Fugido de uma senzala, Anísio viveu até os 110 anos, trabalhou no Porto de Santos e se tornou símbolo de força, longevidade e resistência negra. Travessa no Centro de Santos recebe o nome do quilombola Anísio José da Costa.
Reprodução/Jornal A Tribuna/Prefeitura de Santos
A Travessa Comendador Netto, localizada no Centro de Santos, ganhou novo nome: Travessa Anísio José da Costa. A mudança foi sancionada pelo prefeito Rogério Santos (Republicanos), com base em um projeto de lei da vereadora Débora Camilo (PSOL). No domingo (13), moradores e autoridades participaram da troca simbólica da placa da via.
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A nova identificação foi oficializada pela Lei 4.543. A travessa, situada nos fundos do Museu Pelé, entre as ruas do Comércio e Tuyuti, agora conta com uma placa com a inscrição: “Travessa Anísio José da Costa – angolano, quilombola e trabalhador do Porto de Santos”.
Anteriormente, o local homenageava Comendador Netto, comerciante e construtor da região, dono de uma senzala com 217 escravizados e atuante no tráfico de africanos escravizados.
Quem foi Anísio José da Costa?
Anísio era angolano e, ainda escravizado, fugiu para o Quilombo do Jabaquara, em Santos, onde viveu até a abolição. Trabalhou como ensacador no Porto de Santos até os 108 anos e se tornou símbolo de força e longevidade.
Aos 90 anos, formou família e teve sete filhos até sua morte, aos 110 anos, em 1940, segundo reportagem de A Tribuna publicada em 25 de abril daquele ano.
Uma de suas filhas, Helena — carinhosamente chamada de “tia Lena” — completou 100 anos em março de 2025. Ela mora na mesma casa do pai, no Embaré.
Homenagem
Durante a cerimônia de troca da placa, foi feita uma homenagem à trajetória de Helena e da família. O evento contou com a presença de escritores da Quilombagem Literária e membros da Velha Guarda da escola de samba X-9, campeã do Carnaval de Santos em 2025.
A ação teve apoio da Coordenadoria de Promoção à Igualdade Racial e Étnica (Copire), do Conselho Municipal de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra (CMPDCNPIR) e da Secretaria da Mulher, Cidadania, Diversidade e Direitos Humanos (Semulher). Também participaram o projeto Quilombagem e escola: da memória à história pública e o Comitê Chaguinhas.
Reparação histórica
Segundo a vereadora Débora Camilo, a mudança representa uma reparação histórica. “Propomos a alteração do logradouro citado para homenagear um quilombola que veio escravizado para o Brasil e que aqui construiu sua família e uma história de resistência, apesar das injustiças praticadas contra ele e contra todo o povo preto”, afirmou.
Ela reforçou que Santos é um dos maiores símbolos de resistência do país. “Nada mais justo que aqueles que lutaram pela liberdade e resistiram a todas essas violências sejam homenageados, para que nunca se esqueça e nunca mais aconteça”, disse.