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Milho com defesa natural: estudo da USP usa bactérias para combater lagarta e reduzir agrotóxicos


Bioinsumo promove o desenvolvimento da planta e a defesa contra a lagarta-de-cartucho, principal praga do cultivo do grão, afirmou pesquisadora. Campo de milho perto de Akron, Iowa, nos EUA em 28 de outubro de 2017

REUTERS/Lucas Jackson/File Photo

Um estudo realizado por pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), de Piracicaba (SP), utiliza bactérias para conter o avanço da lagarta-de-cartucho, uma das principais pragas do milho, e diminuir o uso de agrotóxicos.

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A pesquisa de mestrado e doutorado resultou em um bioinsumo que, em alguns anos, estará disponível para aplicação nas lavouras, informou Diandra Achre, engenheira agrônoma e responsável pela pesquisa (saiba mais abaixo).

Como funciona

A planta do milho recebe bactérias que fazem parte da microbiota da lagarta-de-cartucho.

Quando essas bactérias são aplicadas na planta, elas mudam de função: o que antes ajudava o inseto, agora ajuda o milho. Elas fazem a planta crescer melhor e ficar mais resistente a pragas e doenças. É como se o milho, com a ajuda das bactérias, ‘aprendesse’ a se proteger ao identificar sinais associados ao seu inimigo.

"De uma forma bem simples, fazemos a transferência dessa bactéria para a planta e ela começa a ativar a resposta de defesa e, quando a lagarta chega, ela se alimenta daquela planta e morre [...] leva uma mortalidade de até 100% das suas larvas”, afirma a pesquisadora.

Explicação de como funciona o bioinsumo que ajuda planta do milho a combater lagarta-de-cartucho

Diandra Achre

Menos agrotóxicos

A aplicação dessas bactérias é considerada um bioinsumo - produto de origem biológica para melhorar o cultivo de plantas ou criação de animais.

O bioinsumo contribui para uma agricultura mais sustentável do ponto de vista ecológico e financeiro, pois permite a redução do uso de agrotóxicos e agroquímicos.

Organofosforados, carbamatos e piretroides são os agrotóxicos mais utilizados nas lavouras de milho que teriam o uso reduzido, conta a pesquisadora.

“Não só uma questão da redução [de agrotóxico], mas uma questão da diminuição da aplicação dele. Diminui o número de aplicações que você faz, vai reduzir o custo de aplicação, seja de combustível, de água, de tudo. Então, reduz os agrotóxicos, os agroquímicos e vai reduzir também o número de aplicações”, afirma Diandra.

Pulverização aérea de agrotóxicos

Agência Brasil

Início da pesquisa

Tudo começou com a vontade de Diandra Achre em entender o papel dos microrganismos presentes nos insetos, em especial na lagarta-de-cartucho.

"Existem microrganismos no nosso corpo. Eles têm importância para nós. Para os insetos não é diferente. Os insetos têm os seus microrganismos, ele tem a sua microbiota, ele tem o seu ecossistema. Buscamos entender a função desses microrganismos para o inseto, mas de uma visão, agora, da interação desse inseto com a planta, porque há muitos insetos que se alimentam de plantas”, conta a pesquisadora.

Para isso, ela teve apoio de pesquisadores e de outros departamentos da universidade. O trabalho uniu forças nas áreas de Microbiologia, Entomologia (estudo de insetos), Genética e Fisiologia Vegetal.

O entendimento desse processo rendeu o mestrado e o doutorado da pesquisadora, mas não só: virou produto.

Área arborizada no campus da Esalq, em Piracicaba

Carlos Alberto Coutinho

Desenvolvimento do produto

Diandra teve o incentivo financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, a Fapesp, para abrir uma agtech, startup ligada ao agronegócio, especializada em desenvolvimento desse e de outros bioinsumos.

Ela conta que o bioinsumo contra a lagarta-de-cartucho estará no mercado em questão de alguns anos. Segundo a pesquisadora, a startup tem trabalhado para finalizar a formulação do produto em si e feito estudos de escalonamento industrial e viabilidade econômica.

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