Em uma sequência vertiginosa de movimentos, os países mais ricos do mundo anunciaram decisões que afetam a economia de todo o planeta. Trump volta a taxar produtos chineses e pausa cobrança de outros países
As últimas 24 horas vão ocupar páginas nos livros da história do século 21. Em uma sequência vertiginosa de movimentos, os países mais ricos do mundo anunciaram decisões que afetam a economia de todo o planeta. As medidas adotadas pela China, pela União Europeia e pelos Estados Unidos estão na reportagem dos correspondentes Felipe Santana e Ilze Scamparini.
Em um jantar de gala para seus partidários na terça-feira (8) à noite, Donald Trump deixou claro o que espera. Disse que está sendo bajulado pelos países aos quais impôs tarifas:
"Esses países estão nos ligando e beijando meu traseiro. Eles estão morrendo para fechar negócio. ‘Por favor, por favor, senhor, feche um negócio. Eu faço qualquer coisa. Eu faço qualquer coisa, senhor’".
Mas tem um país que mostrou que não está disposto a se curvar: a segunda maior economia do mundo. A China anunciou que vai lutar essa batalha até o fim. O Ministério do Comércio chinês divulgou um comunicado em que diz que as ameaças americanas de aumentar tarifas são um erro sobre o outro e que expõem a natureza chantagista dos Estados Unidos. E depois anunciou que responderia com tarifas de 84% sobre todos os produtos americanos.
Exportação de serviços, que rende aos EUA mais de US$ 1 trilhão por ano, pode ser alvo de retaliações de outros países ao tarifaço
Europa retalia
A União Europeia também se mostrou disposta a exercitar o poder.
Só a Hungria, pedra no caminho da União Europeia, votou contra. Às 15h, em Bruxelas, 10h em Brasília, a Comissão Europeia anunciou a decisão. Os outros 26 países aprovaram as retaliações a Donald Trump. As sobretaxas em itens americanos totalizam 21 bilhões de euros, o que dá uma tarifa média de 25% para produtos importantes da cultura e da economia americana - como motocicletas, calças jeans, iates, cevada, soja e milho, diamantes. Até os famosos peru de Natal e a manteiga de amendoim americana serão taxados. Muitos desses itens são produzidos em estados governados pelo Partido Republicano, de Donald Trump.
O pacote anunciado nesta quarta-feira (9) é uma resposta específica à taxação que Trump impôs a aço e alumínio europeus em 12 de março. A União Europeia ainda está avaliando como responder às tarifas de 25% sobre automóveis, e à tarifa mais ampla, que recai sobre quase todos os produtos europeus exportados para os Estados Unidos.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, se mostrou aberta ao comércio e ao investimento dos Estados Unidos:
"Vamos negociar, não aumentar as tensões, para manter as cadeias de suprimentos entre nós fluidas e fortes”.
A União Europeia ressaltou que todas as tarifas impostas pelo bloco podem ser suspensas a qualquer momento se o governo americano aceitar uma negociação justa e equilibrada.
Trump recua
Donald Trump
Jornal Nacional/ Reprodução
Essa resposta moderada da União Europeia parece ter poupado os países que compõem o bloco, porque na tarde desta quarta-feira (9) Donald Trump usou sua rede social para fazer dois anúncios importantes.
O primeiro deles foi uma resposta rápida à China. Trump anunciou o aumento das tarifas sobre os produtos chineses de 104% para 125%. Alegou que a China não respeita os mercados globais e que em algum momento vai se dar conta que roubar os Estados Unidos e outros países não é mais sustentável ou aceitável. O secretário do Tesouro americano disse logo depois que era uma resposta à insistência chinesa em escalar a situação.
Na mesma publicação, outro anúncio: uma pausa de 90 dias sobre tarifas extras cobradas de outros países. Durante esses 90 dias, todos terão que continuar pagando a tarifa-base de 10%. No anúncio, Trump afirmou que mais de 75 países procuraram o governo americano para negociar. O secretário do Tesouro disse que Trump quer usar esses três meses para se engajar em conversas específicas, caso a caso, e que a negociação era o principal motivo desde o começo.
Minutos depois desse anúncio, o principal índice da Bolsa de Valores americana, que vinha em queda acelerada, subiu 7%. Mas ainda não recuperou níveis anteriores ao anúncio das tarifas.
Continuam em vigor tarifas adicionadas ao aço e ao alumínio de todo o mundo – inclusive o Brasil – e aos carros importados – o que afeta, principalmente, Canadá e México.
A economista Ann Harley, da Universidade de Berkeley, disse ao Jornal Nacional que colocar tarifas para depois retirá-las é uma técnica para conseguir concessões. Uma tática para pressionar os países a aceitarem o que Trump quer. Mas que traz incerteza, que é ruim para o mercado, consumidores e investidores.
Trump eleva impostos sobre produtos chineses de 104% para 125% e suspende, por 3 meses, tributação extra a outros países
Jornal Nacional/ Reprodução
Trump disse, depois do dia caótico, que pausou as tarifas porque as pessoas estavam ficando afobadas e medrosas, e afirmou que até a China quer chegar em um acordo, só não sabe como.
Depois, no Salão Oval, a correspondente Raquel Krahenbuhl perguntou se Trump considerou falar com o presidente chinês. Trump disse que gosta do presidente da China, Xi Jinping, mas que os chineses não tratam bem os Estados Unidos. Trump afirmou que haverá bons negócios para todos, principalmente para quem tratá-lo da forma como deixou claro na terça-feira (8) que espera ser tratado.
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