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Pressão baixa, falta de ar, fadiga: pesquisa revela impacto do calor extremo na saúde de gestantes em Teresina


Teresina foi a única cidade das Américas escolhida pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA/ONU) para participar do estudo. Impacto do calor extremo na saúde de gestantes e no desenvolvimento dos bebês

André Furtado

Foram divulgados os resultados de uma pesquisa inédita sobre o impacto do calor extremo na saúde de gestantes e no desenvolvimento dos bebês. Teresina foi a única cidade das Américas escolhida pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA/ONU) para participar do estudo.

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A pesquisa envolveu 411 mulheres atendidas em 75 unidades básicas de saúde (UBS) da capital. O diagnóstico será utilizado para nortear políticas públicas municipais, incluindo a criação de um “protocolo de calor” para gestantes.

A pesquisa aponta uma forte relação entre o calor extremo e o bem-estar físico e emocional das grávidas, além de evidenciar desigualdades socioeconômicas e uma “injustiça climática”.

Perfil da gestante na amostra

Através das perguntas realizadas no estudo, foi possível construir o perfil da gestante da amostra representativa como:

Uma mulher jovem, com a idade média de 27 anos, parda ou preta, no seu terceiro trimestre de gravidez (não gemelar - gêmeos), sem apresentar problemas de saúde pré-existentes, que permanece parte do seu dia no ambiente doméstico e sem trabalhar de forma remunerada, que frequentemente sente desconfortos relacionados ao calor (que classifica como uma intensidade alta ou extremamente alta) e que se locomove majoritariamente a pé ou de moto no seu dia a dia e para as consultas nas UBS.

A pesquisa também apresenta resultados em que gestantes em contextos similares têm alta probabilidade de complicações como partos prematuros e situações de natimortos (quando o feto morre dentro do útero ou durante o parto, após 23 semanas de gestação), devido à exposição prolongada a altas temperaturas, uma vez que o calor afeta diretamente o fluxo sanguíneo fetal.

No contexto de Teresina, o fato de 28% das gestantes relatarem maior agitação dos bebês reforça a necessidade de monitoramento mais amplo para entender os efeitos indiretos do calor no desenvolvimento fetal.

Principais resultados

Entre as 411 mulheres que participaram da pesquisa:

🤰🏾 Mais de 88% sentem impacto na sua saúde física durante a gravidez devido ao calor;

☀️ Um total de 93% disse ter piorado o cansaço e 57% dificuldade para respirar;

🩺 25% indicaram que o calor afetou a pressão arterial, além disso, sentiram o bebê menos ativo;

😷 87% das gestantes não receberam orientações médicas ou não consultaram um profissional para manejar o calor durante a gravidez;

🚺 29% das mulheres tiveram algum sintoma relacionado a infecções bacterianas como infecção urinária/candidíase durante a gravidez. Dentre essas gestantes, mais de 75% afirmou que isso teve relação com o calor;

🚰 As medidas para proteção visando minimizar o calor tem como destaque mais água (97%), banhos frequentes (91%) e uso de ventilador (85%). O uso do chapéu teve a menor proporção (4%);

☂️ Ao responder qual ambiente climatizado, o shopping (27,4%), a casa (26,7%) e o trabalho (17,8%) foram os locais mais falados.

A pesquisa também observa que as medidas mais utilizadas para se proteger do calor são as que exigem menos recursos financeiros, como beber água, tomar mais banho e evitar o sol. Isso demostra, segundo os dados, uma condição de pobreza energética, desigualdade econômica e injustiça climática no acesso a medidas de adaptação a temperaturas extremas.

O estudo

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O estudo, elaborado pela Agenda Teresina 2030, venceu um desafio internacional que contou com 261 cidades de 30 países, e busca avaliar diretamente como as altas temperaturas afetam a saúde física e mental de mulheres grávidas.

O objetivo principal foi avaliar como o calor extremo afeta a saúde das gestantes, a pressão arterial – uma das principais causas de mortalidade materna no Brasil – e o desenvolvimento dos bebês. Além disso, busca compreender o impacto do calor na saúde mental das mulheres.

A entidade explica que a pesquisa é inovadora porque, diferentemente de estudos anteriores baseados em prontuários médicos, ela se deu em campo, com a coleta de dados diretamente de gestantes atendidas na rede pública de saúde.

Os pesquisadores aplicaram questionários em Unidades Básicas de Saúde (UBS) e acompanharam a dinâmica do pré-natal durante o Dia da Gestante, promovido mensalmente nas UBS de Teresina.

A oficial de gênero, raça e etnia do UNFPA, Luana Silva, explicou a importância da iniciativa.

"Teresina foi a única cidade escolhida nas Américas porque estamos realizando um estudo para analisar o impacto do calor extremo. Muitas vezes, quando pensamos em mudanças climáticas, associamos a inundações ou tsunamis, mas, em Teresina, especificamente, a gente tem que pensar nos cânceres de pele e na saúde mental das pessoas. A principal causa de mortalidade materna no Brasil é a pressão arterial, e o calor tem impacto nisso. Nosso objetivo é garantir que ninguém seja deixado para trás. Apesar de as mudanças climáticas atingirem o mundo inteiro, elas impactam de forma diferente as pessoas mais vulneráveis", explicou.

Segundo Luana, os resultados já apontam diretrizes importantes. “Estamos encantados com os achados, que indicam o que pode ser transformado em políticas públicas. Não queremos que isso se limite a números; queremos transformar em ações concretas", concluiu.

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