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Estudo brasileiro cria método inédito que ajuda a evitar retorno da hanseníase com mais de 95% de acerto


Pesquisa realizada no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU) consegue prever falência no tratamento da doença dermatológica e venceu premiação internacional. Bruno Dornellas realizou a coordenação da pesquisa

Milton Santos/UFU

Uma pesquisa coordenada pelo médico e patologista Bruno Dornellas, do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU), desenvolveu um método capaz de prever, com mais de 95% de precisão, quando o tratamento da hanseníase pode falhar. A descoberta científica permite identificar precocemente os pacientes com risco de recaída, possibilitando um acompanhamento da doença mais eficaz.

O estudo chegou a ganhar um prêmio internacional e foi realizado com 80 pacientes que são atendidos no Centro de Referência Nacional em Hanseníase e Dermatologia Sanitária (Credesh).

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O projeto teve início na atuação do médico como patologista, quando recebia amostras de pele e nervos colhidos no Credesh. Dornellas já tinha estudado a doença e se aproximou mais, trabalhando com a prática dentro do laboratório.

O que mais incentivou o pesquisador a se dedicar à pesquisa, foram os colegas de trabalho e a afinidade com os estudos sobre a doença. A partir disso, Bruno e o grupo de pesquisa observaram casos de pessoas com a doença e outras que não a possuem, além de monitorarem prontuários médicos e bancos de dados nacionais.

No início, o foco era entender o que levava à morte de pacientes que já haviam passado por todos os tratamentos indicados, especialmente a poliquimioterapia, que é recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

🔍 Poliquimioterapia é um tratamento no qual o paciente usa uma série de medicações para o tratamento da doença hanseníase. Segundo o Ministério da Saúde, o tratamento medicamentoso é realizado com a associação de três antimicrobianos: rifampicina, dapsona e clofazimina.

Professor Bruno Dornellas no HC-UFU

Milton Santos/UFU

Pesquisa monitorou 80 pacientes

Na prática, o estudo envolveu 80 pacientes, sendo 40 casos que realizaram o tratamento e outros 40 pacientes sem sinais da doença, que foram monitorados durante a pesquisa.

A pesquisa conseguiu prever a falência do tratamento da doença com 95% de precisão usando marcadores de pele, análise de moléculas e exames de sangue. Com a metodologia, foi possível identificar precocemente se o paciente pode retornar a ter a doença no risco de falência terapêutica, facilitando a intervenção precoce no tratamento.

Dornellas comentou ao g1 que um dos principais desafios foi a falta de critérios objetivos para a cura clínica definitiva da hanseníase. Além disso, a pandemia também foi obstáculo para chegar aos resultados.

"A pandemia de Covid-19 foi o maior obstáculo, obrigando-nos ao isolamento social e fechamento dos laboratórios. Levamos mais de cinco anos para a produção do artigo'", disse o médico.

A hanseníase afeta mais de 200 mil pessoas por ano no mundo. Na região do Triângulo Mineiro, a média anual é de 17 mil consultas, sendo aproximadamente 322 procedimentos entre curativos e drenagens em hanseníase.

O estudo desenvolvido pelos cientistas do HC-UFU pode ser decisivo para reduzir recaídas e minimizar os danos provocados pela doença.

Premiação Internacional

O estudo contou com orientação da dermatologista Isabela Maria Bernardes Goulart para a produção do artigo. A pesquisa ganhou o prêmio Clarke, Jr. and Elaine F. Stout Award, concedido pela United States and Canadian Academy of Pathology (Academia de Patologia dos Estados Unidos e do Canadá). A premiação ocorreu na categoria de melhor artigo cientifico publicado em inglês, sobre hanseníase.

Para Dornellas, mais do que uma realização pessoal e profissional, a premiação representa um avanço significativo para a ciência nacional.

É uma grande honra ter este trabalho reconhecido por uma instituição tão prestigiada. Isso coloca a produção científica brasileira em patologia no patamar de qualidade internacional. E, finalmente, motiva-nos a produzindo ciência'", celebrou o patologista.

Médico recebeu premiação como melhor artigo cientifico em inglês

Divulgação

O que é a hanseníase

Causada pela bactéria Mycobacterium leprae, a hanseníase é uma doença infecciosa que afeta os nervos e a pele. Além disso, é caracterizada pela diminuição da sensibilidade térmica, principalmente nas mãos, braços, pés, pernas e olhos, causando perda de força muscular.

A hanseníase é uma das 20 enfermidades tropicais que a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera negligenciadas.

Dados da OMS mostram que quase 216.000 casos foram detectados em todo o mundo, em particular no Brasil e na Índia, só em 2022. No Brasil, são 28 mil casos por ano, segundo o Ministério da Saúde. Veja a seguir as principais características da doença:

A doença é causada pelo bacilo 'Mycobacterium leprae'

É transmissível: ataca a pele e os nervos periféricos, com sequelas potencialmente graves

Pode ficar incubada no organismo por até 20 anos

Demora no diagnóstico faz com que o paciente continue infectando pessoas próximas

Sintomas: manchas brancas ou avermelhadas pelo corpo, sensação de dormência e perda da sensibilidade na pele

*Estagiário sob supervisão de Caroline Aleixo.

O que é a hanseníase e os números altos de contágio no Brasil.

Arte/G1

A hanseníase é uma das doenças que podem debilitar as pessoas afetadas para o resto da vida

Getty Images via BBC

Janeiro é marca o mês de conscientização da Hanseníase

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