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Colecionador de ossos, diretor de ‘O Senhor dos Anéis’ financia projeto para reviver ave extinta da Nova Zelândia


Peter Jackson investe R$ 80 milhões em biotecnologia para ressuscitar espécie gigante de ave extinta; cientistas divididos sobre viabilidade e riscos O cineasta Peter Jackson, à esquerda, e o CEO da Colossal, Ben Lamm, seguram ossos da coleção de moas extintas de Jackson em Wellington.

Cortesia da Colossal Biosciences via AP

O diretor de cinema Peter Jackson, conhecido por transformar a Nova Zelândia em Terra-média nos filmes de “O Senhor dos Anéis”, tem outro fascínio ligado ao país: as moas, aves gigantes e extintas que chegaram a medir até 3,6 metros de altura.

Ele possui uma das maiores coleções particulares de ossos da espécie — cerca de 400 peças — e agora está ajudando a financiar um projeto ambicioso para trazê-las de volta à vida.

“O cinema é meu trabalho diário, e as moas são minha diversão”, disse Jackson. “Todo aluno da Nova Zelândia é fascinado pelas moas.”

Jackson e sua parceira, Fran Walsh, investiram R$ 80 milhões (US$ 15 milhões) em uma iniciativa liderada pela empresa americana Colossal Biosciences, que quer usar engenharia genética para recriar um animal semelhante à moa. A ideia é alterar geneticamente aves vivas — como emus e tinamus — para que adquiram características físicas e comportamentais da espécie extinta.

A parceria, anunciada nesta terça-feira (8), inclui também o Centro de Pesquisa Ngāi Tahu, ligado à Universidade de Canterbury, que representa o povo maori e ajudará a guiar a parte cultural e arqueológica do projeto.

Uma representação da maior espécie de moa, a moa gigante da Ilha Sul, que já chegou a atingir 3,6 metros de altura

(Cortesia da Colossal Biosciences via AP)

Paixão que virou ciência

O interesse de Jackson pelas moas não é recente. Segundo o curador do Museu de Canterbury, Paul Scofield, o diretor começou a colaborar com especialistas após anos acumulando fósseis em terras privadas, onde a atividade é permitida na Nova Zelândia. Ele também apresentou a Colossal a arqueólogos locais com quem havia trabalhado, incluindo Kyle Davis, do povo Ngāi Tahu, que estuda ossos de moa e arte rupestre ancestral.

O primeiro passo da empresa será identificar amostras fósseis com DNA preservado. As sequências genéticas serão comparadas às de aves atuais para entender o que tornava a moa única.

A cientista-chefe da Colossal, Beth Shapiro, explica que o objetivo não é clonar a ave, mas editar genes de espécies próximas para que se aproximem morfologicamente da original.

A empresa segue estratégia semelhante à que usou em outro projeto controverso: o “ressurgimento” do lobo pré-histórico, a partir de células de lobos-cinzentos alteradas com a técnica de edição genética CRISPR. O resultado foi o nascimento de filhotes com características dos lobos-extintos, como pelos longos e mandíbulas robustas.

Mas reviver aves apresenta obstáculos maiores: os embriões se desenvolvem dentro dos ovos, e não em barrigas de aluguel, como no caso dos mamíferos.

“Há muitos obstáculos científicos diferentes que precisam ser superados com qualquer espécie que escolhermos como candidata à desextinção”, disse Shapiro. “Estamos nos estágios iniciais.”

Críticas e dúvidas sobre o projeto

Embora o projeto tenha apoio local e cultural, a comunidade científica está dividida. O ecologista Stuart Pimm, da Universidade Duke, não envolvido na pesquisa, alerta para riscos ecológicos e logísticos.

“É possível devolver uma espécie à natureza depois de exterminá-la?”, questiona. “Acho extremamente improvável que consigam fazer isso de forma significativa. Este será um animal extremamente perigoso.”

Além dos desafios técnicos, há críticas éticas. Especialistas temem que projetos de “desextinção” tirem o foco da conservação de espécies ameaçadas atualmente. A Nova Zelândia, por exemplo, ainda enfrenta a perda de biodiversidade em razão de espécies invasoras e destruição de habitats.

Mesmo assim, o projeto com as moas tem despertado interesse popular e acadêmico no país. O arqueólogo maori Kyle Davis afirmou que o trabalho com Jackson e a Colossal “revigorou o interesse em examinar nossas próprias tradições e mitologia”. Em um dos sítios arqueológicos visitados por eles, em Pyramid Valley, há registros de arte rupestre retratando moas antes de sua extinção, há cerca de 600 anos, devido à caça excessiva pelos primeiros humanos na região.

Ressuscitar uma ave extinta pode parecer coisa de ficção científica — ou de um roteiro de Peter Jackson. Mas, ao que tudo indica, o cineasta está disposto a transformar mais um épico da Nova Zelândia em realidade.

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