade.
“Não dava pra esconder. A gente queria casar, queria estar junto de verdade”, diz Tony, hoje com 71 anos.
A notícia sobre o novo casal circulou rapidamente em General Salgado. “A cidade entrou em alvoroço. O povo comentava que eu ia abandoná-la”, lembra Tony. Mas, ao contrário do que muitos temiam, a história tomou outro rumo. “Estamos juntos até hoje. Vamos fazer 50 anos de casados no dia 14 de junho. O destino nos uniu”, afirma.
O pai de Rita, inicialmente resistente por conta de uma experiência ruim com outra parente que havia se envolvido com um circense, acabou sendo convencido pela própria mãe, avó de Rita, a dar uma chance ao relacionamento. “A cidade inteira fala disso até hoje, do quanto ele estava calmo, confiante de que ia dar certo”, conta Tony.
Para Rita, o amor foi a força que a manteve firme diante das dificuldades. “Eu nunca pensei em desistir. O que me mantinha firme era o sonho de formar uma família”, compartilha. Nos primeiros anos de casamento, o casal enfrentou a vida dura em pequenos trailers, com espaço limitado e pouco conforto, mas nunca se afastaram do mundo circense. Rita logo passou a ajudar nas apresentações ao fazer números de abertura, com facas flamejantes e até mágica, como assistente de Tony (assista abaixo).
Casal formado por um circense e uma moradora da cidade completa 50 anos de casados
A história do casal gerou três filhos, sete netos e uma bisneta. “Minha maior riqueza”, afirma Rita.
“E meu pai, que no começo ficou em choque, depois se orgulhava muito do meu marido e da família que construímos”, completa.
Welber Veschi Costa, um dos filhos do casal, hoje com 43 anos e também circense, se emociona ao falar dos pais. “O que meus pais têm é raro. Eles provaram que o amor de verdade existe e que vale a pena lutar por ele”, pontua.
Ele cresceu sob a lona do circo, entre apresentações, viagens e refeições em família. “Eu tomo café com meus pais todo dia. A gente está junto o tempo inteiro, e isso só é possível porque existe muito amor”, destaca.
Ele lembra com carinho de quando foi reconhecido em General Salgado, já adulto, como o “Homem-Aranha do circo”, personagem que interpretava nas apresentações.
“Um amigo do meu avô me parou no banco e disse que, no passado, tinha criticado muito meu avô por aceitar o relacionamento da minha mãe com um circense. Mas depois reconheceu que estava errado, porque o amor dos dois era verdadeiro. Ele disse: ‘A Rita está com o Tony até hoje. Isso é raro demais’. Eu nunca esqueci disso”, conta Welber.
Hoje, grande parte da família continua envolvida com o circo, mantendo viva a tradição. Rita e Tony, inclusive, seguem vivendo esse estilo de vida itinerante, percorrendo cidades e montando espetáculos. “A gente continua nessa profissão viajando, conhecendo cidades. E nessas andanças encontramos muitos amigos, é o que a gente ama”, diz Tony.
Ao relembrar toda a trajetória, os dois não hesitam em viver tudo novamente, se necessário. “Sem dúvida nenhuma. Eu faria tudo igual”, diz Rita. Tony completa:
“Eu acredito que a gente nasceu um pro outro. Se tivesse que escolher de novo, escolheria ela, sempre”, conclui.
O casal já morou em trailars e motorhome e, mesmo após adquirir uma casa em Limeira (SP), optam pela vida itinerante.
Arquivo pessoal
Welber trabalha no circo desde a juventude e é conhecido pelo seu papel de Homem-Aranha.
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Com quase 50 anos de casado, Tony e Rita continuam ativos nas apresentações do circo.
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* Colaborou sob supervisão de Gabriela Almeida
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